DIA

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I:

Ted acordou com um gosto ruim na boca. Era uma manhã de sexta-feira, um dos melhores dias da semana ao contrário de sua irmã a terrível quinta-feira. Ted não dormiu bem, teve pesadelos. Eram os mesmos sonhos de novo, aqueles no qual está tudo calmo e tranquilo e em um piscar de olhos o cenário muda por completo, ele se vê caindo em um buraco interminável. A cada segundo que ele cai tudo fica mais e mais escuro até que as trevas em certo ponto tomam conta dele por completo. Esses sonhos estavam cada vez mais frequentes e toda vez que sonhava com isso ele acabava acordando suado e logo depois perdendo totalmente a vontade de dormir. Mas hoje ele passou dos limites em relação a dormir, ele sabia que se dormisse demais iria acabar se atrasando para a tal festa. Embora nunca tivesse ido oficialmente em uma, Ted sempre teve curiosidade e vontade de ver se tudo o que os filmes e livros mostravam eram verdade. Pessoas bebendo até não poder andar mais, carros tombados dentro de piscinas, drogas e todo tipo pegação. Uma parte dele sabia que metade disso não era real, porém a outra tinha lá as suas dúvidas. O motivo dele nunca ter pisado em uma festa antes era porque a sua "condição" não permitia que ele fosse convidado para muitas. Então por conta disso ele começou a repudiá-las, mas ainda assim não recusaria caso fosse convidado para uma. E foi isso o que aconteceu a exatamente três dias atrás. Seu colega de classe e melhor amigo Jonas apareceu com uma oferta irrecusável de uma tal festa que ia rolar na região. Ted não se lembrava direito de quando ele aceitou ir, a sua cabeça falhava em questões básicas como memória. Embora ele amasse ficar em casa relaxando numa boa (era para isso que servia as férias) ainda sim era um convite de festa e ele não podia deixar essa oportunidade simplesmente passar. Então agora ele agora teria que ir para uma festa onde não conhece absolutamente ninguém e nem ao menos faz ideia de onde fica, mas isso logo viraria a menor de suas preocupações.

II:

Ele saiu de seu quarto e foi direito para o chuveiro, já tinha virado costume tomar um banho para tirar todo o aspecto cansado e exausto que dormir deixava. Durante o banho a cabeça dele ficava inundada de pensamentos, era uma fração de ideia que surgia a cada segundo. Uma coisa que ele lembrou virava outra que ele tinha pensado que dava continuação para outra ideia e assim ele acabava perdendo a noção do tempo. Em um desses devaneios ele acabou mirando na festa que rolar mais tarde e o que poderia acontecer nela. Tanto coisas ruins como boas, mas ele focou somente nas partes boas, sempre é bom pensar positivo. Ele pensou que talvez poderia conhecer alguém, alguma garota legal e bonita o suficiente para se começar algo novo ou até novos amigos, essa sempre foi a maior dificuldade para ele. Quando se deu conta de quanto tempo estava parado ali preso na própria cabeça, Ted desligou imediatamente o chuveiro fazendo o calor sumir e deixando entrar uma forte brisa gelada. Enquanto se secava ele brevemente olhou para o espelho e notou que o olho esquerdo já não estava mais tão roxo assim.

Logo depois de se secar ele se dirigiu para a cozinha preparar algo para comer, mas ele parou no caminho. No corredor ele viu sua velha caixa de música junto de seus CDs em cima de um móvel, provavelmente sua mãe a colocou ali e esqueceu. Atualmente ninguém mais escutava músicas a partir de CDs, era tudo digital, mas Ted gostava de ser "retro", não por ser diferente ou algo do tipo. Ele só achava que as coisas antigas tinham mais valor. No meio de tantas caixas de mudanças era difícil perceber o que estava em sua volta e ele quase tropeçou em um vaso peruano que sua mãe tinha comprado a uns anos atrás. Ele olhou ao redor para ver se alguém estava olhando mesmo sabendo que provavelmente estava sozinho em casa e colocou um CD dentro da velha caixa de música e deu play. Ele não reconheceu a música de instante, mas conforme ela foi tocando ele lembrou, a música em questão era I Want to Break Free do Queen, uma clássica que ele sempre escutava junto de seu pai. Ficar ouvindo aquilo no meio de um corredor cheio de caixas de mudanças era deprimente de certa forma, não por causa da música é claro, ela continuava tão boa quanto da primeira vez que ele ouviu. Porém a lembrança que ela trazia era um pouco triste se você quer saber. Já fazia tempo que ele não via mais o seu velho. Ted voltou a andar pela casa vazia enquanto seguia em direção da cozinha, ele não tinha percebido, mas seu corpo já estava se mexendo involuntariamente conforme a música continuava tocando.

Uma boa festa nunca acabaOnde histórias criam vida. Descubra agora