Capítulo 2

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Todos nascem com o poder de lutar para mudar a realidade, pena que muitos se esquecem disso.

Seu terceiro trabalho foi um que aceitou pelo desespero, já estava nele há quase dois anos e praticamente todo dinheiro que tinha foi ganho  com ele.

Enquanto caminhava até o local de encontro de sempre, sua mãe veio em sua mente. Queria ir para casa e cuidar dela, porém não podia perder dinheiro naquele momento, não quando já estava tão perto de conseguir o valor para a passagem para Potissimum.

700 mil. Esse era o valor pelo qual todos trabalhavam tanto, uma quantia que ela achava absurda, sabia que nem se trabalhassem toda sua vida sem parar não conseguiriam juntar o bastante.

Enquanto andava apressadamente, para não ter o risco de se encontrar com alguém pelo caminho. Areia e pedrinhas entravam nos buracos de seus sapatos já gastos, aquele era o único par de calçados que possuía.

O silêncio naquela parte era imenso, já não existiam casas nem nada do tipo, estava perto da divisa que separava Inferius de Potissimum.

Logo seu melhor e único amigo entrou em seu campo de visão, ele era a única pessoa além de sua mãe que confiava e gostava de ter por perto.

— Está atrasada, mocinha. — ele disse sorrindo enquanto a abraçava.

Ela havia o conhecido no galpão há 3 anos, na época não se falavam, ele só trabalhou lá por um mês. Há quase dois anos esbarrou com ele e recebeu o convite para o trabalho.  De início recusou, porém a situação de sua mãe a levou a entrar nesse serviço suicida.

No início não confiava nele, por meses esteve com pé atrás em relação a tudo, mas com o tempo ele conseguiu se tornar a primeira pessoa a conquistar sua amizade e confiança.

— Qual a missão de hoje, capitão? — Sharaene perguntou rindo, quando estava na companhia dele se sentia alegre de uma forma que não conseguia explicar, por algumas horas parecia que a situação deplorável em que vivia não existia mais.

Rodolpho tinha 24 anos, era quatro anos mais velho que ela. Ele não possuía parentes vivos, era só mais uma pessoa sozinha no mundo. Sua estrutura era diferente dos demais rapazes da região, não era muitíssimo magro como todos costumavam ser pela falta de comida, seu corpo era forte e sua pele extremamente branca o que fazia contraste com a cor escura dela. Rodolpho possuía uma beleza singular, seus olhos eram de um tom verde meio amarelado, seus cabelos eram longos e de uma coloração quase branca, não existiam outras pessoas daquele tipo em Inferius.

— Teremos que assaltar mais um cientista arrogante, soldada.— ele respondeu fazendo uma careta, Sharaene sabia que ele odiava esse tipo de pessoa.

Esse era seu trabalho: roubar. Sabia que era errado, porém era a melhor opção que possuía. Quando ele fez a proposta ela achou um absurdo, aquilo ia contra tudo que já lhe foi ensinado como certo. Rodolpho usou inúmeros argumentos até conseguir fazer ela aceitar.

A aparência de Rodolpho não era o que havia de mais belo nele e sim sua bondade e vontade de ajudar. Ele não roubava para entrar em Potissimum e sim para dar aos mais pobres. Ele desejava derrubar o governo e acreditava fielmente que um dia conseguiria e isso tudo só fazia Sharaene o admirar.

Desde o começo assaltavam somente os ricos de Potissimum, porém nunca levavam uma grande quantia, somente o que não causaria desconfianças.

— O local é de difícil acesso? — ela perguntou, raramente assaltavam cientistas pois suas casas ficavam em áreas mais seguras de Potissimum.

— Sim, é o lugar mais difícil que já pensei em roubar. — ele respondeu, a expressão em sua face não era suave e otimista como os outros dias, isso a deixava insegura.

— Então por que iremos lá? — indagou confusa, não queria arriscar tudo, não agora que estava tão perto.

— Lá conseguiremos mais dinheiro. Tenho observado aquele local há bastante tempo. É bem protegido, mas tudo tem falhas e a segurança de lá também possui. — ele respondeu. Rodolpho nunca demonstrava medo, sempre acreditava que tudo era possível. Ela invejava isso nele.— Eles se acham tão superiores que nem cameras de segurança possuem.

— Não acho que seja uma boa ideia, estou com medo de algo dar errado.— ela sussurrou. Raramente revelava seus sentimentos assim, porém naquele momento realmente temia o que poderia acontecer.

— Não tenha medo, soldada. Quando lhe convidei para entrar nessa comigo, eu lhe prometi que sempre lhe protegeria, que daria tudo certo, e não vou deixar de cumprir minha promessa. Nunca! — Rodolpho disse sorrindo e pegando na mão dela, quando suas mãos se tocavam ela se permitia acreditar que tudo era possível.— Vamos.

Sem dizer nada ela começou a seguir ele. Um deserto se estendia até a área de Potissimum, quando tempestades de areia se formavam, castigava Inferius.

Uma pessoa entrou no campo de visão deles, aquilo os deixou alerta, nunca existia ninguém ali. Continuaram andando normalmente para não causar suspeitas, porém era inevitável não estranhar alguém naquele local.

Uma jovem andando apressadamente passou por eles sem nem olhar. Sua extrema magreza e roupas surradas mostrava que era somente mais uma pobre moradora dali. Sua expressão intrigou Nara, ela parecia não prestar atenção no caminho que fazia e nem em nada. Seu olhar estava vazio encarando o chão. Segurava algo que estava coberto por um pedaço de pano velho, seus pés estavam descalços e aquilo angustiava os dois, era impossível andar ali confortavelmente naquele chão quente.

— Queria poder ajudá-la.— Sharaene sussurrou olhando para trás, a jovem agora já corria.

Rodolpho também olhou, porém não disse nada, aquilo só o deixava mais frustrado, não podia nem proporcionar um par de sapatos para ajudar alguém. Sua mente também desejava saber o que ela fazia ali, nunca havia visto ninguém naquela área antes.

Logo os enormes muros que rodeavam Potissimum entraram em seu campo de visão, Sharaene sentia raiva toda vez que observava a magnitude daquele lugar, odiava o fato de alguns terem tantos e outros tão poucos. Injustiça; essa palavra se repetia inúmeras vezes em sua mente, não sabia como as pessoas viviam antes do declínio, mas esperava que vivessem de uma forma bem melhor que aquela.

— Lembre-se: isso não é errado. Eles que não merecem o dinheiro que possuem. — ele disse sem olhar para ela enquanto andava, conhecia ela bem demais para saber que todo dia ela duvidava se aquilo era correto.

Desde o primeiro dia que começou a assaltar, todas as vezes que iam roubar ele repetia a mesma coisa e com o tempo ela passou a acreditar naquela frase.

Cerca elétrica cobria toda extensão do muro, o que tornava impossível entrar pulando e tentar entrar pelo portão nem era uma alternativa, mas como em tudo na vida ali também existia uma falha.

Caminharam até chegar em uma parte contrária a do portão, Rodolpho mexeu nos arbustos que existiam rente ao enorme muro e tirou de lá duas pistolas.

Ali abaixo do arbusto, um pequeno túnel dentro da terra levava até o outro lado. Era difícil de acreditar que ninguém nunca percebeu aquela falha, porém tentavam pensar que era somente pelo fato de arbustos o encobrirem de todos os lados e por aquela parte da classe ter poucas casas. Não construíam muitas moradias nas localidades perto do muro, os moradores preferiam casas próximas ao centro.

— Está pronta? — ele perguntou.

— Sim. — respondeu convicta, porém um lado seu desejava desistir daquilo, não tinha um bom pressentimento naquele dia.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora