Uma boa festa nunca acaba

UMA FESTA DE ARROMBA

I:

Não se sabe se foi por conta do destino ou de alguma divindade sobrenatural ou por mera coincidência mas a casa que Jonas tinha descrito estava de fato ali, bem atrás dele. Uma casa grande e rustica (se é que podia chamar aquilo de rustica), feita de tijolos mas em grande parte de madeiras que já estavam velhas e sem cor, talvez com a intenção de parecer moderna de alguma forma ou talvez seja realmente apenas uma casa velha e esquecida. A grama tinha um tom amarelado forte. Isso se dava pela falta de cuidado com o jardim, o que antes podia ter sido um ótimo jardim da frente se tornou um cemitério de plantas. E os gnomos de jardim quebrados apenas enfatizavam o aspecto morto do terreno. A casa era relativamente grande, mas estava toda fechada. Tabuas fechavam as janelas tanto no primeiro andar como no segundo e nenhuma luz saía por elas, porém, entretanto a chaminé que ficava no centro da casa exalava fumaça. Faltavam algumas telhas vermelhas na parte de cima, o que fazia um padrão semelhante com o de um tabuleiro de xadrez. E para dar um toque final, a porta de entrada tinha tons fortes de amarelo que já descascavam pela velhice e pelo mofo acumulado ali. Aquela era a casa que provavelmente receberia o título de "casa mal-assombrada" por garotos durante uma noite de Halloween. Mas a questão do momento era que de fato aquela casa mal-assombrada realmente existia, e é a partir desse ponto da história que as coisas saem de controle.

Existe uma linha tênue no universo que molda o nosso destino assim que damos a nossa primeira respiração nesse mundo. As coisas são divididas entre o que vai acontecer, o que já aconteceu e o que está acontecendo. Tudo está programado para acontecer em uma exata ordem especifica sem quaisquer alterações. Tomamos por exemplo, uma situação em que você tem a opção de ficar mais tarde em uma festa ou ir embora mais cedo. Caso você chame um táxi e simplesmente vá embora mais cedo as coisas que aconteceriam caso você ficasse na festa nunca irão se realizar. E você até pode pensar que se ficasse na festa talvez as coisas seriam diferentes, talvez você conhecesse alguém que acabaria sendo o amor da sua vida ou algo do tipo, um pequeno detalhe que alteraria tudo. Mas não funciona assim. Você não ficaria na festa pois já foi decidido o que vai acontecer, você iria embora e não acharia o amor da sua vida. Você não tem o verdadeiro senso de escolha. sempre foi assim e sempre vai ser. Mas no peculiar caso de Ted, Jonas e Luísa a linha deles ficou incerta pela primeira vez. Pelo simples fato daquela casa estar ali, algo que não era pra estar. Ela era um erro de escrita em um livro já terminado.

Os três olhavam para aquela casa espalhafatosa incrédulos. Luísa tinha um semblante alegre pois finalmente iria ter alguma diversão essa noite. Jonas não conseguia tirar os olhos daquela casa que magicamente aparecera por ali e Ted no fundo continuava querendo ir embora. Um silencio estranho e perturbador permaneceu no ar. Se de fato aquela era a casa que estava acontecendo uma festa então onde estariam as pessoas, as músicas, onde estava a própria festa?

Os três continuaram quietos até Ted quebrar o silencio falando mais alto do que deveria naquela hora da noite. — A maldita casa esteve bem atrás de nós o tempo todo e você não falou nada — Disse ele se dirigindo a Jonas perplexo. — Tudo isso foi para fazer suspense?

Luísa que também estava ali concordou com Ted. — Você bem que podia ter dito isso antes seu bobão, nos pouparia de ficar dando voltas pelo quarteirão.

Mas Jonas não sabia que a tal casa realmente existia, a casa que ele tinha descrito, que existia somente em sua cabeça tinha ganhado vida bem atrás deles. Ela sempre esteve ali? Ou surgiu no momento em que ele á descreveu? Se ela existia antes ou não, não tinha mais importância. O que realmente importava agora é que a história fajuta de Jonas estava realmente acontecendo. E isso era preocupante porque Ted e Luísa não sabiam que a festa não existia e agora estavam mais perto do que nunca de descobrir a verdade. Porque o máximo que teria dentro daquela velha e decrepita casa seria ratos e mendigos e nunca uma festa de adolescente.