O Primeiro Perigo

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Era só mais um dia de escola. Eu provavelmente sobreviveria a mais alguns, como as outras garotas de catorze anos fazem tão naturalmente. Peguei meu celular, meu fone e meu caderno, além de duas armas carregadas, como de costume, e fui pedalando até a escola que ficava longe o bastante para que chegasse suada e descabelada.

Eu não sou feia, definitivamente, apesar de também não ser bonita. No início, impressiono por causa do cabelo liso amarronzado e pelas sardas que cobrem parte de minhas bochechas, mas não tenho nada além disso. Eu devia me importar mais com o jeito que me visto ou que prendo meu cabelo (sempre bagunçado), mas não me importo.

Ao chegar no colégio, deparei-me com Naomi e Bren, meus únicos e melhores amigos. Naomi era loira, alta e esbelta, e Bren era forte e sorridente. Usava 0 cabelo curto e jogado para o lado, sempre bem cortado. Os dois eram impressionantemente mais bonitos que eu. Nós compartilhávamos todos os nossos segredos, ou mais ou menos isso, já que o meu pior segredo apenas meus pais sabiam.

Fomos juntos até a sala, onde nos sentamos um ao lado do outro. Durante a aula, permanecemos quietos e atentos, apesar de nenhum de nós sermos alunos exemplares. Tudo ia muito bem, até que, ao olhar pela janela, vi algumas cordas pretas penduras, como se viessem da cobertura. Era hora.

-TODOS PARA O CHÃO, AGORA!!!- gritei. Apesar do desespero estampado em meu rosto, ninguém se moveu. Sem pensar duas vezes, peguei minhas armas, dei dois tiros para o alto e gritei novamente: -EU DISSE A-G-O-R-A!

Todos se deitaram, inclusive o professor, que parara no meio de sua explicação sobre análise sintática. Peguei meu celular e deixei no viva voz, ligando para Matt, meu namorado de 16 anos que também guardava o mesmo segredo que eu. Aliás, ele era um dos meus segredos. Meus amigos nem suspeitavam que eu namorava ou sequer saía com alguém. Ele atendeu e, num tom calmo, disse:

-Oi, amor. Eu já sei, estou aqui em baixo.

-Boa hora para expor a minha vida. Está no viva voz, Matt. Sobe rápido-disse, enquanto atirava em homens de preto que desciam as cordas cujos rostos eu não conseguia identificar- daqui a pouco fico sem munição.

-Ok, amor. Opa, Lis- disse ele, usando a voz mais irônica o possível.

Menos de um minuto depois, Matt apareceu com seus cabelos pretos e longos e seus olhos verdes. Era lindo. Abriu a porta e me deu um beijo em frente à toda a turma, que olhou abismada. Enquanto me beijava percebi outro homem e atirei duas balas certeiras.

-Veio aqui pra me ajudar ou para eu te servir de escudo?- perguntei arrogante, como fazia normalmente.

-Desculpe. Você é tão você que ás vezes esqueço que precisa de ajuda- disse ele, atirando em outros homens que desciam. Eu não sabia o que estava por vir, mas já temia. E muito.

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