Contos ao Acaso

Sereia de Boa Viagem

Eu estava ali só de passagem, ela fez-se eterna.

Finalmente estava voltando pra casa, a saudade em meu peito apertava e tudo o que eu queria era encontrar minha esposa, o caminho de volta era sempre o mesmo e a orla da praia já não chamava minha atenção. Até aquele dia. Até aquele exato segundo em que a vi, saindo do mar em direção às areias mais fofas. As gotas de água escorriam pela pele bronzeada e até hoje eu juro que tudo se passava em câmera lenta.

Os longos cachos negros não balançavam com o vento, mas eu tenho certeza que ele se encarregou de levar até mim o perfume deles. Ela cheirava a rosas.

Levantou o olhar e então eu me afoguei em sua imensidão azul e sorri quando ela sorriu com seus lábios vermelhos, que me faziam implorar por uma chance de beijá-los. Alguma coisa não permitia que eu desviasse o olhar, a sereia da praia de Boa Viagem havia me fisgado e eu não resistiria.

Meu coração acelerou e minhas mãos ficaram suadas quando a vi correr em minha direção, será possível que ela tivesse me notado? Sempre tive medo de aventuras, mas se ela me chamasse eu iria, não me importava com mais nada. Alguém falava comigo, mas eu só conseguia registrar a aproximação dela.

E então ela parou em minha frente, estendeu seus dedos finos em direção ao meu rosto e fez um carinho, eu engoli em seco e a voz falhou quando tentei falar. Ela ficou na ponta dos pés e projetou sua boca na direção da minha, minhas pernas tremeram e aquele beijo parecia ser o primeiro de minha vida. Entrelaçou seus braços ao redor do meu pescoço e o cheiro de sua pele me embriagou. Abracei sua cintura a apertei contra mim, não poderia deixá-la escapar. Aproximou sua boca de minha orelha e num sussurro baixo disse.

— Que bom que voltou meu amor, estava morrendo de saudades.

Enfim havia chegado ao meu lar, aos braços de minha amada.