Capítulo 10

418 30 1
                                    

    Derek observava atentamente o corpo à sua frente. Havia algo extremamente bizarro na situação; era uma mulher, nova e talvez até tivesse sido bonita, com um vestido de gala rosa choque, uns sapatos de salto alto bastante altos e maquilhagem elegante a embelezar os olhos azuis e a boca cheia de uma loira rica. No entanto, a expressão no rosto da mulher e a terra que a cobria deixavam a sua beleza literalmente manchada. A mulher tinha sido abandonada na floresta e o pavor que o seu rosto mostrava quase que se tornava palpável. Era disso que ela tinha morrido: medo, do mais puro e intenso. Derek conseguia cheirar o medo que dela saía e que se impregnara no chão à sua volta. Aquela mulher tinha morrido de puro medo.

    Jordan Parrish observava Derek, à espera que o lobisomem dissesse alguma coisa, ao mesmo tempo que tentava dar alguma atenção ao homem que encontrara a pobre mulher. O policial sentia-se desconfortável, sentindo como se não devesse estar ali, como se houvesse um fio que o puxava para outro lugar. Quando fechava os olhos, imagens que não lhe pertenciam apareciam: Eichen House, um homem de olhos imortais, uma floresta negra... Aquelas imagens não lhe pertenciam, ele sabia disso. No entanto, não conseguia perceber de onde vinham.

    Junto de Derek, Malia e Chris faziam a sua própria avaliação do corpo. A jovem coiote quisera ir com eles, curiosa com os tais Relicta que a fada falara. Nem Derek nem Chris se opuseram, sabendo perfeitamente que Malia estava mais que preparada para ver cenas de mortos.

- Eu tenho uma dúvida.- Malia disse, olhando para Chris- Não acham estranho que a Lydia não tenha vindo encontrar nenhum destes corpos?

    Chris pestanejou, surpreendido. Aquilo não lhe tinha ocorrido. Derek, por outro lado, pareceu não entender. Malia encolheu os ombros.

- Dantes era sempre a Lydia que encontrava os corpos ou soltava o grito de Banshee para dizer que alguém morreu mas... Desde que chegou a Beacon Hills, mesmo com estas mortes e ataques esquisitos, ela não veio à procura de nenhum dos corpos e o grito que ela soltou teve a ver com a chegada de Ella, não com as mortes. Isso não é estranho?

- Achas que a fada tem alguma coisa a ver com isso?- perguntou Derek, encarando Chris.

    O caçador passou a mão pelo rosto, sentindo-se cansado. Costumava sempre saber o que enfrentava e andava preparado para qualquer ataque. Agora, parecia que o sobrenatural lhe era estranho e passava sempre ao lado. Enfrentara tantas criaturas, lera tanto sobre cada uma delas... Como podia estar tão despreparado? O que acontecera ao caçador sagaz que todos conheciam e temiam?

    Pensou em Melissa, vestida de noiva. Encontrar o amor depois da morte da sua mulher nunca estivera nos planos mas também só Melissa teria tanta garra como a sua mulher tinha. Pensou em Alisson, a sua querida filha, que morrera para salvar os amigos, ela que fora obrigada a ser caçadora muito nova e a enfrentar coisas que nenhum caçador normal algum dia teve de enfrentar. Suspirou. O corpo daquela mulher estava na mesma posição que o de Alisson estivera, uma morte provocada por criaturas más. Ele tinha de estar preparado, desse por onde desse.

- Precisamos falar com a Lydia, saber o que ela pensa sobre isso.- respondeu por fim, vendo Derek assentir.

- Esta mulher morreu de puro pavor, Chris. Tal como todos os outros.- afirmou o lobisomem, ao que Malia assentiu.

- É só o que sinto aqui. O medo, é tão forte... Que pesadelo ela terá vivido?

- Algo muito forte. A questão é: como é que o Xerife sobreviveu?- questionou Parrish, aproximando-se.

- Vencendo o medo.- respondeu Chris, analisando o rosto da mulher morta - De alguma forma ele venceu o medo que os Relicta provocaram. Isso quer dizer que há um sério risco de possessão.- virou-se para Parrish, sério- Achas que consegues pôr segurança reforçada no hospital? Ella não explicou os estragos que os Abandonados podem provocar após a possessão mas... Se são feiticeiros e utilizadores de Magia Negra, é melhor ter toda a segurança possível.

    Parrish assentiu. Com um aceno, chamou os policiais que o acompanhavam, trazendo nas mãos o saco onde iriam pôr o corpo. Com cuidado, colocaram a mulher loira lá dentro, fechando-lhe os olhos. Mesmo assim, ainda era possível ver o pânico na sua expressão, a última coisa que vira gravada para sempre no seu corpo.

- Temos de parar estas coisas.- disse Malia, desviando os olhos daquele cenário.

- Nós vamos pará-los.- assegurou-lhe Chris, com certeza.

    A questão era como.

*************************************
- O que a minha mãe te fez?

    O homem de nome Lorenzo tremia, os olhos fixos no rosto. Ella perguntava-se o que ele veria. Uma fada? Uma assassina? Ou o rosto da mãe? Um pensamento assolou-a, deixando-a em pânico.

- Alan.- chamou, virando-se para o veterinário- Eu esqueci-me completamente. Eu... Eu...

- A tua maldição não funciona comigo, criança.- a voz de Lorenzo sobressaltou-a, o corpo já sem tremer- A Magia Negra pertence-me tanto como pertence a ti.

    O homem pousou as mãos no vidro da cela, encarando Ella demasiado perto, fazendo a fada recuar um passo por instinto.

- A tua mãe tirou-me tudo. A minha família, a minha bondade... Ela veio ter comigo há milhares de anos, bela como a noite, encantando-me com doces palavras, prometendo que me levava para o Reino das Fadas. Ninguém nunca lá entra, nenhuma criatura sem ser feérica alguma vez pôs o pé na Terra Encantada...

- Lorenzo foi um grande Druida no seu tempo.- disse Deaton, os olhos escuros a tentarem esconder a pena que sentia daquele homem- Contam as lendas que foi Lilith que o levou para a Escuridão...

- E foi!- exclamou o imortal - Eu era insaciável, sempre em busca de conhecimento e ela sabia. Tudo o que Lilith queria era um feitiço, um que só um Druida podia ter acesso.

- Um feitiço?- questionou Ella, sem entender - Nós não praticamos feitiçaria.

- Não é um simples feitiço, princesa. O feitiço que Lilith queria estava escrito no livro mais bem guardado da Biblioteca dos Druidas. É um livro proibido, com feitiços e maldições que podiam destruir este e qualquer mundo. Nunca ninguém o leu... A não ser eu.

    "É por isso que estou aqui trancado. Passei a ser um poderoso Darach no momento em que pus os olhos nas palavras do livro, uma ação que manchou a minha alma para sempre. Fui um fantoche nas mãos de Lilith, que usou a minha loucura para que fosse eu a assassinar a minha mulher e os meus filhos e a entregar-lhe o livro. Ela usou-me e eu... Eu fui demasiado fraco para a resistir."

    Lorenzo respirou fundo, olhando nos olhos de Ella com tristeza.

- Lilith precisava de um Druida mas também de um companheiro. Nos breves momentos em que eu recuperava a lucidez e chorava de remorso, Lilith seduzia-me e fazia-me apaixonar por ela, gesto por gesto, enquanto eu lhe lia o feitiço que ela tanto queria e a ajudava a prepará-lo.

- Tu... Apaixonaste-te pela minha mãe? - questionou Ella, sentindo-se tonta - Depois do que ela te fez?

- As fadas são mestres da ilusão e da mentira, Ella. Está na vossa natureza, querendo ou não. Nós, Druidas, apesar de termos o dom do conhecimento, continuamos a ser humanos. - Lorenzo fez uma pausa, os olhos perdidos no rosto de Ella, como se não a reconhecesse- Eu só deixei de ser útil para Lilith quando ela ficou grávida e teve algo muito importante para uma rainha.

    O estômago de Ella contraiu-se, como se alguém lhe tivesse acertado com um soco. Os olhos imortais de Lorenzo não a largavam, tão parecidos com uns que ela conhecia bem.

- Um herdeiro.- constatou Deaton, com pesar.

    Lorenzo assentiu, infeliz.

- Nadika foi a primeira filha da Rainha Lilith, um inconveniente para os seus planos mas uma agradável surpresa para o seu povo, que a aclamou e amou desde o primeiro instante. Uma rainha sem herdeiro não tem valor e Lilith teve de aceitar isso, com algum esforço.

- Nadika... - sussurrou Ella, estarrecida - Nadika era...

- Minha filha. - lágrimas de sangue escorreram pelo rosto de Lorenzo - Nadika era minha filha.

Faded 🐺 𝗧𝗪 ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora