Horus subia a grande inclinação na floresta em direção ao norte, para onde era atraído. Amanhecia e as sombras começavam a se formar com maior nitidez no solo cinzento. Seguia o chamado das vibrações realizadas pela névoa que envolvia o Elo dos Mundos e ressoavam em harmonia com seu corpo.
A atmosfera estava mais clara e não chovia, podia ser visto com maior perfeição em meio aos troncos. Suas vestes foram trocadas no caminho, retiradas de um antigo esconderijo nas proximidades de onde ocorrera a batalha.
No torso, passando pelas costas, usava uma faixa de tecido resistente que funcionava como um suporte para o cajado ou, se necessário, uma espada. Seguia pelo peito, passando sobre o ombro direito e voltava às costas, preso na cintura.
A capa, acima do manto, possuía um capuz cinzento e azulado que, no momento, se encontrava abaixado. Ela o envolvia até o meio das costas, circulava em volta de seus ombros e torso e, por baixo, passava a longa trança. O manto caía-lhe até quase o tornozelo e era aberto, como um sobretudo, da cintura para baixo, similar a uma ponta de flecha.
Vestia uma calça de algodão bege acinzentada e já desbotada. Elas se enfiavam por dentro de suas velhas botas marrons escuras, que lhe subiam até quase os joelhos. Na cintura, uma faixa de tecido marrom e uma corda cinzenta lhe serviam como cinto e suporte para portar uma adaga ou facas. Duas bolsas pequenas e quase imperceptíveis, também do mesmo tecido, porém esverdeadas, pendiam dali.
As folhas úmidas e amareladas, sob seus pés, pareciam prendê-lo ao chão, como se a floresta não lhe permitisse sair de onde estivera por tantos anos.
O vento intenso batendo em suas vestes e em seu rosto, o fez refletir e mergulhar em pensamentos. A sensação física e tátil, algo tão mortal e natural. A água e o sopro da brisa, sentir o frio e ouvir todos aqueles sons e a bela música proveniente deles. Olhar o clarão dos raios e ver o mundo mais uma vez. Tudo aquilo o fez se sentir vivo e percebeu o quanto perdera em se isolar por tanto tempo.
O céu clareava e as nuvens desapareciam, enquanto os raios de sol batiam em seu rosto.
Uma clareira abria-se numa vegetação baixa e as árvores se tornavam mais escassas e distantes no limite da floresta. No horizonte enevoado, várias montanhas com seus enormes picos cheios de neve eram banhadas pelo brilho prateado daquela manhã.
A vasta planície estendia-se a nordeste. Além do limite da visão, elevações que antigamente separavam os reinos do norte e do sul, aguardavam-no.
Espero que o tempo em que permaneci aqui não tenha sido tão longo quanto imagino. Será que ainda encontrarei o porto em atividade? Será que a cidade ainda existe? Preciso saber o que é isto que tanto me chama e me força a continuar seguindo o rastro de Ondrem... Devo zarpar para além mar!
Uma borboleta azul dançava à sua frente e o guiava para uma antiga estrada com um moinho abandonado.
Um cervo caminhava no interior do bosque. Sob o gorjeio dos pássaros, movia-se com delicadeza. Horus sorriu satisfeito ao ver que algumas criaturas começavam a retornar à região onde a floresta perecera no passado distante.
Inesperado calafrio percorreu sua coluna. Seu corpo vibrou respondendo a alguma interferência. Avançando próximo à velha estrada, podia avistar um vilarejo. Não se lembrava dele da última vez que caminhara por ali. Tentado pela curiosidade, decidiu estudar o que se passava.
Sentia clamar sobre a terra uma aura perturbadora. Ruínas de antigos templos se encontravam em seu curso e uma sombra movia-se no interior de um deles.
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Faces / Caius Augustus
FantastikResumo: Horus tem incontáveis anos de experiências provenientes de uma existência infinita perante os olhos dos que são ligados à vida e a morte. A ele, segredos e descobertas foram deixados juntamente com a sabedoria de civilizações esquecidas. N...