Tinha um bloco de notas na minha sala de aula do segundo ano. Ninguém o viu largado ali, exceto eu. Ninguém pôde ver porque são acelerados demais, mas eu sou lenta. Eu vejo coisas que a maioria das pessoas não vê.
Folheei o bloco de notas. Pertencia a um artesão de palavras. Um poeta. Um músico. Eu as absorvi para mim, antes de caminhar na direção de Castiel e entregar-lhe o pequeno caderno esquecido.
— Tome — eu disse. — Eu o encontrei. Pertence a um garoto do segundo ano B.
Mas Castiel, concentrado demais na tarefa de afinar as cordas de sua guitarra, mal se deu ao trabalho de me olhar.
— É mesmo? Então devolva — disse.
Aproximei-me mais, suave e gentilmente, até agachar-me diante dele.
— Está com problemas para escrever uma música? — perguntei. — Falta de inspiração?
Castiel assentiu ao responder, ainda sem me olhar.
— Preciso de canções novas — suspirou, desanimadamente. — Tem um produtor de olho em mim e Debrah, então... seria bom se tivéssemos um repertório maior. Mas não consigo pensar em nada...
Entendo. Suspirei ao pensar numa forma de ajudá-lo. Nunca fui boa com palavras e menos ainda em ser sincera.
— Eu amo uma pessoa — eu disse. Fitei meus próprios pés e sorri. — Eu a amo. O meu último fio de cabelo a ama. E antes de dormir, eu a amo mais uma vez. Amo-a com minhas mãos nuas. Amo-a com minha pele marcada e meus nervos em flor. Minha alma se ergue e exalta sua beleza mas não só, amo também o jeito como ela move os pés para andar e até a maneira como ela respira. E quando o vento balança seus cabelos e ela sorri, eu sei que posso dormir tranquilo. Quero levá-la a algum lugar alto, quero fazer amor com ela entre as estrelas. Vou cantar para ela e deitar-me em sua alma, até que sejamos um só. Naquela noite, eu dormirei tranquilo.
Castiel ergueu a cabeça e me olhou. Olhou-me pela primeira vez naquele dia, com seus olhos escuros espantados. Confusão, surpresa e até admiração estampados em sua face. Piscou algumas vezes antes de falar.
— D-De onde veio isso? — perguntou, num sussurro. Como se por acaso, estivesse me confessando um crime. — É lindo. É como você se sente?
Mas eu balancei a cabeça negativa e amigavelmente.
— É como você se sente — respondi. — Se quiser uma dica sobre como escrever a música, use a mesma configuração de Cannon in D, de Pachellabel.
Levantei-me e suspirei, encarando as escadas do porão.
— Eu tenho que ir ao hospital e vou precisar entregar umas tarefas para o presidente do Conselho Estudantil daqui a quinze dias. Pode devolver o bloco de notas para mim?
Meio boquiaberto, Castiel apenas assentiu. Dei de ombros, entregando-lhe o caderno.
— Diga que ao dono que você que encontrou. Por favor, seja gentil com ele.
Castiel bufou, revirando os olhos e guardando o bloco de notas consigo.
— Você sempre diz isso — resmungou.
Eu sorri minimamente para o comentário e me virei na direção das escadas.
— Ah, errr... Coelhinha, a Debrah virá logo para ensaiarmos — Castiel chamou minha atenção antes que eu me retirasse. — Você pode ver o ensaio se quiser.
Virei-me para ele e sorri, gentilmente.
— Desculpe, Cass, eu não gosto da sua namorada.
E saí.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Garoto Da Minha Turma [Completo]
RomanceEle sorriu novamente. Eu adorava vê-lo sorrir. E eu sabia exatamente como fazê-lo. Um pouco de sarcasmo, um pouco de elogios implícitos para sua namorada perfeita e o jovem guitarrista se derreteria como manteiga em uma panela quente. Castiel não er...