Capítulo 1- Só um dia normal

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30 de outubro de 2018

Foi o som do carro de Ember - meu vizinho fanfarrão e boboca – saindo antes do raiar do dia para o trabalho, que me acordou às 05h18 da manhã, – ou seria da madrugada? – pelo menos uma hora antes do meu horário habitual.

Uma coisa era certa: Ember precisava urgentemente trocar o escapamento daquela coisa, ou muito em breve receberia uma visita minha nem de longe hospitaleira.

Ao menos, foi o que eu pensei àquela hora do dia, fazendo bico para meu estado de humor significativamente alterado pelo sono interrompido. É claro que por mais que eu odiasse o meu vizinho barulhento, que fazia o favor de sempre dar uma festa na véspera das minhas provas, minha raiva provavelmente passaria antes que eu juntasse coragem para ir até a casa dele dizer umas poucas e boas.

Eu me levanto, arrastando o cobertor junto comigo.

Bocejo, esfregando os olhos.

Me acomodo na cadeira da escrivaninha, e ligo o computador, apertando os olhos quando a luz forte me fere em cheio.

Um a zero para o computador.

Sabe, poucas coisas tinham o poder de me deixar de mau humor, mas certamente dormir mal era um dos itens dessa lista. Na verdade, penso que qualquer pessoa normal se aborreceria com isso.

A segunda coisa, no entanto, chamava-se: Bloqueio criativo. E bom... lá estava minha redação de inglês – ou deveria estar se eu tivesse escrito alguma coisa – de três mil palavras para dali a três dias.

O que eu mais amo e/ou odeio no Halloween? –Eu leio pela décima nona vez o tema da redação, e como esperado, nada me ocorre.

Isso era um tanto estranho considerando que o Halloween – céus, já era amanhã? – coincidia com o meu aniversário.

Minha mãe abre a porta do quarto de mansinho, espiando pela porta meio aberta.

_Ah, você já está acordada! –Ela diz, vindo até mim. Ainda usava camisola e pantufas, o que significava que como eu, não fazia muito tempo que ela estava de pé. –Foi o Ember de novo? –Ela para atrás de mim e deposita um beijo em minha cabeça, antes de começar a massagear meus ombros.

_Mãe, fala com ele! –Eu peço, erguendo a cabeça para dirigir meu olhar mais dengoso a minha mãe. - Se ele tem grana para dar toda semana uma festa, certamente tem para arrumar aquela joça.

Minha mãe solta uma risada pelo nariz, balançando a cabeça.

_Ainda não conseguiu escrever nada, Zoe? –Ela torce os lábios, encarando a mesma página em branco que eu.

Balanço a cabeça.

_Eu sei. É patético. Principalmente considerando que o halloween também é o meu aniversário. As pessoas não têm sempre alguma coisa para falar sobre o próprio aniversário?

Minha mãe dá de ombros.

_Tenho certeza que vai pensar em alguma coisa. –Ela diz, caminhando em direção a porta. –Falando nisso, já pensou no que quer fazer amanhã?

Continuo encarando o monitor.

_As meninas vão querer sair, mas acho que volto antes das nove. Podemos pedir pizza e ver um filme!? –Sugiro.

_Zoe! –Eu olho para a minha mãe, que me encara com as sobrancelhas juntas. –É seu aniversário! Saia com suas amigas. Se divirta! Podemos ver um filme em família outro dia. Além do mais, que casa tem sossego no halloween?

Suspiro, me inclinando para trás com a cadeira.

_Você vai cair daí! –Minha mãe aponta, com certa aflição.

A Bruxa e o GólemOnde histórias criam vida. Descubra agora