Entre Acasos e Encontros

Capítulo IV

Mudar de casa é sempre algo complicado, é preciso deixar tudo pra trás e partir tendo na bagagem, entre outras coisas junto com todos seus pertences, esperança que a mudança vai dar certo, e talvez um pouco de sorte também, era sempre bom poder contar com ela.

Dominique já havia se mudado algumas vezes, primeiramente de seu país que ela conhecia como casa, morou em Puerto Rico com sua família quando era pequena, ainda se lembra das cores, da vibração, a alegria do povo junto com a simplicidade, e claro do idioma, sua língua nativa sendo o espanhol, tem muitas memórias de seu amor pelo mar e as águas claras do caribe, era um verdadeiro paraíso tropical.

Por problemas econômicos e políticos na época, seus pais acabaram saindo do país e se mudando para o Canadá, inicialmente pensaram nos EUA, mas não queriam morar num país que trata qualquer imigrante, principalmente os latinos, como escória e pessoas de segunda classe, era muito estigma ter que lidar com o fato de serem negros, latinos, imigrantes. Assim, acavaram decidindo pelo Canadá que tinha uma política migratoria mais liberal, onde se estabeleceram em Toronto. Essa é a cidade conhecida pela sua diversidade e multiculturalismo, há diversos bairros que representam as mais diversas nações e culturas, como os bairros chineses, italianos e claro, latinos.

Dominique se adaptou muito bem a essas mudanças, como o idioma novo, o clima e as pessoas, mas apesar de seus pais trabalharem vendendo e cultivando verduras orgânicas e morando num local mais afastado do centro, não gostava daquele movimento de metrópole que não parava nunca, gostava de tranquilidade, o que refletia com personalidade de pessoa tranquila (alma de velha, como costuma dizer sua melhor amiga, Sunny). Aliás, Sunny foi um dos motivos para ela se mudar, era muito apegada com sua melhor amiga e sentia falta dela desde que ela começou a fazer faculdade em Vancouver, assim, decidiu seguir a amiga e se mudar. Mais uma mudança na sua vida, dessa vez de seu lar e de sua família, seus pais e seu irmão mais velho e irmã mais nova.

Já morava em Vancouver há uns dois anos, e não se arrependia da sua decisão, sua nova cidade era bem mais calma e tranquila, tinha vistas lindas que iam do mar aos bosques e montanhas, e ela adorava esse contato com a natureza. Dividia um apartamento pequeno com Sunny, e também com os dois gatos que elas resgataram da rua. Era um pouco afastado do centro, por isso elas conseguiam pagar.

Foi numa das noites fazendo tofu em casa que Dominique decidiu e Sunny foi arrastada de livre e espontânea vontade que iriam vender queijos vegetais na feira orgânica, e deu certo, ela conseguiu juntar dinheiro e viu que tinha bastante saída seus produtos. Pra completar sua onda de sorte, há uns meses atrás finalmente havia conseguido um emprego para trabalhar numa cafeteira e confeitaria vegana, sua vida estava entrando nos eixos.

Naquele domingo elas acordaram cedo para organizar os produtos que levariam para a feira e também suas marmitas de café da manhã e almoço pois o tempo era muito corrido de manhã e ela tinham que chegar cedo para não perder clientes. Sunny emprestava de um familiar um carro velho que só Deus sabe como ainda funcionava, era a japonesa quem dirigia, a única que possuia carteira de habilitação entre elas, Dominique tinha medo da direção.

"Caramba, toda semana esse carro fica com mais cheiro de peixe podre."

Sunny reclamou entrando no carro e abaixando os vidros rapidamente, esperando Dominique colocar as últimas caixas térmicas no porta malas.

"Rápido, vou morrer aqui, nem pra esse ar condicionado funcionar."

Finalmente a amiga havia entrado no carro e feito o mesmo ritual de abrir o vidro e colocar o cinto.

"Pior é pegar um tétano nessa lata velha. Dios mío, será que a gente vai ficar com esse cheiro?"

Torceu o nariz pro cheiro de peixes e frutos do mar, a razão era que o parente de Sunny tinha um restaurante japonês típico no bairro asiático e usava o carro para comprar mercadoria.