Despertado por um pesadelo de perseguição, onde se via sendo capturado e levado para a escuridão de uma mina sem fim, o goblin abriu os olhos e olhou em volta. Estava deitado, envolto num cobertor quente e macio. O ambiente cheirava a ervas aromáticas. Um incenso queimava lentamente em cima de uma pequena mesa redonda num canto.
O lugar era um pequeno quarto com paredes e assoalho de madeira. Ao lado da esteira em que estava deitado havia uma bacia com água e alguns panos úmidos manchados de vermelho. Vermelho do seu sangue, notou.
Assim que viu os panos, sentou-se e tratou de averiguar melhor sua condição. Estava com o corpo todo dolorido, mas era uma dor suportável. Sentia seu rosto um pouco inchado e em suas costas haviam sido aplicados curativos. Também percebeu que estava vestido com uma roupa nova, bem diferente dos trapos imundos que usava.
Onde estava? Quem teria feito isso tudo por ele? Pensou. De repente sua mente foi inundada pelas lembranças da perseguição dos humanos no bosque e do surgimento da criatura de pelos brancos como a neve. Sua última memória foi de vê-la lutando com os guerreiros bravamente.
Então se estava ali, são e salvo, significava que a criatura tinha derrotado os humanos. Onde estaria agora? Precisava agradecer por ter salvo sua vida, uma dívida que jamais teria como pagar.
Assim que teve a intenção de levantar, a porta do quarto abriu e duas criaturas entraram. O goblin ficou tenso e puxou o cobertor para junto de si como se fosse uma espécie de escudo protetor.
As criaturas eram da mesma espécie da que tinha visto no bosque, só que mais altas e de pelo alaranjado. Vestiam mantos coloridos e uma delas usava um grande e belo chapéu de palha. Mas o que chamava mais a atenção eram suas caudas. Tinham três delas em vez de uma. Uma visão realmente estranha para o goblin.
- Não tenha medo, pequenino, está seguro na aldeia do povo-raposa, sob a proteção dos kitsune – disse a que usava chapéu.
- E..eu não estou preso? - depois de muito tempo, o goblin se sentiu confiante para falar.
- Preso? Não, de forma nenhuma. Só está aqui porque precisou de cuidados especiais por causa de seus ferimentos. Assim que se sentir melhor, é livre para partir de volta para casa.
- N..não tenho mais casa – o goblin baixou a cabeça entristecido.
- Então esse é o motivo de estar ferido e tão distante do seu lar no sul.
- Conhece meu lar?
- As únicas tribos goblins que se tem notícia vivem ao sul nos escudos rochosos. Então sim, conheço de onde você vem.
- Mas não tenho mais casa. Os guerreiros de espada chegaram na luz da lua e queimaram, mataram e levaram o restante para a escuridão das minas. E numa noite em que a terra desceu da montanha, eu consegui fugir. Fui perseguido e ferido, mas um guerreiro-raposa me salvou.
- Na verdade uma guerreira – disse o kitsune – E viemos aqui para levá-lo até ela.
O encontro entre o goblin e a kitsune se deu na enfermaria da aldeia, uma bela estrutura de madeira com grandes janelões que deixavam a luz do sol e a brisa suave entrar. O ar do local também estava impregnado de um aroma de ervas.
O goblin ficou surpreso ao ver o estado da guerreira-raposa, com um grande curativo no ombro esquerdo e escoriações no rosto. A mesma estava em pé em frente a um dos janelões, olhando a calmante paisagem lá fora.
De fato a aldeia kitsune era o lugar mais lindo que o goblin já tinha visto na vida. Lindas cerejeiras de folhas rosadas tomavam conta da paisagem, balançando suavemente ao sabor do vento. A harmonia entre as construções de madeira e a natureza ao redor era de impressionar.
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A Sociedade da Lança
FantasyAiori, filha do líder dos Momoke, um poderoso clã de samurais. Kiha, uma kitsune do antigo Bosque das Cerejeiras. Gurin, goblin proveniente da grande cadeia de montanhas chamada Escudos Rochosos. Orinsuke, jovem samurai pertencente a um dos clãs per...