A casa de John ficava em um bairro mais afastado do centro. Não era muito grande, mas com certeza maior do que a de Lia. Ela fora a primeira a chegar, Mali dissera que ia se atrasar alguns minutos e ninguém sabia se Vítor iria a reunião. Os pais e a irmã de John estavam trabalhando portanto os dois estavam sozinhos. O garoto parecia nervoso, não parava de esfregar as mãos nas pernas, Lia estava sentada em frente a ele no sofá da sala. Os dois estavam em um silêncio constrangido. Ela estava prestes a dar uma desculpa e fugir dali quando seu celular vibrou, Lia suspirou de alívio ao olhar para a tela e ver que era uma mensagem de Mali.
— Ela já está chegando — John anuiu.
— Ela sabe se — ele pigarreou como se a voz estivesse falhando — Ela sabe se Vítor vem?
— Eu não sei, ela não me disse nada.
— Tudo bem — John encarou o chão acarpetado.
Alguns minutos depois Mali chegou. Estava ofegante, a noite estava quente e a caminhada até lá fora longa, não queria correr o risco de alguém saber para onde ela ia pegando um transporte, não era de seu feitio andar por aquela parte da cidade.
Lia e John a aguardavam na entrada da casa. Ela sentiu certo desapontamento ao ver que Vítor não estava lá, mas não estava surpresa.
— Vocês estão sozinhos? — ela indagou ao fechar a porta atrás de si.
— Sim, meus pais e minha irmã vai demorar. A gente tem tempo.
— Bom, onde a gente pode fazer a reunião? — John aponta para os sofás paralelos da sala.
— Pode ser aqui mesmo.
Lia apressou-se em sentar no menor dos sofás e Lia e John dividiram o outro. Ela tirou o celular do bolso da calça e notou dezenas de mensagens de sua mãe. Foi difícil conseguir despistá-la, sua vontade de arrastá-la para o shopping não poderia ter vindo em um dia pior, mas conseguira fugir e só precisaria enfrentar a fúria de sua mãe quando chegasse em casa. Ela apagou a tela do celular e encarou Lia. A garota a fuzilava com o olhar.
— Que foi? — Lia cruzou os braços.
— Como assim o que foi? Você chamou a gente aqui, faz quase uma hora que estamos esperando — suspirando Mali se recostou no encosto do sofá.
— Não seja exagerada. Tive alguns problemas, mas já estou aqui.
— E então? O que vamos fazer? — John remexia as mãos.
— Bom, eu reuni vocês exatamente para discutirmos um plano — Lia bufou.
— Ah que ótimo! Você sequer pensou em algo — abruptamente Mali tirou as costas do sofá e se inclinou chegando mais perto dos dois.
— É aí que você se engana. Eu pensei em algo na verdade.
Antes que ela pudesse falar uma batida na porta assustou a todos. John olhou para a porta, mas continuou sentado.
— Você não disse que seus pais e sua irmã estavam trabalhando? — Mali sussurrou. Ela não achava que a pessoa do lado de fora conseguiria a ouvir, mas não pode evitar.
— Estão. E mesmo se não estivessem, eles têm a chave, não bateria na porta — ele se levantou e começou a se dirigir para a porta — Eu vou abrir — John também sussurrava.
Mali foi atrás dele sendo seguida de perto por Lia. Seu coração palpitava. Mesmo que ela tentasse se convencer de que ninguém sabia onde eles estavam, Mali não conseguia tirar da cabeça o pensamento de que poderia ser o assassino atrás da porta, o que era ridículo pois assassinos não costumavam bater.
John estendeu a mão e girou a chave. Rapidamente girou a maçaneta e abriu uma pequena fresta. Ao espiar pelo espaço entre a porta e a parede seus ombros relaxaram e ele abriu a porta.
Vítor estava do outro lado. Parecia hesitante. Ele encarou Mali por cima do ombro de John e abriu um pequeno sorriso, ela retribuiu.
— Entre — John abriu espaço para que ele entrasse e após alguns segundos de relutância ele entrou na casa. Seus olhos fixos em Mali.
— Pensei que você não vinha — John fechava a porta atrás deles enquanto Lia voltava para o sofá. Os dois ficaram parados.
— Eu pensei no que você disse — Mali anuiu. John passou por eles e sentou com Lia.
— E o negócio com seu pai? — eles começaram a se dirigir ao sofá restante. Vítor deu de ombros.
— Ele pode esperar.
Vítor e Mali sentaram no sofá restante que era menor do que o outro o que fazia com que ficassem mais próximos, suas pernas quase se tocavam.
— O que você ia dizer? — Lia indagou.
— O que? — Mali estava distraída. Lia revirou os olhos.
— O que você ia dizer antes do bonitão chegar — ela apontou para Vítor. Mali engoliu em seco. Não sabia porquê, mas a forma como Lia se referiu a Vítor a incomodou.
— Ah sim, isso. Eu estava pensando, o que nós sabemos sobre Brícia? — os quatro se entreolharam confusos.
— Eu não a conhecia — Vítor falou.
— Nem eu — John reforçou.
— Eu a vi algumas vezes de longe, mas nunca falei com ela. Não éramos do mesmo grupo — Lia encarava os sapatos.
— Nem mesmo no Boomi? — Mali perguntou. Lia negou com um movimento de cabeça.
— Não. E você?
— Também não a conhecia.
— OK, então nenhum de nós a conhecia, e daí? — Vítor se encostou na lateral do sofá ficando de frente para Mali — ela lamentou a distância, e logo em seguida se repreendeu mentalmente.
— E daí que deveríamos conhecer mais ela — os três olharam confusos para Mali.
— Acho que agora é um pouco tarde. Ela está morta — Lia teve coragem de falar.
— Acho que vocês não entenderam. A gente precisa saber mais sobre ela, sobre a vida dela — os rostos continuaram sem compreensão, então ela explicou melhor — Eu acho que nós podemos encontrar alguma pista. Eu vi uma vez em um filme que...
— Agora vamos basear nossas ações nos filmes que você assiste? — Lia não perdia a chance de alfinetar. Mali já estava começando a se acostumar com sua personalidade, portanto nem se incomodou.
— Como eu estava dizendo, eu vi num filme que o assassino costuma rondar a vítima. Frequentar os mesmo lugares que ela. As vezes é até um amigo próximo.
— Você acha que ela foi morta por alguém próximo? — Vítor indagou. Para alguém que achava aquilo tudo uma bobagem ele estava bastante interessado, Mali observou.
— Não sei, mas com certeza era alguém que tinha livre acesso a ARE.
— Pode ser qualquer um então. Aquele lugar é imenso, muita gente entra e sai todo dia — John falou.
— Por isso que precisamos investigar a vida dela, assim conseguiremos filtrar os suspeitos.
— E por onde devemos começar? — Lia começava a se interessar.
— Acho que... — ela encarou a todos que prestavam total atenção nela. Mali nunca tivera todo esse tipo de atenção sobre ela, pelo menos não por uma boa causa — Acho que deveríamos nos dividir entre os amigos e a família.
— Eu posso ver se descubro algo da família, meus pais conhecem os pais dela — Vítor ofereceu. Mali anuiu.
— Eu também. Meus pais costumam frequentar bastante festas, devem conhecer alguém.
— Então nós ficamos com os amigos? — Lia se dirigiu a John.
— Por mim tudo bem. Não conheço muitas pessoas, mas tenho conhecimento de tecnologia posso fazer algumas pesquisas.
— Isso é ótimo! — Mali estava ansiosa seu plano estava indo bem.
— Mas o que devemos procurar especificamente? — Lia perguntou.
— A gente pode começar descobrindo os hábitos dela: o que fazia, com quem andava, onde morava — Mali enumerou nos dedos enquanto falava.
Um barulho na porta chamou a atenção de todos. Dessa vez Mali sentiu seu sangue gelar, Vítor já estava com eles.
John encarou a porta paralisado quando uma garota mais velha e parecida com ele entrou. Mali observou ele relaxar quando a viu.
A garota guardou a chave nos bolsos e começou a andar em direção ao corredor quando os viu e paralisou.
— Olá — ela buscou John com uma interrogação no olhar.
— Olá — todos responderam em uníssono. John se levantou e apressou-se em apresentá-los.
— Pessoal essa é minha irmã Luci — ele apontou para a garota em seguida se virou para eles — Esses são meus... meus amigos, Vítor, Mali e Lia — ele apontou para cada um quando falava os nomes. Luci acenou para todos, mas acabou se demorando mais em Lia.
— Achei que você estava trabalhando.
— Eu saí mais cedo — ela exibiu um sorriso cúmplice — Bom, eu vou... — Luci apontou para o corredor atrás dela e o seguiu.
Os quatro suspiraram aliviados. Mas Mali o coração de Mali ainda batia descompassado. Eles não podiam deixar que ninguém soubesse de seus planos.
— Acho que devíamos ir — ela observava o corredor para ter certeza de que Luci havia sumido enquanto levantava do sofá. Vítor e Lia também se levantaram.
— Também acho — Vítor falou. Mali pensava se ele a acompanharia até em casa como no outro dia. Ela não sabia se deveria ficar feliz com aquilo, mas com certeza sentia algo.
Os quatro seguiram até a porta e Mali observou o modo como os olhos de John seguiam os movimentos de Lia. Ela se perguntava como não havia percebido aquilo antes.***
— Ei nerd! — Luci saiu do corredor e entrou na sala onde John estava sentado no sofá mexendo no celular. Mali, Lia e Vítor haviam acabado de sair. Ele levantou os olhos para a irmã.
— Que foi?
— O que vocês estavam fazendo? — ela apontou para a porta com o queixo enquanto se jogava no sofá em frente ao irmão. John engoliu em seco. Ele já havia pensado em algumas desculpas para dar a seus pais ou sua irmã caso perguntassem algo, mas ainda assim o incomodava o fato de mentir.
— Um trabalho da escola — ele deu de ombros tentando parecer despreocupado voltando os olhos para a tela do celular.
— Imaginei. Eles são... diferentes.
— Como assim?
— Não sei. Não é o tipo de gente que andaria com você — John a fitou.
— Qual é o tipo de gente que andaria comigo? — Luci abriu a boca, a fechou, em seguida abriu novamente.
— Não sei — ela sorriu. John gostava do sorriso da sua irmã, mesmo que fosse zombando dele. Ela se endireitou no sofá ficando séria.
— Aquela garota, a do cabelo vermelho. Parecia bem rica — ela falava de Lia. John não entendeu onde sua irmã queria chegar, mas seu coração bateu mais rápido apenas a sua menção. Será que Luci havia notado algo?
— Todos os três são. Por quê? — ele perguntou cautelosamente.
— Nada. São só... diferentes — ela repetiu o que havia dito e sorriu quando percebeu isso — John deu de ombros.
— A maioria dos alunos da ARE é assim.
— OK. Eu vou dormir. Tô muito cansada — Luci levantou do sofá e seguiu em direção a seu quarto deixando John sozinho com seu celular.
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Clube das onze
Science FictionUm crime. Um corpo na biblioteca. Quatro estudantes. Uma investigação. Quando os raios solares se tornam muito prejudiciais a saúde, o ser humano começa a ter uma vida mais ativa durante a noite e se isolar nos horários de sol. É nesse mundo de escu...