Eu amo você

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As gotas de chuva escorriam pelo vidro da janela, não mais de forma tão ordenada como quando o que caia era apenas era uma leve garoa. Já não conseguia acompanhar o ritmo delas e tudo parecia uma bagunça. A escuridão do dia combinava com a minha situação e o caos do clima refletia o meu interior. “Sempre tão dramático”, seria essa a frase que ela me falaria se soubesse das minhas comparações, recitaria em ordem de importância os motivos pelos quais eu deveria continuar sorrindo e sairia rindo das tempestades que eu mesma criava dentro de mim. Porém, desta vez, tudo está diferente.


Ela encontrou outro alguém, alguém que fosse pra ela tudo o que ela era pra mim. Alguém que espantasse as nuvens de tempestade e aquecesse o coração mesmo em meio ao mais rigoroso inverno. Eu perdi, não a ela. Eu perdi as oportunidades, todas as oportunidades que tive de declarar o meu amor. Achei que se eu pudesse ser, na vida dela,  como a brisa fresca em um dia de verão, então ela perceberia. Tentei então ser também a luz das estrelas em noites sem luar, e o calor do sol em tardes frias. De nada adiantou.
O som do trovão me despertou de lembranças, a claridade iluminou o outro lado da rua. A casa dela. “Motivo número 1: você tem saúde”, mais uma vez é a voz dela que invade meus pensamentos. Sempre ela. “Motivo número 2: você está vivendo uma vida confortável”. Reconheci o barulho do carro dela chegando na estradinha. “Motivo número 3: eu estou contigo”, era sempre esse o que me fazia feliz. Ele seria o suficiente, sempre.


O carro estacionou em frente a casa e ela saiu apressada. Há dias que não a via, e meu coração doeu de saudade. Sabia que seria assim daqui para frente. Tinha plena consciência de esse seria o nosso adeus. A porta da casa abriu e o vento balançou até às cortinas, o seu perfume chegou até mim e por uma fração de segundos me senti vivo novamente. Minha mãe a atendeu e juntas choraram, o destino e seus caprichos. Em um segundo, em uma curva da estrada, tudo pode acabar.


Os passos rápidos pela escada, a porta do meu quarto abrindo e ela ali parada. Olhando as gotas de chuva que escorriam pelo vidro da janela. “Preste bastante atenção”, sussurrei em seu ouvido, pedindo aos deuses que me permitissem não perder essa oportunidade, ela abraçou o próprio corpo e enxugou a lágrima que caia pelo seu rosto. “Você vai continuar sorrindo. Motivo número 1: você sempre terá saúde. Motivo número 2: você viverá uma vida confortável. Motivo número 3: eu sempre estarei contigo”. Abracei-a e tomei coragem pra dizer aquilo que deveria ter dito no dia que soube que era ela...

“...Eu amo você.”

Contos ao AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora