Selado

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 Embora vá parecer repetitivo, garanto-lhe que esse conto não tem a ver com escuridão. Eu tenho história melhores, acredite.

Um jovem chamado Steve ainda tinha toda vida pela frente e muitas coisas para fazer. Um dia, quando deu por si, viu se preso em uma sala escura. Parede espeças depois para serem quebradas e apenas uma luz que passava por uma pequena fenda entra a parede e o teto da sala. Como se a mesma houvesse sido mal construída ou projetada...

O ar não faltava. Não que esse fosse ser um grande problema. Seria melhor senão houvesse ar até, seria piedoso...

Mas seguindo a história, Steve não sabia bem o que havia acontecido. Comia bem em uma mesa de restaurante e quando se deu conta, estava preso.

As paredes eram altas, teve noção graças ao feche de luz. Não tinha muito noção do espaço da sala até o momento, então correu por todo o perímetro. Se espreitou por cada canto que alcançava da sala procurando porta ou saídas...

Não havia.

Sem janelas, sem portas, sem túnel...

Tentou escalar a parede, mas não havia como chegar no buraco do topo da sala, mesmo que chegasse, não tinha como passar.

Pensou então que deveria bolar uma forma de sair dali, mas até lá, não poderia gastar energia mais do o necessário.

Eu sei que parece insanidade tentar ficar calmo numa situação dessas, estar confinado em um lugar com espeço o bastante para se ficar deitado, mas não o bastante para correr com impulso... Sem qualquer contate com o exterior além do micro buraquinho no teto.

Por mais que tenhamos ar em um lugar fechado, juramos que nossos pulmões estão sendo comprimidos e que nós sufocaremos em segundos... Com certeza você conhece ou é alguém que passa por isso em elevadores ou em escadarias fechadas...

Steve era claustrofóbico, acabara de descobrir. Era como ser enterrado vivo, mas em um caixão grande o bastante para que se desse uns alguns passos para cada direção. E mal podia gritar ou escapar.

Impossível seria escapar. Aquele espaço apertado e escuro. Quatro paredes de espinhos panos imaginários que tinham o prazer de apertar a caixa torácica de Steve impedindo-o de expandir os pulmões.

Após 6 horas, o pânico já o deixara louco. Havia perdido por completo a noção de tempo, apenas se guiava pela claridade que diminuía gradativamente pela fresta no topo da sala. É meio estranho tentar explicar isso, mas é como se Steve estivesse... inalando a escuridão! A sufocante "ausência" de ar o fazia se afogar na falta de luz com o frio da noite que caia vagarosamente.

Eu o observei de cima. Depois de umas 8 ou 9 horas ele já tinha parado de pensar em formas possíveis de sair. Estava exausto, se arrastando pelo chão frio da sala que agora não havia mais qualquer resquício de luz. Deitou-se no canto oposto de onde eu estava e repousou para pensar melhor no que fazer depois.

Foi como passar a noite em uma mina abandonada, e olha que já estive em muitas... A cima de você tem um teto te esmagando e as paredes te dão um abraço mais gelado que a própria morte.

Já parou para pensar que nessa situação, você também se refugiaria no canto da sala? A natureza é tão impressionante quanto previsível.

Steve acordou com a pequena frestinha de luz brilhando no fundo da sala. Sentiu uma certa umidade maior no ar, e depois de esfregar bem os olhos, percebeu q apesar da claridade baixa na sala era possível perceber que o tempo estava nublado.

Já fazia mais 16 que Steve estava confinado naquela sala, e a sede não seria mais um problema. O chão da sala começou a se encher de água que vinha da fresta como uma goteira. Beber ele poderia, mas a poça ao lado da parede estava predestinada a cobrir o piso frio onde nosso protagonista repousava.

Depois de alguns minutos, a sala ganhou um tapete de água que já cobria quase que por completos os pés de Steve. A chuva de vento invadirá sua cela e tentava o sufocar mais ainda de cima para baixo.

Steve olhou para mim. Até parecia que podia me ver... Ele me sentiu, sentiu minha presença. De alguma forma, por algum momento, se sentiu conectado a mim.

Tudo fará mais sentido para você no final do livro, não se preocupe, apenas mantenha o ritmo de leitura.

24 horas se passaram. Steve não estava mais preocupado com fome, apenas tentava bolar uma estratégia de sair. A chuva havia tomado quase um terço do volume da sala, e mesmo que tentasse, ainda não tinha como pedir ajuda gritando por socorro pela fresta do teto.

A umidade daquele lugar já o fazia se coçar por dentro...

Me pergunto se você é capaz de se colocar nessa situação. Acho que você concorda comigo ninguém merece passar por uma situação desse. Estar preso em um elevador parado, mas, que ao mesmo tempo, alagado e despencando ao fundo do poço de desespero.

É de fazer qualquer um não ficar em espaços apertados, cheios ou muito fechado. Não acha o mesmo?

Steve lutou lindamente por mais um dia. A água subiu mias o nível, quase o impedindo de dormir. O ar que havia na sala não supria o seu desespero e a água não lhe saciava a angústia.

Steve morreu confinado naquela sala alagada sem ajuda ou sem qualquer forma de escapar, preso em um curral artificial, doloroso e asfixiante.

Não desejo que passe por experiencia sequer parecida, não pode imagina o quanto foi difícil assistir aquilo uma vez, imagine duas? De qualquer forma, não creio que alguém o enjaularia em uma sala desse quase sem espaço e o deixa-se para morrer.

Deixe-me lhe contar uma coisa...

Steve na verdade foi o nome que dei a um inseto. Uma formiga colheitadeira. Bem comum em zona tropicais e temperadas. No caso, estamos falando do México.

Uma jovem crianças e sua família foram jantar fora, num restaurante com canteiros. O pai da família fumava, e deixará a caixa de fósforos vazia com sua filha para que ela fosse brincar após a refeição.

As formigas colheitadeiras podem ser agressivas e morder para se defender. A mãe da menina sabia disso e avisou para que a menina não as pegasse na mão. Mas, como uma criança curiosa, pegou uma formiga do chão com a caixa e a levou até os pais para que vissem. Os pais, então, disseram:

"Lindo minha filha, vá brincar!" sem dar muita atenção a criança, nada de anormal...

Na hora de ir embora, a criança distraída largou a caixa no chão e foi em direção ao seus pais irem para casa, e o pequeno Steve foi deixado dentro da caixa de fósforos mal fechada, deixando uma fresta torta voltada para cima.

A previsão do tempo já avisara naquele dia que o céu fecharia com nuvens densas de chuva, bom motivo para que a família tomasse logo seu rumo de casa.

O pequeno Steve foi deixado parar morrer pois ninguém se importou com ele, afinal, era só um inseto, não é mesmo?

Me diga, se comeu com a história? Sentiu angustia que aperto no peito pela personagem pois acreditou que ele fosse de sua espécie? Ele era só uma formiga, mas não deixava de ser um ser vivo. Não acha que ele também tem direito a viver e a não ser torturado e encarcerado dessa forma?

Qual a diferença, para a natureza, de ser você e ser uma formiga deixada para morrer dentro de um lugar fechado como esse? Para o mundo vocês dois tem a mesma importância.

Vocês... Nunca consegui os entender...

Bom, lembre-se bem dessa história quando decidir matar uma aranha na sua sala ao invés de apenas retira-la de casa. Porque vai ver, a próxima história pode não ser sobre a aranha, mas talvez sobre você sendo esmagado...

Não Leia Essas Histórias Antes de DormirWhere stories live. Discover now