Capítulo 7

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Se arriscar as vezes pode ter resultados ruins, porém se não tentarmos nunca morrerá aquela dolorosa dúvida "e se...?".

— Se desculpe com sua mãe e não acredite no que esses folhetos prometem. — Rodolpho pediu e logo após depositou um beijo na testa de Sharaene.

Ele havia a levado para casa. Durante todo o trajeto ele repetia "não seja louca de entrar nessa competição". Todo o povo estava animado, comemoravam essa oportunidade, alguns choravam de felicidade, outros ousavam descrever aquele dia como um dos mais felizes de suas vidas. Rodolpho olhava para todos com pena, ele não conseguia acreditar no que o panfleto prometia.

— Eu vou me desculpar, capitão. — ela disse antes de entrar em casa.

Sua mãe estava se alimentando com um dos produtos que embalava em seu trabalho, um simples pó misturado com água que possuía sabor de sopa. Era o alimento mais barato e único que comiam há anos. Sempre desejou que sua mãe tivesse do bem e do melhor, mas isso nunca foi possível e ter que aceitar aquela situação era algo que estava fora de seus planos.

— Desculpa. — sussurrou, nunca foi muito boa com esse tipo de pedido. A culpa lhe causava vergonha. — Desculpa por tudo mãe.

— Meu bem, não há motivos para pedir desculpas. — Viviane falou com o costumeiro sorriso nos lábios, nem a doença terrível lhe tirava seu sorriso.

— Tem motivos sim mãe, eu não deveria ter gritado com você. Me perdoa? — perguntou sem ter coragem de encarar os olhos de sua genitora.

— Eu já lhe disse meu amor, está tudo bem. — Viviane respondeu enquanto se forçava a levantar para abraçar sua filha.

— Me perdoa por não conseguir salvar você. — Sharaene sussurrou nos braços de sua mãe.

— Ah, meu amor...! Somente tome um banho, você teve um longo dia. — a mais velha falou enquanto acariciava os cabelos da filha.

A água era distribuída semanalmente. Todo sábado caminhões vinham de Potissimum entregando um galão de água de 25 litros por família. A água era pouca, famílias com com mais de 8 indivíduos recebiam 30 litros. Em maioria era utilizada somente para alimentação e para saciar a sede. A sede era constante causada pelo intenso calor, a água precisava ser racionada levando a todos aguentarem a sede até se tornar insuportável.

Banhos eram coisas raras para muitos. Sharaene e sua mãe economizavam água durante toda semana desejando para que com sorte sobrasse água para se banharem às sextas, porém haviam semanas que isso não era possível. O banho não era nada luxuoso, a sujeira às vezes mal saia do corpo. Não podiam desperdiçar, o banho era limitado a um pano molhado sendo passado pelo corpo, não possuíam água em demasiada quantidade para um banho digno.

Mais uma vez, o povo se mostrava cego e continuava a ter esperança de um futuro melhor em Potissimum. Sharaene invejava a esperança deles, ela não acreditava, somente fazia tudo por sua mãe.

******

Sharaene se arrumou silenciosamente, não pretendia acordar sua mãe. Ainda não tinha certeza se o que iria fazer era certo, mas não voltaria atrás.

— Eu sabia! Você não me engana soldada.— Rodolpho gritou pegando Sharaene no flagra enquanto saía de sua casa.

Duas semanas haviam se passado, Sharaene não assaltou para si mesma durante esse tempo, dava todo o dinheiro para as pessoas. Sua mente esteve focada em somente uma coisa: a competição.

— Não sei do que está falando. —ela desconversou.

— Então me diga: o que você estaria fazendo andando por aí no dia em que todos receberam folga? — ele indagou lançando um sorriso debochado para ela, o sorriso dele era tão perfeito, seus dentes totalmente certos e brancos, além de a fazer suspirar a fazia sentir inveja.

Ela não tinha nenhuma desculpa contra aquele argumento, pela primeira vez a população havia ganhado folga em seus empregos por causa do festival de provas.

— Eu vou Rodolpho, é uma boa chance para tentar salvar minha mãe, única que possuo no momento. — ela sussurrou de cabeça baixa, não possuía coragem de o olhar nos olhos dele, não queria que ele a fizesse desistir naquele momento.

— Eu vou ir com você, não deixaria você entrar nessa loucura sozinha. — ele disse a surpreendendo.

— Sério? — ela perguntou incrédula, sabia que Rodolpho nunca iria nessa competição por vontade própria.

— Sim, vamos logo. — ele respondeu e começou a andar rapidamente, não queria mais questionamentos, sabia que se ela perguntasse seu motivo de ir desistiria. Mas a maior verdade era que daria o mundo por aquela mulher.

Uma grande arena foi montada na extensão desértica que dividia Potissimum de Inferius. Inúmeras pessoas estavam ali. Pessoas dos mais variados tipos e idades, todos sorriam e comemoravam o festival, porém Sharaene e Rodolpho não; eles somente observavam tudo.

— Como você acha que será as provas? — ela perguntou a ele, estava ansiosa para saber o que aconteceria.

— Provavelmente serão de inteligência e habilidades. — ele respondeu enquanto analisava atentamente o local.

Os olhos de Sharaene se focaram em uma menina, ela não deveria ter mais de 12 anos. Poucas crianças nasceram após a divisão, ela era uma delas, porém ver ela ali partia o seu coração. A menina era extremamente magra e pequena, sua pele era manchada pelo sol, segurava a mão de um homem, provavelmente seu pai. Ele possuía uma aparência doente, olheiras profundas contornavam seus olhos cansados. Mas Sharaene via esperança nos olhos da pequena garota, ela pretendia entrar no festival, acreditava que salvaria a vida de sua família. De alguma forma Sharaene se viu naquela menina, sentia pena dela, ninguém deveria passar por aquilo.

Continuou a observar-lá por um tempo, sentia que a conhecia de algum lugar, mas não se lembrava de onde.

— Formem vinte filas! — ordenou uma voz sendo emitida por todo local. — As provas serão divididas em duas etapas, a primeira se iniciará daqui há 10 minutos, uma prova de conhecimento gerais, somente a metade de vocês passarão para segunda etapa, onde uma prova surpresa os aguardam.

Uma confusão se instalou no local. Todos iam de um lado para o outro tentando formar as filas. Pessoas caiam e eram pisoteadas, alguns brigavam por uma posição nas filas. No meio de todo aquele caos, Sharaene se agarrava a Rodolpho para não se perder do mesmo.

Um homem esbarrou em Sharaene fazendo ela cair no chão, sua mão foi pisoteada por outra pessoa no mesmo instante. Rodolpho logo a puxou para cima, o coração da jovem batia aceleradamente.

— Me desculpa!— um jovem negro exclamou.

Sharaene e Rodolpho o encararam, era um homem alto e bonito, sorria abertamente para ela enquanto se desculpava e isso fazia Rodolpho sentir raiva.

— Está tudo bem.— ela sussurrou ao sentir o aperto da mão do homem ao seu lado.

— Vamos logo.— Rodolpho falou a puxando e entrando no meio da multidão.

— O que houve?— ela perguntou sem entender enquanto era guiada por ele.

— Não gostei da forma que ele lhe olhava.— o homem resmungou.

— Que forma?— ela perguntou, porém logo a explicação veio a sua mente a fazendo rir.— Está com ciúmes?

— E se eu estiver?— Rodolpho rebateu a surpreendendo.

Sharaene não conseguia nem responder após aquilo somente o seguiu. Pararam para ajudar senhor pedindo ajuda enquanto era pisoteado por várias pessoas, aquilo deixava os dois ainda mais agoniados.

— Isso está errado. Não é necessário nada disso Rodolpho, eles estão se machucando sem motivos. — Sharaene disse aflita enquanto observava uma das várias brigas.

— Não podemos fazer nada, só devemos esperar e tentar passar no teste. — ele falou pensativo em relação a tudo que havia acabado de acontecer. Algo nessa prova surpresa não lhe cheirava bem.

SOBREVIVA ATÉ O SOL NASCER [CONCLUÍDA/ EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora