Uma música

22 8 29
                                    

Ao iniciar a leitura, dê play na música apresentada na mídia.

Prelúdio

Teatro São Pedro, Porto Alegre.

A cortina vermelha se abre, a luz ilumina a pequena menina que caminha em direção ao grande piano preto. Ela se senta na banqueta, posiciona seus pequenos dedos sobre as teclas; eu sinto meu estômago embrulhar, minhas mãos estão molhadas, meus olhos instintivamente se fecham e só consigo abrir quando os primeiros acordes da música ecoam pelo majestoso teatro. Durante toda a apresentação eu me lembrei de tudo o que ela já viveu, ela estava contando sua história, fazendo sua voz ser ouvida!

Introdução

Ouço o barulho da porta do nosso pequeno apartamento se abrindo. Ele estava chegando e eu não tinha ideia de como contar.

- Amor?! - As chaves sendo jogadas no aparador ao lado da porta.

- Estou no quarto!

- Tá tudo bem? Você não ia sair com a Priscila hoje?

- Tá tudo bem. - Sento na beirada da cama e aquele palitinho com duas linhas queima na minha mão. - Quer dizer, não sei se tudo está exatamente bem. - Escuto ele correr pelo corredor.

- Como assim, amor? - Ele para na entrada do quarto, olha pro meu rosto que deve estar mais branco que a parede do nosso quarto. - O que é isso?

- Então, isso é um teste... - Levanto o palitinho e ele se aproxima com aquela cara de quem não está entendendo nada. - De gravidez, Isaque!

- E... É teu?

- Não! É da Priscila! Tô aqui apavorada, segurando o palito que a Priscila que fez xixi! - Ele cruza as mãos sobre a cabeça e me olha sério.

- Não precisa ser tão grossa! - Depois de um suspiro ele senta ao meu lado e pega da minha mão o tal exame. - Duas linhas... Isso quer dizer que?

- Tô grávida... - a voz sai num sussurro, o choro que estava trancado na garganta sai. Meu marido passa o braço pelas minhas costas, me puxa pra mais perto e beija minha cabeça enquanto a apoio em seu ombro.

- Está tudo muito mais que bem, meu amor.

Estávamos casados há dez anos, esperando esse resultado positivo há pelo menos cinco anos e quando ele chegou, eu me desesperei. Como eu teria capacidade de cuidar de uma criança? Como entender o que esse pedacinho iria precisar?

Isaque não conseguiu segurar os três meses que eu pedi e logo já tinha contado pra toda a família. As avós estavam em festa, primeira criança na família depois de tanto tempo. A ansiedade tomava conta antes de cada consulta.

Finalmente o ultrassom. Bebê perfeito, dez dedinhos nos pés, dez dedinhos nas mãos, tudo no tamanho que precisava estar. Uma menina! Foi a frase que a doutora disse. Mil planos passando pelas nossas cabeças e toda uma vida de sucesso planejada para nossa pequena...

O resto da gestação e o parto foram tranquilos. Enfim eu tinha minha preciosidade nos braços.

Refrão

- Amor! Amor! Corre aqui! - Ouço Isaque me chamar e pelo desespero em sua voz meu coração acelera. - Anda amor, vem logo!

- Já tô aqui, o que aconteceu?

- Fala pra mamãe filha, fala Paaapai.

- Paapai.- A primeira palavra de nossa filha.

Filmamos e mandamos nos grupos das nossas famílias. Não cansávamos de mostrar todas as novas descobertas da nossa pequena. Dias depois foi mamãe que saiu de sua boca e eu guardo até hoje na memória a forma melodiosa com que isso tocou os meus ouvidos. Os primeiros passos, filmados e foram parar até nas nossas redes sociais. Sem dúvidas a criança mais incrível do mundo era a minha filha.

Contos ao AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora