Tinha um garoto na minha turma do segundo ano.
Ele era apaixonante.
Quer dizer, não que ele fosse realmente apaixonante. Mas eu me apaixonei mesmo assim.
Eu sabia muitas coisas sobre ele, na época. Por exemplo, ele tinha uma banda e uma namorada. E ela o traía. Eu sabia disso porque a vi flertar com outros garotos. Eu a vi flertar com produtores. Com músicos. Com o garçom do café perto da escola. Com homens. Com mulheres. E com quem mais que fosse necessário. Ela parecia tudo, menos satisfeita com o relacionamento.
Ainda assim, todas as quintas-feiras, ela se dirigia para detrás do ginásio e deitava-se com seu namorado. Digo "deitar" não no sentido literal da palavra. Na maior parte do tempo, faziam-no de pé, escorados na parede traseira do prédio supracitado. Os dois transavam loucamente, como dois adolescentes que almejam o perigo. Eu era o perigo. Eu vi tudo, todas as vezes.
É por isso que, se você entrar em Sweet Amoris, você encontrará Castiel com mais frequência rondando pelo pátio e pelo ginásio. Ele ainda vai lá, às vezes. Ele tenta lembrar-se de um bom passado, há muito tempo esquecido. Ele não lamenta. Ele apenas recorda. Porque é assim que ele é.
Tinha um garoto na minha turma do segundo ano. Ele costumava ir ao porão. Eu também. Não falávamos. Não trocávamos palavras desnecessárias. Ele fumava cigarros baratos, eu concertava minhas câmeras antigas. E assim ficávamos pelos 30 minutos de intervalo entre as aulas. Depois disso, ele ia transar com a namorada. E eu? Eu ia espiá-los.
Era uma quinta-feira. Estava frio para caramba. Eu funguei e Castiel recebeu uma mensagem da namorada. Ele sorriu ao olhar a tela de seu celular. Eu tirei uma foto.
— O que está fazendo? — questionou-me, ao perceber que eu o usara como minha musa.
— Preciso de fotos que retratem sentimentos ocultos, pra um trabalho em conjunto com o clube de moda. Acho que essa está boa.
Alguns segundos depois, a máquina fotográfica Polaroid modelo 600 fez a fotografia deslizar para fora, trazendo-me às mãos a imagem imortalizada daquele momento.
— Sentimentos? Que tipo de sentimentos pode haver numa foto minha? Eu sou um poço de... alguma coisa não sentimental.
Ele disse. Sentindo-se, de alguma forma, orgulhoso por causa disso. Mas eu deixei uma risada suave escapar por minha garganta.
— Tem sentimentos saindo pelos seus poros — balbuciei, suficientemente claro. — Eu vejo ansiedade... contentamento... até um pouco de hesitação, mas... na maior parte, tem êxtase... como se você não pudesse acreditar... e ainda assim, seus pulmões, suas costelas e suas artérias estivessem transbordando de tanta... felicidade...
Acho que me perdi ao falar tanto. Sou lenta para sair de mim e mais lenta ainda para chegar aos outros. Naveguei pelas palavras e, quando percebi, os olhos de Castiel estavam arregalados para mim, seu rosto espalmado com alguma coisa como... surpresa.
— De onde você tirou isso? — Riu um pouco. Não era deboche. Acho que era nervosismo. — Você até parece um poeta.
Eu dei de ombros.
— Eu tirei dessa foto — repliquei. — Olhe só, você está até sorrindo.
O rosto de Castiel gelou. Dessa vez, era espanto.
— O quê?
Encarei a imagem em minhas mãos. Um jovem guitarrista sentado desleixadamente sobre o piso frio do porão, recostado contra a parede de pedra mal rebocada, entre todas aquelas árvores e decorações do natal passado. A iluminação quase faz parecer que estamos em algum lugar ensolarado, no entanto... o mais importante é o sorriso. Aquele sorriso que me abraça e faz minhas artérias e costelas explodirem de tanta... felicidade.
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O Garoto Da Minha Turma [Completo]
RomansaEle sorriu novamente. Eu adorava vê-lo sorrir. E eu sabia exatamente como fazê-lo. Um pouco de sarcasmo, um pouco de elogios implícitos para sua namorada perfeita e o jovem guitarrista se derreteria como manteiga em uma panela quente. Castiel não er...