Os dias passaram voando depois da sua chegada.
Ágata é uma jovem de aspecto delicado, mas um pouco grosseiro. Acredito que isso seja devido as suas criações humildes nos Bosques Ruivos a leste do meu reino. Por essa razão designei-la para a cozinha, assim não teria que trabalhar de forma tão pesada no jardim e no íntimo tomei essa decisão para mantê-la um pouco mais próximo de mim.
As vezes ao longo do dia quando não estava ocupado treinando ou resolvendo alguns problemas do reino, me pegava espiando-a pela porta da cozinha.
Os seus olhos claros eram atentos em todos os passos que dava ao redor da mesa ajudando a cozinheira nos preparos do meu almoço. Entre sorrisos e conversas curtas que eu pouco consegui ouvir ela quase me pegou no ato, mas fui mais atento e me escondi como menino travesso.
No almoço daquele dia, me sentei na cabeceira da mesa principal de jantar; era o meu mais antigo costume: sentar na cabeceira, arrumar no meu colo o guardanapo e aguardar que almoço fosse servido. Neste dia, o almoço estava demorando, porém, a minha barriga estava pouco paciente. Batuquei os dedos sinfonicamente pela mesa de pinho negro e aguardei mais um pouco; logo ela apareceu pela porta com uma grande travessa de frango acompanhada das outras criadas, que carregavam, garrafas de vinhos e outras iguarias do banquete.
Ela me deliciou com um amplo sorriso de alegria, com uma verdadeira sensação de trabalho cumprido ao trazer aquele frango em segurança à mesa. A sua postura era altiva, bem mais consistente no dia em que a conheci. Acho que depois de tantos vasos quebrados, ela começava a se equilibrar melhor; com este pensamento dei uma risadinha involuntária que fez todos da sala me olharem, inclusive ela.
Retomei a minha postura e esperei todos se afastarem para começar a comer. Ao vê-la se afastar da mesa, não consegui me conter:
- Ágata?
- O que deseja Senhor? - falou já curvando-se.
- Sente-se e coma comigo. - tentei soar o mais despretensioso o quanto pude. Mexi a comida com o garfo e a olhei nos olhos.
- Eu não posso meu Senhor, tenho trabalho na cozinha. - falou de forma educada, mas logo torceu um pouco do seu vestido com a mão direita e completou vacilante - E seria um pouco desonroso para o senhor sentar à mesa com uma mera criada.
Os meus movimentos cessaram com esta afirmação e a olhei duro.
- Não me importa o que irão achar disso. Sente-se, eu ordeno. - gritei de forma rude. O que ela falou me deixou profundamente magoada por dentro.
- Mas Senhor... - ela continuou.
- Obedeça o seu rei e sente! Não estou pedindo, estou ordenando. - gritei alto e ainda mais rude.
O seu corpo tremeu completamente e ela relutante se sentou na cadeira mais próxima a mim.
- Coma. - falei rude.
Ela começou a se servir trêmula e a olhei de canto de olho, percebendo uma lágrima descer na sua face.
Um gosto de arrependimento tomou o meu ser. Ela se esforçava para comer com graça, mas não sabia nem ao menos segurar um garfo como uma dama.
Ágata se esforçou para engolir alguma coisa, mas parecia que tinha uma pedra na garganta.
Levantei atordoado pela culpa, larguei o guardanapo na mesa e sai; meu orgulho me fazia um homem teimoso, mas a culpa era amarga.
***
Permaneci alguns dias carrancudo, em poucas ocasiões trocamos olhares.
Depois de evita-la ao máximo, a vi passar sorrateiramente pelo jardim dos fundos. Estava escovando meu cavalo quando a vi se esconder nos becos próximos ao estábulo. Não aguentei a curiosidade e resolvi segui-la.
Acredite, eu não era um perseguidor. Mas estava curioso em saber um pouco mais sobre ela; sempre acaba pensando nela afinal.
Ágata carregava uma cesta grande coberta por um pano azul. Andou por um longo percurso até um pequeno bosque próximo ao castelo, se esgueirou pelas árvores até chegar ao seu destino. Ao chegar lá, ela afastou uma pequena porteira rudimentar - imagino que tenha sido feito por ela- e deixou a mostra um grupinho peludo de três gatinhos negros.
Fiz o que pude para que ela não me visse, me escondendo atrás de alguns arbustos. A jovem moça agachou-se, descobriu a cesta e alimentou os gatinhos com o que havia trazido dentro dela.
Ela parecia calma e a vontade. Os gatinhos aproveitaram para se esticar e andar ao redor - inclusive pelo seu colo-, o que a fez sorrir. Depois de alimentá-los, arrumou-os do mesmo modo e caminhou de volta ao castelo.
Na volta eu não tive a mesma sorte e por desleixo, pisei em um graveto que quebrou fazendo um som alto. Ágata pulou de susto e me viu logo em seguida.
- Senhor, o que está fazendo aqui? - perguntou surpresa e curiosa.
- N-a-d-a. - tentei desconversar.
- O Senhor estava me seguindo? - questionou.
- Diga-me de verdade, o que quer de mim? Por quê me deixou ficar? - falou aproximando-se de mim em súplica.
Estava claro que ela queria entender o meu interesse repentino por ela.
- Eu posso explicar... - falei ao me aproximar dela.
Cheguei a bem próximo dela e a olhei; seu olhar era um misto de medo e curiosidade, o seu corpo sempre agia de forma arisca na minha presença, eu podia sentir.
E acabei cometendo o meu maior erro: a beijei.
E ela me retribuiu com um tapa.
####
Comentem o que estão achando desse conto, estou bem entusiasmada em escrevé-lo.
Obrigada por acompanherem o meu trabalho, todos os incetivos estão aquecendo o meu coração para continuar a escrever.
Caso desejarem, entre em contato comigo por rede social ou pelo próprio inbox do wattpad para qualquer dúvida ou sugestão.
Obrigada a todos.
![](https://img.wattpad.com/cover/195806896-288-k525181.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos de Guardiões Elementares
AvventuraO homem que conhecemos não era o que virou. Dentro de um reino solitário e hipócrita, Lucca se vê completamente apaixonado por alguém que vive em seu palácio. Mas como lidar com o amor quando ele é bruto e ingênuo?