O PONTO DE NÃO RETORNO

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I:

O céu no lado de fora tornava a ficar cada vez mais escuro, as cores nessa madrugada iam se mesclando em uma única tonalidade, puxada para o magenta que se assemelhava a nebulosas no espaço. Apenas algumas estrelas conseguiam se incandescer em toda aquela escuridão e essas que conseguiam, transmitiam um brilho que se encarado por muito tempo ardia no olho. Era de fato uma madrugada muito anormal. As casas da vizinhança continuavam apagadas sem qualquer sinal de vida, nenhum carro passava pelas ruas e não havia barulho algum que quebrasse essa conformidade silenciosa. Exceto pelo grande estrondo feito por Jonas, Ted e Luísa, que permaneciam na entrada da casa. Ted seguia sentado com as costas voltada para a porta sem sequer perceber que ela estava aberta enquanto Jonas e Luísa permaneciam em pé. Contudo eles estavam paralisados na soleira da porta quando a mesma inesperadamente se abriu. Jonas que se encontrava mais perto dela possuía um semblante de surpresa junto de um rosto vermelho que lembrava uma maçã madura. Luísa do outro lado, estava descabelada e ofegante por tentar apartar a briga. Ela encarava a porta do mesmo jeito que um leão encara sua presa, atento a qualquer movimento. Ted levantou desengonçado com uma das mãos pressionando as costas tentando amenizar a dor da pancada enquanto a outra apoiava na parede para sustentar o próprio corpo. Seu rosto fazia uma careta que era acompanhada de um grunhido cada vez que ele apertava um lugar especifico do corpo machucado. Ele levantou e sentiu uma sensação estranha onde pisava, abaixo dele havia um velho capacho com uma frase quase toda já desgastada com o tempo. "Obrigado por vir". Ler isso fez Ted se sentir um pouco estranho, mas a sensação passou em um piscar de olhos quando lembrou o que estava acontecendo. Quando levantou, ele ficou de costas para a porta enquanto encarava os amigos.

— Mas que droga Jonas — Começou Ted ainda tateando o corpo procurando a origem da dor. — Por que você sempre consegue me machucar de uma forma diferente? Eu acho que você quebrou alguma coisa em mim. Eu estou falando sério, doí quando eu toco nessa parte das costas. — Quando disse isso Ted sentiu uma pontada de dor que atravessou seu corpo por completo. Automaticamente seus olhos se contraíram e sua boca abriu, ele soltou um pequeno murmúrio de dor.

Mas os olhares dos dois adolescentes atravessavam Ted e iam de encontro com outra coisa. Ted que ainda estava de costas para a porta não compreendeu os olhares vidrados dos amigos. — Gente eu estou bem, vocês podem relaxar. Claro que meu corpo ainda está doendo, mas acho que não é motivo para tanto alarde assim. Vocês estão sequer me ouvindo?

Porém eles não estavam. Jonas e Luísa continuavam com os olhos na direção da porta, ignorando Ted por completo. Ele então seguiu a direção em que olhos dos amigos miravam, foi seguindo até se deparar com a porta recém aberta. Ainda com uma das mãos segurando a maçaneta, um rapaz encarava os três adolescentes. O homem em questão era bem alto, quase do tamanho da própria porta. Tinha pele escura e vestia um jeans junto de uma jaqueta de couro, por baixo havia uma camisa de basquete na qual o símbolo era um touro com chapéu de vaqueiro, embaixo do mesmo encontrava-se escrito "Caubóis de Oklahoma". O cabelo dele era estiloso, mechas com dreadlocks caiam pelos ombros. Ainda na parte da cabeça, um brinco em uma única orelha se destacava, trazia um brilho próprio que não se ofuscaria até na noite mais escura. Os braços estavam cobertos de pulseiras, cada uma diferente da outra. Havia pulseiras de pedras vulcânicas, pedras da lua, pulseiras de tecido e diversas outras as quais você encontra com povos nativos em litorais. Não dava para dizer a idade certa do homem, era uma mistura de adolescente com aspecto de adulto. Mas com certeza não era nenhum mendigo ou guaxinim. A porta aberta revelou uma música animada e contagiante. Foi quase uma explosão sonora dentro de todo aquele silêncio, atrás do homem podia-se ver pessoas com copos nas mãos bebendo e conversando, algumas até mesmo dançavam a todo vapor. A casa que antes parecia estar abandonada a muitos anos surpreendentemente criou vida em um piscar de olhos.

Uma boa festa nunca acabaOnde histórias criam vida. Descubra agora