Safira odeia maio. Deveria odiar junho também.
Junho vem antes de julho e agosto, ou seja: antes das férias, mas você não odeia aqueles dias que antecedem algo que almeja com todas as forças.
Diferente disso, você odeia o que vem depois. Odeia não ter aproveitado os dias de forma correta, odeia ser sujeitada as mais diferentes formas de tortura – isso se você se encaixa no quadro de adolescentes que estão no colegial e são obrigados constantemente a escolher entre direito, medicina e engenharia.
Essas são as três alternativas da maior parte das pessoas que já passaram na vida de Safira.
Ela, por exemplo, estava isenta dessa escolha, não por já ter moldado suas metas futuras, mas porque seus pais fizeram-na admirar medicina por livre espontânea pressão. Algo relacionado a sua mãe médica e seu pai advogado, o que trazia mais uma hipótese para a garota: seu pretendente teria que ser da área jurídica, no mínimo.
Um advogado mesmo, ou talvez um juiz, alguém que fizesse sua vida ao menos um pouco parecida com a do seus pais. Por opção deles, é claro.
Safira queria coisas bem diferentes. Na verdade, nunca teve muito tempo para pensar sobre o que desejava do fundo do coração, mas sabia o que não almejava: medicina e um noivo.
Tá aí outra coisa que seus recém completados 17 anos odeiam: química.
Por alguma razão, Safira acredita que a ciência da natureza é a culpada por ela estar carregando cinco livros – muito mal equilibrados, vale ressaltar – em um braço e sua mochila com formulas e papéis amassados no outro. Tudo isso antes mesmo do horário de aula.
Droga!, seu xingamento mental quase é ouvido quando ela começa a culpar a química por ter esbarrado em uma das prateleiras da enorme biblioteca, levando seus vários livros ao chão.
— Essa não! Eu mereço.
Safira se arrepende de não ter ouvido sua mãe quando a figura de autoridade alertou sobre a quantidade de cafeína que ela vinha ingerido. Talvez fosse a cafeína a responsável por fazê-la ouvir uma prateleira reclamar.
O suporte literário tem algumas tatuagens espalhadas pelo braço e se abaixa xingando copiosamente em sussurros para começar a juntar os livros.
— Você não vai me ajudar?? — ele pergunta para a garota que ainda está tentando processar que esbarrou em alguém e não em algo.
Quer dizer, considerando a altura do homem a sua frente talvez empregar o termo algo não fosse tão errôneo.
Safira balança a cabeça de forma positiva fazendo seus cachos irem de um lado a outro, mas ele não está olhando, e sim apanhando os livros.
Quando ela finalmente começa a tarefa de juntar o material espalhado não custa muito tempo, ela perdeu maior parte deste observando o estranho que tinha um pássaro desenhado sobre sua mão.
Quem faz a tatuagem de um pássaro na mão antes de ter um emprego fixo?, pensou em todos os alertas que ouvira de seus pais sobre uma tatuagem poder definir o seu futuro.
— A biblioteca está fechada. — O ainda desconhecido de Safira murmura enquanto empurra os livros para cima em sua direção.
É curto e grosso, diferentemente dos livros ao redor deles.
— A Katie não se importa que eu entre antes da hora. — A bibliotecária estava tão acostumada com as longas viagens de Safira entre livros e cadernos que já havia desistido de reclamar, ela tinha passe livre ao menos em um lugar de toda a estrutura escolar.
Ele levanta, revelando toda sua real altura.
Uma prateleira com sobrancelhas cheias que se curvam e lábios que são pressionados um contra o outro.
— A Katherine não está.
Safira crispa os lábios confusa. Katherine nunca faltava.
— E quem está cuidando daqui?
— Alguém que não abre as mesmas exceções que a Katherine.
— Quem é essa mal-amada? — Safira tapa a boca quando percebe que pensou em voz alta.
O garoto sorri, sua boca rosada e cheia capta toda a atenção da menor.
— Shawn. — Ele estende a mão.
Uma interrogação parece pular sobre a cabeça de Safira.
— Sou o responsável pela biblioteca. — Rola os olhos.
— Não foi minha intenção te chamar de mal-amada. Quero dizer, mal-amado. — Tenta se explicar. — Mas não posso garantir que não seja né?! Você tem o direito de ser e...
Ela pensa que, talvez, falou demais.
O agora não-tão-desconhecido permanece parado como um manequim, sua palma está dentro do bolso porque ele abaixou segundos após estender. Claramente não queria se apresentar, somente mostrar que era ele o mal-amado sobre o qual foi questionado.
— Sou Safira. — Ela pensa em sorrir, mas algo sobre Shawn, seus óculos escuros e a falta de contato parecem intimidá-la sutilmente.
— As turmas do fundamental não têm aula hoje.
Quem ele pensa que é?, bufa e revira os olhos mentalmente.
— Eu sou do colegial.
— A primeira aula do médio já começou. — Ele bate a ponta do dedo sobre o relógio cinza em seu pulso.
— É que geralmente a Katherine me deixava ficar antes do horário...
— Sou o Shawn.
Ele mais parecia um robô repetindo a todo momento "sou o Shawn" e por dentro Safira estava sendo corroída pela raiva porque ele estava querendo dizer que não abriria exceções, mas não utilizava das palavras diretas para isso, embora aparentasse não se importar o que não a dava a oportunidade de xinga-lo em múrmuros sem sentir-se culpada.
Ela bufa em frustração e começa uma trilha para o lado da saída.
Quando alcança a esquina do corredor espera que ele diga que foi grosseiro, peça desculpas e explique que tudo bem manter seus hábitos literários em dia, estudar para a prova e fugir do mundo lá fora. Mas ele está do mesmo jeito que antes: parado, as mãos dentro do bolso da frente da calça escura e os olhos inacessíveis pelos óculos escuros.
A primeira impressão que Safira teve é que Shawn seria tão odiável quanto o mês de maio, mas infelizmente o dizer popular de que "a primeira impressão é a que fica" jamais se aplicaria no caso dos dois.
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É minha primeira vez escrevendo em terceira pessoa aqui na plataforma, então perdoem alguns deslizem e me deem um feedback. Se estão gostando, o que esperam etc.
Meu chat está sempre aberto, é só chamar <3.
Inclusive, agradeçam à Belle que me deu um empurrão pra finalmente postar e revisou o capítulo inteirinho. TE AMO, BELLE!
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Castigo Literário | Shawn Mendes
أدب الهواةSafira e Shawn, diferente de todos os outros casais em potencial, só possuem duas coisas em comum ou é isso que eles acreditam. A primeira, é que ambos foram fadados ao castigo na mesma semana e a segunda, é que suas iniciais são iguais. A lista de...