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O sujeito abriu a escotilha apreensivo. Estava tonto. Os lábios, secos. Então, lá estava ele. Apesar da aparência de abandono, era seu laboratório. Um alívio surgiu imediatamente. Ajoelhou e chorou. Aquele podia tornar-se seu mundo. Por fim, foi até o estacionamento na esperança de encontrar um veículo, mas estava tudo vazio. Então, foi até o armário onde ficava guardados os equipamentos de proteção individual e vestiu uma roupa à prova de radioatividade. Chovia lá fora, mas Althon não se importava. Caminharia até sua residência.

Andou por algumas boas horas até se aproximar de sua residência. o crepúsculo predomina no céu. O coração acelerou. Sua casa, estava lá. Idêntica de quando a viu pela última vez. As luzes estavam acesas. Engatinhou até se aproximar da janela. Queria ver. Queria ouvir. Althon tentou olhar pela fresta da janela, mas as cortinas atrapalhavam seu campo de visão e, por descuido, tropeçou em um vaso de flor.

— Deve ser aquele gato de novo. — disse uma voz masculina de dentro da casa indo em direção ao barulho.

Althon até pensou em correr e se esconder, mas não fugiria desta vez. Sabia que estava maltrapilho e sujo. Também fedia. Ajeitou como pode seu cabelo enquanto aguardava. Então, não tardou para que a porta fosse aberta revelando um Althon com a aparência de uns 80 e poucos anos. Trajava um roupão de banho preto deixando amostra seu dorso levemente peludo com uma enorme cicatriz. Ambos se olharam. Nenhuma palavra foi dita por alguns segundos até aquele senhor de cabeleira e cavanhaque branco quebrasse o silêncio.

— Faz alguns meses que não aparecia outro. O que quer aqui?

— O que quero? Quero minha esposa. Quero minha casa. Minha vida. — então fitou o braço daquele senhor e viu um número escarificado. Por fim, olhou para o seu, que nada tinha. — Pelo visto este universo não é para mim, certo?

Ambos se olharam em silêncio. Aquele senhor respirou fundo e ajeitou seu cavanhaque. — Você chegou tarde.

— E ele chegou no momento certo. — disse uma senhora de cabelo curto e grisalho abraçando por de trás o Althon velho e beijando sua bochecha enrugada. Trajava um roupão vermelho e, pelos cabelos molhados, acabara de sair do banho.

— Margot? Você está...

— Velha? — sorriu. — O tempo passa para todos. Menos para você. Não mudou nada.

— Eu ia dizer viva. Você não está assustada com minha presença?

Althon idoso olhou para seu igual. — Quando descobri que a Margot estava procurando loucamente seu marido desaparecido, eu achei que deveria fazer aquilo que a muito tempo eu não tiver coragem de fazer. Então eu fui até ela, conversamos, as coisas aconteceram e, no fim, acabei contando para ela.

Aquela senhora corou e gargalhou baixo fazendo um som peculiar. Althon mais novo fechou os olhos por alguns instantes. Amava aquela risada. — Você é o terceiro Althon em menos de cinco meses. A maior quantidade em tão pouco tempo que já apareceu em anos.

— Eu estou cansado dessas viagens. Na maioria dos meus destinos você já está morta ou não existe. Parece que nosso destino sempre é um martírio. Mas vocês são a prova que pode existir felicidade. Antes de eu partir, posso descansar aqui? Não me entendam mal o que eu pedirei, mas eu gostaria de ver coisas suas, Margot. E, se possível, poderia me dar uma foto? — disse cabisbaixo e envergonhado.

— Temos um quarto disponível. — Margot apenas disse — Agora vamos entrar que o jantar está pronto e está frio aqui dentro. E você precisa tomar um banho urgente. — disse gargalhando e se abanando.

— Muito obrigado. Não sei como agradecer e, Althon? — disse estranhando ao dizer seu próprio nome — Por que este número 100 em seu braço?

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