Prólogo

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   Nenhum guerreiro deveria prosseguir. O buja'wa olhava para inibir cada um dos homens. Waji disfarçava seus desejos, enquanto a lança que carregava era levada para mais perto de seu corpo pintado. O som que levara o grupo para o meio da floresta aumentava, mas era proibido, era o som dos deuses. Os pés desejavam prosseguir e a palavra watid ecoava em sua mente, como de a vontade e a palavra batalhassem pela escolha perfeita de Waji. Seus olhos correram pelos companheiros, vestidos com saiotes de palha e uma pena presa na cabeça. Cada um escolheu a cor que melhor representava duas qualidades de guerreiro, mas o dia no qual se tornou um soldado Waji era agora uma lembrança pesada.

   Decidiu por algo. A noite escura escondia os perigos do outro lado, mas ele ergueu o corpo para sinalizar a si que enfrentaria qualquer surpresa do outro lado. Seus pés, pouco interessados na inércia que aquela esperava que resultaria em nada pedia, ganhavam mais decisão junto à mente. Estava dois passos adiantado quando percebeu. A impossibilidade de ficar. Os deuses esperavam por ele do outro lado, onde as luzes mais fortes da floresta estavam? O som também era o sinal. Por tudo que desejava saber e não pelo que era, correu em direção a um arbusto antes da grossa árvore que se destacavam entre as outras.

    Algo pontudo, no entanto, o atingiu nas costas. O mundo pareceu ganhar uma forma amedrontadora, sem o conhecimento de alguém que durante a infância era chamado de explorador pelos outros. Waji percebeu a visão se fechar, nada disse e caiu contra o chão úmido da noite após mais uma chuva. Seu rosto foi o último pensamento, contra o barro e sem a honra.

   Teve noção de si na manhã seguinte, em meio a todo o gaw'ajingui, envolto à poeira, amarrado nos braços e pernas, mas ainda era permitido que falasse, ao contrário do que acontecia com os prisioneiros de povos rivais. Ele testou a boca sem nenhuma obstrução e depois, despreocupado com a fala, observou os conhecidos, familiares, amigos e inimizades, todos com o olhar de curiosidade, mas alguns tristes, outros com sorrisos, embora houvesse grupos de faces sem expressão que pudesse contar algo ao rapaz.

   Um homem vestido com uma comprida túnica de linho se aproximou dele com tinta verde em uma tigela. Waji abaixou a cabeça ao ver o tom, a desonra para um guerreiro, que ao contrário dos outros, jamais deveria trabalhar com a natureza esverdeada da região. O bujaw'ani pintou cinco faixas na face suja de Waji, que permaneceu imóvel de vergonha.

   —Avãtekajewkw wawak? — perguntou o bujaw'ani, após a pintura.

   Waji percebeu que ainda existia dúvida dos outros. Abaixou a cabeça outra vez. Não havia forma se não a honra e mesmo que a perda dela estivesse decretada, ele optou pelo que não fizera na noite anterior, seguir os ensinamentos de seu gaw'ajingui, não o ramo apenas, mas toda a tribo habilitada como protegida dos deuses, as pessoas livres que viviam na região.

   — Ikua — respondeu, pronto para qualquer consequência. 

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