Capítulo VII

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"JULIETTE! C'EST QUOI? PODE ME EXPLICAR O QUE SÃO ESSAS MALAS NO SEU QUARTO?" 

Nem bem chegou em casa ja foi recebida com a mãe tendo um acesso. Respirou fundo antes de responder.

"São minhas roupas, como pode ver, maman." Uma das malas estava aberta revelando seu conteúdo, todo o resto das roupas que não tinha conseguido levar até o apartamento.

"E por que estão nessas malas? Aliás, cadê o resto das suas coisas?" A expressão de Charlotte, sua mãe, era feroz. Ela não era conhecida por sua calma e paciências, era muito explosiva quando notava algo errado, dava pra saber logo de cara quando Charlotte não gostava de algo. Inclusive, ela era uma das poucas coisas que fazia seu pai titubear nas palavras. 

Sua mãe andou pelo quarto, indo até seu closet e abrindo as portas com força. 

"NEM MESMO SEUS SAPATOS ESTÃO AQUI! Está indo viajar para algum lugar?"

Juliette queria ter evitado aquele momento, deveria ter voltado mais cedo para buscar o resto de suas coisas, mas não achou que sua mãe fosse entrar no seu quarto sem ela estar lá. Foi um golpe de azar. 

Ela se aproximou de sua mala, recolocando as coisas dentro e fechando-a novamente. Pôs a mala no chão junto das outras duas que faltara. Virou-se de frente pra mãe, cruzando os braços.

"Non, maman, não vou viajar. Vou me mudar."

O silêncio pela primeira vez tomou conta do quarto, então sua mãe piscava os olhos para ela, como se assimilasse o que foi dito. Gradativamente o rosto da mulher, que parecia muito com o seu próprio, tinha nariz reto e feições angulares, só os olhos eram um pouco mais escuros, foi se tornando mais sério. 

A filha sempre fazia de tudo para não aborrecer sua mãe, nunca tinha ido contra suas palavras, obedecia até mesmo quando Charlotte queria opinar sobre suas roupas nos bailes e encontros em que a família tinha que comparecer. Até aquele momento. Queria ter sua independência e começaria morando sozinha sem interferências.  

"Se mudar? Para onde?"

"Aluguei um apartamento e vou morar sozinha."

"Você não pode. Vous ne pouvez pas."

"Oui je peux. Posso. Tenho 25 anos, sou adulta, qual o problema, maman? Trabalho no escritório tanto quanto qualquer outro advogado, posso me sustentar. Sozinha."

"Você não é qualquer um, Juliette. Você é uma Bertrand. E tradição e honra vem antes de tudo nesta família. Imagine ce que ton père va dire? Já contou a seu pai? Ou ele não sabe também?"

"Não, não sabe."

"AHA! E só iríamos ficar sabendo quando você tivesse se mudado, não é mesmo?"

O rumo daquele assunto estava se tornando torturante para a mais nova, ela realmente queria ter evitado aquilo, não queria pensar na reação do pai. Ele com toda certeza ficaria ao lado de sua mãe.

"Os Bertrand-Dubois só saem de casa com autorização, ou com casamento, como bem sabe. E você não tem nenhum dos dois. E NÃO vai sair desta casa. Não tem minha permissão! Imagine só, o que vão comentar por aí, o que minhas amigas vão dizer? Seu nome, NOSSO NOME, vai ficar sendo falado, é isto que você quer? Deveria ter mais responsabilidade já que se acha tão adulta."

Aucht. Aquelas palavras a tinham acertado. Sabia que era verdade. Iria mesmo gerar comentário por vários anos, talvez, por ter saído de casa, quase uma rebelde. Palavra que ela não usaria para associar a si mesma. Sua mãe estava usando todas as fichas de coerção para fazê-la mudar de ideia, era sempre assim. Ela teria que estar muito certa, como estava, e quanto menos pensasse no assunto agora menos chances tinha de desistir. Não iria dar pra trás agora que já tinha alugado seu apartamento e comprado os móveis. Agradeceu por ter feito isso antes, talvez se não o tivesse feito, agora poderia estar tomando a decisão contrária ao que realmente queria. 

Entre Acasos e EncontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora