Rachaduras

eu perdi minha fé

Na Bíblia Cristã existe uma história muito inspiradora (para alguns) a respeito da fé. O personagem principal dessa história é um homem chamado Jó. Um homem provido de tudo que alguém da sua época precisava para ser considerado rico: terras, muitos animais, muitos filhos, uma esposa e muitas riquezas. Além disso tudo, Jó era um servo fiel a seu Criador, que por sua vez, sabia que ele não o decepcionaria. Certo dia, o inimigo (Satanás, Diabo, Lúcifer, seja lá como você o chama) duvida de toda fé que Jó possui e apresenta isso a Deus. Ele então faz uma aposta com Satanás, permitindo que tire todas as riquezas, todos os seus filhos e tudo que Jó possuía, porém, apenas nas coisas de Jó e não nele em si. E assim foi, Satanás destruiu tudo que Jó tinha com a plena certeza de que ele iria se revoltar e amaldiçoar o nome de seu Criador e assim, Satanás venceria a aposta.

Ao saber que perdeu tudo, Jó toma uma atitude contrária, ao invés de amaldiçoar, ele se prostra e adora a Deus:

"Quando cheguei a este mundo estava nu e nada possuía. É assim que vou partir. O Senhor me deu tudo quando eu tinha e agora tomou de volta. Glória ao Senhor! Bendito seja Ele! - Jó 1:21"

Em outra ocasião, Satanás volta a falar com Deus, que com orgulho diz que mesmo sem suas riquezas e filhos, não desistiu e manteve a fé. Então, o inimigo propõe tocar em sua saúde assegurando que ele perderia a fé. Deus permite, mas o proíbe de tirar sua vida. Jó então recebe uma terrível doença que faz seu corpo virar um grande depósito de feridas abertas dos pés à cabeça. Jó começa a sofrer muito mais e sua esposa se revolta com tudo e diz a Jó para amaldiçoar o nome do tal Deus. Mas não! Jó mantém a fé e continua sentando em um monte de cinzas.

...

"Maldito seja o dia em que eu nasci! Maldita seja a noite em que eu vim ao mundo! Espero que esse dia seja transformado em trevas profundas e até Deus, lá no céu, se esqueça dele e não deixe o sol brilhar (Jó 3: 2, 3 e 4). [...] Quem me dera morrer antes de ter nascido! Seria tão bom se eu tivesse morrido pelo menos na hora em que nasci! Porque minha mãe me colocou em seu colo? Porque ela me deu de mamar? Se eu tivesse morrido assim que nasci estaria feliz agora, descansando em paz. (Jó 3: 11, 12 e 13) [...] Não tenho paz, nem alívio de meus sofrimentos; só dor e tristeza (Jó 3: 26)"

Como ele continuou sucumbindo a tudo, ele se revolta e amaldiçoa o seu próprio dia de nascimento e começa um extenso discurso para três amigos que estão junto a ele. No discurso ele desabafa e perde a fé. Sim, ele perde a fé. Ele se revolta com ele mesmo e perde a fé. Mas, depois de muito tempo de conversa com seus amigos, o Senhor aparece e conversa com Jó, o lembrando de tudo que lhe deu e de como Jó era fiel. Fim da história? Jó recupera sua fé e o Senhor lhe abençoa com tudo em dobro, riquezas, filhos e animais.

"Agora eu compreendo que o Senhor pode fazer tudo que quiser e que ninguém pode impedir o Senhor de realizar seus planos (Jó 42: 1)"

Podemos dizer o que for;

Dar quantas explicações quisermos;

Mostrar todos os sorrisos que temos guardado;

Mas chega um momento que cansamos e, perdemos a fé. Fé em Deus (ou em quem você acredita). Fé em nós mesmos; Fé na justiça. Fé em quem amamos. Fé. Chega um momento que a perdemos e só conseguimos ficar parados e estagnados no meio do caminho. Mesmo que lutamos e olhamos para frente, nós não aguentamos perder. Nos revoltamos e perdemos a fé.

Podemos dizer o que for, mas esse momento chega. A desistência é inevitável. Os sorrisos se transformam em incontroláveis lágrimas que pesam mais do que tudo. Não vemos mais sentindo em confiar em Alguém (seja Deus ou em outra pessoa) e apenas continuamos a andar em círculos ou ficamos lá parados, esperando a morte. Olhamos para cima, gritamos, esperneamos, berramos para alguém fazer alguma coisa, para mover montanhas a nosso favor.

Mas, você e eu sabemos que não funciona assim.

Chega um momento que precisamos nos erguer. Deixar de pensar em como fazer, e só fazer. Recuperar a fé e a força, e se acaso elas não existirem mais, precisamos recriá-las. Ter um objetivo, trabalhar por ele, olhar em volta, reparar em cada detalhe do fundo do poço, e de vez em quando levar em conta a história de Jó. E por último, lembrar que não precisamos buscar a força no mundo externo, porque ela está dentro de nós. Nós somos a nossa própria força. Só precisamos da nossa ajuda para encontrá-la. Então, encontre a sua fé e a sua força e assim como Jó, siga em frente até onde der.

Wilson Corrêa Führ