Terceiro ano

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Tinha muitos garotos na minha turma do terceiro ano. Nenhum deles era o que eu queria. Suspirei ao erguer a cabeça e encarar o teto branco, exalando para meus pulmões o cheiro de ar-condicionado e papéis que a sala de aula tinha. Nunca uma aula fora tão chata.

Era o terceiro ano. Tinha um garoto na minha porta. Não demorou para que ele entrasse e tirasse minha roupa. E nós transamos, pela vigésima vez, eu acho. Nós fazemos isso quando ele está frustrado. Ele fica frustrado com muito frequência. Exceto de uns tempos pra cá. As coisas ficaram meio... escassas entre nós.

Eu sei o motivo. Eu sei de muitas coisas, embora seja problemático. Eu sou lenta, apenas; idiota não. Por olhar bem, eu vejo coisas que a maioria das pessoas está apressada demais pra ver.

Eu suspirei ao encarar o teto branco, absorvendo para meus pulmões o cheio de perfume importado e chá que meu quarto tinha. Mesmo o lençol não consegue aquecer minha pele nua. Eu desvio o olhar e lá está Castiel, esparramado desleixadamente ao meu lado, parecendo encarar nada com interesse nenhum. Ah, essa maneira de agir era... era...

— No que está pensando? – eu pergunto. Minha voz está rouca pelo sono. Devo ter soado mais manhosa do que imaginei, mas não foi intencional.

Ele gira a cabeça e me olha. Os cabelos vermelhos bagunçados sobre o travesseiro branco. Os olhos ainda semicerrados pelo sono, mas eles parecem suavizar quando caem sobre mim. Eu sei que não é nada disso. Eu sei que Castiel não se sente assim, mas minha mente ainda insiste em fantasiar. Tudo bem. Eu ainda conheço o limite de minha imaginação.

— Nada em especial – ele responde. E depois sorri. É um sorriso que você não conhece e nem poderá. Exceto, talvez, se já tiver transado com ele. Mas Castiel não transa com muitas garotas. Ele não é assim e isso não é fantasia minha.

Eu movo minha cabeça e volto a encarar o teto. Alguns minutos de silêncio se seguem entre nós, antes que ele deslize o braço sobre a cama e toque minha bochecha com os dedos. Sua carícia me arrepia. E ainda mais quando ele sobe sua mão e afaga os meus cabelos.

— No que está pensando? – ele pergunta, travesso. Eu me pego sorrindo. Meu coração não bate forte e nem se exalta, mas eu ainda largaria tudo hoje se soubesse que Castiel me amaria amanhã de manhã.

— Nada em especial – respondo e ele volta a sorrir, soltando um gemido manhoso enquanto move-se suavemente pela cama na minha direção.

— Você está sempre pensando em alguma coisa – sussurra-me, acariciando minha bochecha. – Sua mente é uma bagunça.

Sinto minha face contorcer-se em uma careta involuntária.

— Eu não sou assim – resmungo. – Eu sou lenta. Devagar, quase parando.

Uma risada rouca escapou por sua garganta. Sou seu parque de diversões particular.

— Você diz isso, mas... sabe que não é verdade. Você não é lenta, é acelerada demais. Sua mente está sempre correndo.

Pode ser verdade, eu digo a mim mesma. Sim. Tem muito bagunça aqui. Tem muita informação também. Como se uma epifania me sobreviesse a cada manhã. Eu solto um resmungo contido.

— Na verdade, eu... estava pensando sobre os boatos que correm na escola.

— Boatos? Você está sempre cheia de boatos. Quais são os boatos?

Não é culpa minha. Digo, o lance dos boatos. Eu não vou atrás deles e também não os espalho. Eles apenas... chegam até mim. E eu... eu os mantenho dentro dessa minha cabeça bagunçada.

— Tem uma garota nova na escola – continuei. – Dizem que ela vive correndo pelos corredores, sempre procurando alguma coisa. Como ela se chamava mesmo... Doh... Do... Docete?

O Garoto Da Minha Turma [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora