Um tanto rude porém doce

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P.o.v Mirella

A voz vinha da casa ao lado.

Eu morava em um confortável casarão em uma área afastada do centro urbano e agitado de Sydney. A construção era dividida em duas casas geminadas conectadas  por uma ampla sacada no segundo andar. Era uma bela varanda arejada com piso de mármore branco e paredes claras com vista para a reserva e a piscina. Com toda a mata ao redor de casa, era muito comum encontramos pequenos animais vagando por nosso deque vezes ou outras.
Aquela noite, eu estava deitada sob o meu cobertor azul preferido, lendo meu velho exemplar de O Pequeno Príncipe, quando ouvia uma voz agradável cantar uma música de letra contagiante e divertida:

"...Everyday it's the same love and games that you play. Back and forth, round and round, kinda like it this way..."

Eu coloquei um marcador entre as páginas que estava lendo e fechei meu livro, o deixando sobre a cama. Me levantei com rapidez, curiosa para seguir o som. Abri a grande porta de vidro do meu quarto e coloquei os pés descalços na pedra fria de mármore, sentindo meus dedos reclamarem pelo choque da mudança de temperatura. Olhei para céu encoberto de nuvens e girei os olhos ao perceber que iria chover. Eu destava chuva com todas as minhas forças. Peguei uma almofada que estava no chão e a joguei no sofá de bambu que tinha na sacada. Bati os dentes por conta do frio e caminhei até a porta de correr cor creme com vidros exatamente igual a do meu quarto que ficava na outra extremidade do espaço amplo. A voz se tornava mais alta à medida que eu me aproximava. Levantei o punho e bati na porta duas vezes. A música extinguiu-se no mesmo momento. Quem quer que estivesse cantando não queria ser incomodado. As cortinas brancas estavam fechadas e as luzes apagadas.

Ambas as casas pertenciam à mim a meu irmão mais novo. Eu morava em uma delas e há algum tempo tinha colocado a segunda à venda. Eu sabia que no dia anterior um rapaz da mesma idade que eu — 21 anos —
havia se mudado para lá, mas ainda não o conhecida. Pela lógica, a voz só podia pertencer a ele.

Eu corri de volta para meu quarto e procurei a papelada da venda da casa que estava em uma pasta vermelha, em uma das gavetas da minha cômoda. Em cima de todos os dados do comprador, prevalecia o nome do meu novo Vizinho:
Michael Gordon Clifford.
Guardei os papéis devolta na gaveta  e me deitei intrigada. Apaguei as luzes do meu abajur e me coloquei a pensar no que faria durante o final de semana. Acabei por adormecer em poucos minutos. Eu não era de ter sono fácil mas o cansaço me venceu rápido.

Uma música me acordou no meio da noite. Primeiro achei que estava apenas sonhando mas não demorou muito para perceber que era a mesma voz que ouvira mais cedo. Desbloqueei a tela do meu celular para espiar as horas. Era uma e meia da madrugada.

"...I remember the day you told me you were leaving. I remember the makeup running down your face. And the dreams you left behind you didn't need them. Like every single wish we ever made. I wish that I could wake up with amnesia. And forget about the stupid little things. Like the way it felt to fall asleep next to you. And the memories I never can escape. Cuz' I'm not fine at all..."

Lentamente e ainda um pouco tonta por conta do sono, me levantei e fui discretamente até a varanda. Um rapaz alto e esbelto, com a pele muito pálida e de engraçados porém charmosos cabelos verdes estava cantando com os braços apoiados na grade da varanda, olhando a lua.
Me sentei em um grande puffe de couro preto em frente à minha porta e fiquei apreciando o "concerto particular" por longos minutos.
O menino continuou a cantar sem notar minha presença por longos minutos mas um vento repentino me fez espirrar. Ele interrompeu sua cantoria e me olhou com uma expressão indecifrável.
"Mas que ótimo!" — pensei, — "primeira impressão que ele vai ter de mim é que sou bisbilhoteira."
Ele me encarou por um tempo, sem falar nada, me deixando ainda mais incomodada. Resolvi dizer algo para tentar acabar com aquele momento constrangedor:

As vantagens de ser seu Vizinho Michael Clifford EM EDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora