7

54 15 57
                                    

E os minutos viraram horas. Horas viraram dias. Dias, meses. Com exceção das tarefas que exigiam diariamente muito do conhecimento, nada mudava. Vez ou outra os Althons fardados surgiam com alguns novos Althons todos nus e completamente raspados se destacando tamanha limpeza perante os demais.

O refeitório era um enorme e arejado salão de paredes brancas, cujo centro habitava uma gigantesca mesa de banco acoplado e tampo revestido com fibras sintéticas. Pela regra criada entre os encarcerados, os novatos ficavam a cargo da limpeza de todo o local assim como o preparo da comida e só poderiam ser substituídos com a chegada da próxima leva de Althons.

— É o que tem para hoje, para amanhã e depois... — Um dos Althons passeava de prato em prato servindo o alimento. Sua voz foi diminuindo à altura que foi saindo de perto de 44305, chegando a desaparecer por completo, quando sentou-se no outro extremo da mesa onde começou a comer.

— Número 37288, o que você mais quer neste momento? — perguntou um dos Althons nus umedecendo os lábios e sorvendo uma espécie de purê de alguma coisa no momento da refeição.

— O que mais quero? Essa é fácil. Quero apreciar esta saborosa refeição com boas companhias. E quer companhia melhor que nós? — gargalhou sarcasticamente sendo acompanhado por outros.

— Quem aqui tem o pior universo? — instigou um dos Althons sentado à mesa — Será que alguém superará o 38924?

— Impossível. — disse a maioria.

Althon 44305 cutucou o parceiro ao lado perguntando sobre o universo do Althon 38924.

— É algo surreal e inimaginável. — iniciou ele baixo — Althon 38924, o senhor poderia contar para os novatos de onde veio?

Então um sujeito levantou-se da mesa. Era nítido que já havia perdido a lucidez. Porém, o que mais chamava a atenção, era a falta de seu braço direito. Ele começou a falar baixo. Uma voz triste que demonstrava medo. Althon 38924 percorria a extensa mesa sempre se aproximando de seus semelhantes e aumentando o tom de voz próximo a eles.

— Quando duas naves da missão Voyager foram lançadas ao espaço em 1977, as sondas estavam destinadas a viajar para sempre pelo espaço, indo muito além das fronteiras do nosso Sistema Solar. Então, tiveram a brilhante ideia de enviar a elas um disco de cobre banhado a ouro que compilava diversos sons da Terra.

— Conheço a história. É bem antiga. Mas o que isso significa? — questionou um dos Althons para o maneta.

— Fomos respondidos. — disse olhando no olho de seu semelhante. — E não tardou para que estes seres viessem até nós.

Para os que ouviam aquela história pela primeira vez, os olhos arregalaram. Para o que já conheciam o desfecho, arrepiaram-se.

— Eu estava analisando essas sondas em casa como um passatempo e, então, refazendo alguns cálculos e análises, percebi um erro. Elas mostravam que os sons que estavam sendo emitidos, na verdade, não estavam. Tudo foi reprogramado e, narcisista que somos, acrescentei um áudio com nosso nome. E, assim que tal problema foi corrigido, recebemos um sinal deles. E em muito, mas muito pouco tempo, eles chegaram. Quando aterrissaram, o planeta parou. Eram gigantescas naves de variadas formas. Então, os seres surgiram. Suas aparências eram surreais. Uns se assemelhavam como um lobo com cabeça de coruja e asas, outros parecia e muito crocodilos bípedes e, claro, aqueles que eram criaturas horrendas como se estivéssemos na mente de Dante Alighieri. O fato era que todos, sem exceção, eram imensos e amedrontadores. Foi um caos. Gritaria generalizada. Mas ninguém estava preparado para o que veio a seguir. Lá estava eu na plateia quando um deles começou a falar em um dialeto jamais ouvido. E incrivelmente nossos ouvidos assimilaram e começamos a entendê-los. A criatura foi breve, porém assustadora. Uma única frase foi profanada: — Quem é Althon Frossard? E foi a partir daquele momento que tudo se acabou.

PARALELOSOnde histórias criam vida. Descubra agora