Vidas _

Recortes de Memórias

A moldura da janela faz com que o jardim se torne um quadro em movimento, noto um pouco mais ao longe figuras presentes no meu dia-a-dia; meus filhos e aquele que reconheceria a qualquer distância, sorrio e torno recordar dos velhos tempos...

Olhar aquele rosto poderia durar o tempo que fosse que não me cansaria mas a vontade de colar meus lábios nos dele depois de tanto tempo chegava a ser insuportável, só não mais insuportável era a dúvida que ecoava em minha mente o porquê amá-lo tanto. Abandonava meus pensamentos e o beijava com o medo de que fosse o último.

Ele era totalmente o oposto de mim, sua personalidade era muito forte, ele era inteligente mas vivia fazendo papel de bobo, sabia ser cínico nos momentos certos, e também sabia o que queria por mais infantil que parecesse ser. Era forte e alto na medida certa, perfeitamente pra mim caber em seus braços fazendo com que nossos corpos se encaixassem direitinho e seu queixo se apoiasse em minha cabeça, seu cabelo loiro escuro sempre bagunçado, seus olhos pequenos castanhos misteriosos que sempre me encararam de forma a querer desvendar tudo o que eu guardava , seu sorriso era e ainda é a coisa que eu mais era apaixonada, sempre com o sorriso de canto e desviando o olhar do chão pra mim... era fácil ser convencida por ele, meu ponto fraco era ele, e seus beijos sempre os mais intensos.

Fora uma época muito difícil, cada um com seus vícios e depois os dois se tornando um do outro, brigas feias por motivos fúteis, mas também era cada beijo apaixonado, cada troca de carícias delirantemente doces, casa sorriso caloroso, cada troca de olhares e cada Abraço de tirar o fôlego de qualquer um que fatia com que as brigas se tornassem insignificantes, só ele me acalma, só ele sabia me fazer sorrir verdadeiramente...

Olhá-lo décadas depois me fazia conseguir entender que sempre tudo estivera escrito nas estrelas e ao mesmo tempo ter lembranças de uma vida juntos tendo nossos filhos, criando-os e sendo felizes dazendo o que sempre queríamos, eram as melhoras recordações que eu poderia ter em meus últimos suspiros, a vida por mais difícil que fora valeu a pena por simplesmente tê-lo conhecido e ter meus filhos.

Sentir a vida indo embora não me trazia medo mas sim tranquilidade e vê-lo com eles já crescidos no jardim de nossa casa era a melhor imagem que poderia levar dessa vida.

A última lágrima caiu de meu rosto, minha visão tornou-se embacada, meu coração ficou mais lento, não senti dor algum, agradeci por tudo que consegui em meus 78 anos já sentindo meus olhos se fecharem para sempre.