Capítulo 3

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    Scott McCall observava cautelosamente o seu melhor amigo, escutando as batidas descompassadas do seu coração e o barulho enervante do seu pé a bater no chão repetidas vezes. Stiles ergueu o olhar cansado assim que a porta do quarto de hospital se abriu, por onde Melissa saiu. Scott conhecia a mãe muito bem e sabia o que aquele olhar significava, sabia que não eram boas notícias.

- Como ele está?- perguntou Stiles, pondo-se de pé de imediato.

     Melissa baixou a cabeça, retirando as luvas de latex bruscamente.

- Está estável Stiles mas não houve melhoras. Não sei mesmo o que se passa com ele, o organismo dele parece que simplesmente não quer funcionar. Não há sinais de doença, nem cancro, nem rigorosamente nada.- passou a mão pela cara, frustrada- Lamento muito Stiles, não houve nenhuma alteração.

     Stiles baixou a cabeça. Scott trocou um olhar significativo com a mãe. Nenhum deles tinha contado a Stiles sobre a estranha rapariga sobrenatural que Derek encontrara na noite anterior, apesar de ambos saberem que mais tarde ou mais cedo iriam ter de o fazer, no entanto, fora Lydia que lhes pedira para não o fazer.

- Stiles, vai para casa. Vai descansar, nós sabemos que passaste a noite aqui de novo.

     Era verdade. Depois de desabafar com os seus antigos amigos, regressara ao hospital, tendo dormido de boca aberta na sala de espera, contra os protestos do segurança, que apenas o deixou ficar porque era o filho do Xerife. Só acordara quando Scott gritara o nome dele, assustando-o.

- Sim, eu vou.- respondeu, cansado- Mas volto logo a seguir ao almoço, se houver alguma alteração até lá...

- Nós dizemos-te.- o lobisomem pousou uma mão no ombro do rapaz, num gesto de conforto- Ele vai ficar bem, mano.

     Stiles assentiu. Olhou para si mesmo, fazendo uma careta. Precisava de um banho, mudar de roupa e de comer. Não sabia há quantos dias não comia como deve ser. Talvez pudesse ganhar coragem e convidar Lydia para almoçar. Descartou a ideia. Acenou fracamente aos McCall e foi-se embora, a cabeça mergulhada em pensamentos.
Melissa suspirou, triste.

-Vou continuar a pesquisar e a monitorizar o estado do Noah.- lançou um olhar para a porta do quarto, de onde se conseguia ver o homem mais velho deitado na cama como se tivesse a dormir pacificamente- Ele tem de ficar bem, Scott.- uma lágrima escorreu pela cara da enfermeira, que a limpou devagar- Pelo Stiles.

     Scott assentiu, ainda a olhar para onde o amigo saíra. O som do telemóvel a tocar despertou-o, metendo a mão no bolso para o agarrar. O nome "Derek" brilhou no ecrã, insistente.

- Sim?- atendeu, escutando a voz grossa e zangada do seu mentor do outro lado da linha.

- Estamos na clínica.

- Estou a caminho.- respondeu, dando um beijo na testa da mãe- Não comecem sem mim. Quero saber exatamente o que aconteceu.

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    Isaac observava cautelosamente a marca no seu braço. Semelhante a uma tatuagem, a delicada folha parecia ter sido marcada a fogo, de forma a que a sua pele não regenerasse. Ergueu a cabeça, encarando Deaton, que terminava de estancar o sangue negro que saía do buraco feito pela bala que o atingira.

- Então não sabes quem ela é?- perguntou-lhe, corrigindo-se logo em seguida- O que ela é?
O veterinário abanou a cabeça, passando a mão no desenho.

- A vossa descrição não me diz muito. Pode ser uma bruxa, um demónio, uma fada. Não consigo perceber só pelo facto de ter sombras a surgirem nas suas mãos.

- E ela simplesmente foi-se embora?- questionou Scott, passando o olhar de Chris para Derek.
Os homens mais velhos entreolharam-se. Chris abanou a cabeça.

- O que quer que ela seja, é perigosa. Precisamos encontrá-la. O que quer que isto seja- apontou para a marca no seu braço, Negra como carvão- Assustou-a. E isso é preocupante. Precisamos encontrá-la e obter respostas.

- Ela virá ter connosco.

    A voz de Lydia ecoara pela clínica, fria. Ninguém dera por ela entrar. Estava encharcada dos pés à cabeça, as pupilas dilatadas. Ao seu lado, Malia encolheu os ombros, igualmente encharcada.

- Ela obrigou-me a vir até aqui. A pé.

- A rapariga virá ter connosco. - a ruiva repetiu, com certeza- Não tem mais para onde ir.

   Deaton aproximou-se da banshee, observando-a erguer os olhos vazios para ele.

- O que sentes, Lydia?

- A Escuridão chegou a Beacon Hills.- sussurrou- Nada a irá parar.

- Que escuridão?- Scott olhou para Malia, que parecia assustada.

    Lydia abanou a cabeça. As vozes sussurravam, incansáveis.

    A Escuridão está a chegar.

    E sem aguentar mais, Lydia gritou.

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    Os joelhos de Ella cederam, embatendo com força na terra molhada da floresta que rodeava aquela odiosa cidade. Vagueara por aquelas ruas todo o dia, mesmo com a chuva que caía e a encharcara, observando as pessoas que a encaravam de soslaio, sentindo as suas mentes a trabalharem para descobrir quem ela era. Rapidamente se apercebera da aura estranha que pairava sobre a cidade, uma aura de morte e dor que nunca chegava a abandonar Beacon Hills. As sombras deliciavam-se com aquilo, sugando energia de cada beco escuro, de cada pessoa que um dia já fora Má.

     E ali já todos tinham sido maus, levados pelo medo e pela ignorância.

    Ella passara o dia a combater aquela energia hedionda que as sombras queriam que ela usasse a seu favor, por isso caía exausta entre as folhas mortas, enterrando as mãos arranhadas na terra. Pela primeira vez desde que fora exilada, Ella permitiu-se chorar. Uma enxurrada de dor assolou-a e ela desabou, permitindo sentir os soluços violentos que a acometiam, deixando lágrimas cor de sangue escorrerem pela sua cara, pois já nem isso era puro nela. Por breves momentos, as sombras deixaram-na e Ella chorou, enrolando-se no chão, desejando ser abraçada pela natureza como em tempos fora.

    Pensou na sua irmã mais velha, desejando que ela estivesse com ela, que a apoiasse, que a guiasse como sempre fizera. Ella não sabia o que fazer, não tinha para onde ir e tudo o que desejava era morrer para acabar com a Escuridão que a consumia. O pensamento assolara-a vezes sem conta ao longo do dia mas sabia que isso seria desonrar o nome da irmã. Tentou lembrar-se daquela fatídica noite, mas não conseguia. Tudo era um borrão, como sempre fora em todos os seus anos de tortura.

    "Vais deixar que continue a ser?"

    A voz da irmã inundou-a, calma e acolhedora. Ella suspirou, sentando-se. "O que me aconteceu irmã?" perguntou Nissa na sua cabeça, provocando-a.

- Não sei.- respondeu Ella, passando a mão na cara, frustrada- Eu contínuo sem saber.

- Não estará na altura de descobrir?

    Ella ergueu-se de um salto, esticando as palmas das mãos para que as sombras surgissem, prontas para atacar. Uma mulher encarava-a, com a sua pele negra coberta por um vestido dourado, uma lança na sua mão direita, os lábios cerrados numa linha fina e os olhos rasgados inundados por um brilho feroz. Ella deu um passo atrás, atordoada, sentindo o ódio ferver no seu sangue, as sombras felizes por poderem desfazer a inimiga da sua princesa.

- Alliara.- rosnou a princesa da Escuridão, atirando-se à fada que a torturara durante anos.

    A chefe da Guarda real e outrora melhor amiga de Nadika.

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