PARTE VI

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Pandora colocou a mochila nas costas e foi caminhando para fora da escola. Caminhava a passos largos e lentos, encarava o horizonte e não prestava atenção no mundo periférico.

- Ei, Pandora! - Uma voz ansiosa atingiu seu ouvido, vinda de algum ponto do seu lado esquerdo, enquanto Pandora passava pelo corredor em direção à saída. Era o Menino Bom que, rapidamente, levantou-se do banco onde estava e se aproximou de Pandora.

- Para onde você vai? Tem algum compromisso agora? – questionou com uma expressão ansiosa o Menino Bom.

- Acho que tenho umas coisas para resolver. - respondeu Pandora, colocando a mente para trabalhar em uma desculpa melhor para fugir de qualquer sugestão de compromisso que ele pudesse fazer.

- Estou com isso aqui... - O Menino Bom abriu a mochila, meio sem jeito, e mostrou para Pandora a garrafa vodca, o maço de cigarros e um pacote grande de maconha prensada em papel manteiga.

- Fecha isso! - advertiu Pandora, admirada com a falta de perícia do Menino Bom para apresentar coisas ilícitas em público.

- O que minha agenda tem a ver com isso da sua mochila? - indagou Pandora.

- Achei que você ia gostar. – O nervosismo do Menino Bom ficou ainda mais visível pelas manchas vermelhas que surgiram no seu pescoço e contaminaram seu rosto.

Pandora não tinha, ou pelo menos não lembrava, compromissos em sua agenda, mas, mesmo se tivesse, na atual conjuntura não vislumbrava nada mais tentador do que uma oferta gratuita de uso de drogas. Ficou surpresa com a quantidade e a qualidade dos produtos apresentados a ela, era uma ceia cara.

- Onde você usa isso? - perguntou Pandora.

- Tem uma casa. Lá pode usar. - respondeu o Menino Bom.

- Não posso ficar muito tempo. – Pandora cedeu.

- Quando for sua hora, te levo para sua casa.

Já houve época em que Pandora se preocupava em saber sobre os lugares que frequentava. Ultimamente não fazia muita diferença, já havia passado por tantos lugares estranhos que passou acreditar que, por pior que fosse o lugar, se acostumaria. Porém, estava segura de que, vindo de quem veio o convite, o lugar não poderia ser estranho. Aquele menino bem alimentado, com bebida e uma grande quantidade de drogas caras na mochila, não parecia ter a menor afinidade com lugares estranhos.

- Você pode esperar um pouco? Vou chamar o taxi pelo aplicativo. - perguntou o Menino Bom, retirando o telefone celular do bolso.

- Vou pensar. - ironizou Pandora, lembrando que os lugares mais estranhos que frequentou nenhum taxista ousaria se colocar.

O taxi os deixou a uns 5 minutos da escola. Pandora notou que o lugar não era distante da escola, porém nunca estivera por ali. Era um condomínio de luxo, em uma casa de esquina, com muros altos. O Menino Bom tocou o interfone, e logo a porta automática abriu.

- Pode entrar. – disse o Menino Bom segurando o portão grande de madeira maciça.

Pandora entrou, e logo que cruzou a porta, identificou algumas pessoas sentadas à beira de uma grande piscina, ao lado de um jardim planejado, com grandes palmeiras e algumas outras plantas decorativas.

- Que milagre você ter vindo. – disse o Menino Fútil que, segurando uma lata de cerveja, se dirigiu até Pandora e executou um antiquado ritual de cavalheirismo, segurando e conduzindo uma de suas mãos aos lábios.

- Verdade. – Pandora recordou que essa era a reunião que o cavalheiro brega lhe tinha feito convite na hora do intervalo da escola.

- A casa é de vocês, fiquem à vontade e onde quiserem. - disse o anfitrião.

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