Uma aura púrpura irradiava do interior da arma que prendia Dhih ao tronco. Ondrem mordiscava o âmbar e se fortalecia, levantava o braço na tentativa de tocar os pés do ancião.
– Devo sair daqui! Estou impossibilitado de tocar a arma do Grande Manto, porém, pelo dom que lhe foi confiado, você pode.
Horus sentiu a lâmina tremular em resposta à sua presença. Era como se o chamasse para ser empunhada. Avançou com passos apertados. Teria de se apoiar para removê-la.
Antes de compreender o que o acertara, foi atirado ao chão. Virando-se de uma vez, Ondrem se jogara contra Horus. Ele berrou, histérico, deslocando uma massa de ar e causando um tremor que abalou o terreno, fazendo-o ter dificuldade em se levantar.
Tal como uma Umbra, ele o atacou. No entanto, era dezenas de vezes mais agressivo e estupidamente forte. Tentava desferir mordidas, dava socos e o arranhava, onde alcançava.
Defendendo-se bravamente, arrastava e girava o corpo, se esquivando, porém, o oponente não lhe dava tempo de mover as mãos em contra-ataque ou para empurrá-lo dali.
De onde veio toda esta energia?
Emitindo outro grito histérico, ambos os punhos de Ondrem se juntaram no alto e desceram numa pancada pesada da qual se esquivou, jogando a cabeça e ombros de lado. O golpe afundou o solo fazendo-o tremer num baque abafado, levantando um amontoado de cinzas que encheu seu ouvido e olho direito de poeira.
Aproveitando-se, contra-atacou de pronto. Conseguindo materializar a adaga, cravou-a na cabeça do agressor. A matéria da lâmina se distorceu e não causou efeito algum, assim como ocorrera à grande serpente do lago.
Ondrem voltou a atacá-lo em uma sequência frenética de socos. Passando a perna entre os dois, Horus chutou-o na barriga e o arremessou para a base da Árvore, ao lado de Dhih. Ele contorceu-se no ar e caiu agachado sobre as pernas flexionadas.
A voz reapareceu em sua mente:
– Devido à adaga coexistir com a matéria escura da qual Ondrem saiu, o efeito sobre ele é nulo... Mas há mistérios que desconheço... Use a lâmina da arma que me prende!
Antes que Horus se recompusesse, Ondrem impulsionou-se e saltou.
Ambos rolaram no piso com uma força tremenda. Forçado pelo primeiro giro e quase quebrando a coluna de Horus, o suporte do cajado, já desfiado, se arrebentou e ele caiu. O arco girou batendo nas costelas, porém a flecha não se materializou.
Em um amontoado de braçadas e na força do movimento, Horus conseguiu desferir outro chute forte ao centro do torso do oponente e o arremessou a uma distância considerável.
Desta vez, Ondrem caiu rolando, se esfolando e se ensopando no líquido negro que escorria da parede próxima. Esta, por sua vez, tremulava mais próxima da Árvore do que imaginara. Suas partículas tentavam se mover em direção ao Caldeirão e pequenas ondas e distorções se projetavam do interior para onde se encontravam.
A enorme muralha de energia negra estremeceu e pareceu gritar. Emanou forte vibração grave e se contorceu. Centenas de partículas vazaram da estrutura e o líquido negro escorreu como uma cascata.
Ondrem procurou se levantar, mas o fluido escuro era pegajoso e o prendia. Finos braços líquidos, como os tentáculos dos vermes de massa pastosa, saíram de dentro da parede, estourando em bolhas.
Horus se levantou abatido, tomado por grande fadiga, e observou a cena, espantado.
O líquido subia pelo corpo de Ondrem que tentava sair da gosma e esticava o braço como se pedisse ajuda, mostrava um semblante desesperado. Inesperadamente, uma enorme bolha negra, rodeada por filetes de aurora, inchou e estourou sobre Ondrem, junto com um emaranhado de partículas obscuras, que se aproximavam dele e tocavam seu corpo.
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Faces / Caius Augustus
FantasíaResumo: Horus tem incontáveis anos de experiências provenientes de uma existência infinita perante os olhos dos que são ligados à vida e a morte. A ele, segredos e descobertas foram deixados juntamente com a sabedoria de civilizações esquecidas. N...