Tinha um garoto na minha turma do primeiro ano.
Ele era bonito.
Quer dizer, não que ele fosse realmente bonito.
Ou melhor, ele era realmente bonito; o que eu quero dizer é que isso não era relevante.
Acho que, na época, a única coisa que eu sabia sobre ele era que ele não cortava o cabelo com frequência. Um cabelo preto, bem preto, como o meu; e olhos negros, como os meus também.
Éramos iguais, eu acho.
Exceto que ele tinha 1,80m e eu tinha meus miseráveis 1,60m; e ele tinha mãos fortes. Eu sei disso porque ele me segurou quando eu tropecei e quase caí na cerimônia de regresso das férias de verão. Trocamos meia dúzia de palavras.
— Tome cuidado — ele disse, despretensiosamente.
— Foi minha culpa. Obrigada — eu respondi.
E foi isso. Eu caminhei para um lado e ele, para o outro. Acho que foi por volta dessa época também que eu soube que ele tinha uma banda ou coisa assim. Achei bem legal. E foi isso.
Tinha um garoto na minha turma do primeiro ano. Sua presença era incrível.
Não que sua presença fosse realmente incrível.
Digo, pensando bem, sim, sua presença era mesmo incrível, embora isso não seja relevante.
Às vezes, enquanto eu suspirava de amores pelos discursos bem decorados de Nathaniel, eu olhava o garoto de esguelha. A postura sempre relaxada e meio rebelde. Ouvi rumores de que ele tinha uma namorada.
Só muito mais tarde é que eu descobri que ela se chamava Debrah. Na época, as únicas coisas que eu sabia sobre ela é que ela pressionava o maxilar para gemer e que tinham uma marca de nascença em formato de pássaro logo abaixo do seio esquerdo. Ah, eu sabia disso porque, alguns meses depois, eu peguei os dois transando atrás do ginásio. Era uma quinta. Estava quente pra caramba. Eles não me viram.
Deve ter sido a primeira vez que olhei com tanto interesse para o garoto da minha turma do primeiro ano. Ele parecia focado, cabelos negros grudados à testa e suor escorrendo. Fique horrorizada. E, depois, admirei a coragem do casal de estar ali, naquele lugar.
Descobri que eles tinham essa rotina. Todas as quintas, eles se encontravam atrás do ginásio, trocavam alguns beijos e depois transavam. Às vezes, eles sentavam e conversavam, falavam sobre coisas aleatórias, algumas curiosidades, alguma ideia para músicas, algumas declarações, mas tudo sempre acabava com ambos tirando as roupas. Eu os acompanhei todas as vezes. Mera curiosidade, eu acho. Ou, talvez, eu seja uma maníaca. O que antes costumava ser a dois, tornara-se uma atividade a três; e os principais envolvidos nem sabiam disso.
Foi nesse momento, precisamente, que comecei a reparar realmente em Castiel. Meus olhares, antes voltados só para meu amado Nathaniel, agora dividiam-se com o garoto de cabelos pretos e jaqueta de couro que sentava-se no fundo da sala.
Ele tinha o costume de matar aula e ir ao porão para fumar ou tocar guitarra. Eu sei disso porque, quando a presidente do clube de fotografia me pediu para buscar uma câmera antiga guardada no porão, eu o surpreendi com um cigarro na boca. Na verdade, eu é quem me surpreendi. Nos encaramos por um minuto de espanto, antes que eu tivesse coragem de falar.
— É proibido fumar na escola — eu disse. Foi a primeira coisa que veio na minha cabeça. Eu não sei o porquê.
Mas Castiel apenas tirou o cigarro da boca entre os dedos e soltou uma baforada de fumaça. Ele me olhou com aquele seu característico modo sarcástico de quem toca o foda-se pra tudo. Um dia, essa mania vai foder com ele.
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O Garoto Da Minha Turma [Completo]
RomanceEle sorriu novamente. Eu adorava vê-lo sorrir. E eu sabia exatamente como fazê-lo. Um pouco de sarcasmo, um pouco de elogios implícitos para sua namorada perfeita e o jovem guitarrista se derreteria como manteiga em uma panela quente. Castiel não er...