Thank u, Liar!

Apenas Um Toque

Os dias de expulsão se passaram, como os outros e outros dias, Ross fazia parte de um novo grupo, assim como eu e Igor, o qual havia se tornado um dos melhores amigos de Ariana e há poucos dias de Demetria, uma velha amiga de Ariana que havia voltado para a cidade após problemas envolvendo profissionais e pessoais de seus pais:

— Eu odeio essa escola! — Disse Demetria batendo sua bandeja de comida na mesa. -— Eu não aguento mais estudar na sala da defunta.

Ariana observava a garota de longos cabelos castanhos se sentar. Igor fazia um leve biquinho enquanto ouvia a voz de nossa nova amiga:

— Talvez ela volte para te buscar se não parar de ofender a moça.

Zombou Ariana antes de morder uma barra de cereal. Me dei conta de que a admirava no momento em que Igor me tocou na intenção de chamar minha atenção.
Desviei o olhar para Demetria, a qual já estava sorrindo de forma sarcástica para Igor. Demetria havia sido uma das melhores pessoas que já conheci, diria que uma filhinha de papai não filhinha de papai ao mesmo tempo, as vezes mandona e mimada mas sempre divertida e adorável:

— Hoje eu e Igor vamos fazer compras... — A voz de Demetria era abafada por metade de uma banana que havia colocado na boca há poucos segundos. — Vocês podem ir para assistirem algum filme enquanto eu e ele vamos em algumas lojas.

— E não podemos ir com vocês nas lojas? — Questionei, já imaginando que havia alguma coisa que eu não sabia.

— Eu quero comprar coisas. — Ariana mencionou em seguida.

— Não, é uma surpresa. — Demetria fez uma pausa e olhou nos olhos de todos com um sorriso de canto. — Já conversamos sobre isso há alguns dias, mas não contamos porque pensamos em surpreender vocês duas.

— E não podemos saber o que é? — Continuou Ariana.

— Não seria surpresa se vocês soubessem. —Retrucou nosso amigo.

O tempo voou desde o refeitório, depois de muitas tentativas falhadas eu e Ari desistimos, sabíamos que nossos amigos nunca falariam absolutamente nada para nós, mesmo que eu desconfiasse sobre o que se tratava.
Como o combinado, nosso grupo estava reunido no shopping da cidade após o término das aulas, logo nos separamos em pares, Igor e Demetria, eu e Ari. A presença dela me deixava com borboletas no estômago toda vez em que me dava conta de que eu estava tão íntima da garota pela qual eu era apaixonada há anos. Seu andar, seu balançar de cabelo, seu cheiro e até mesmo o seu piscar de olhos conseguiam me hipnotizar toda vez em que eu a olhava. Não fazia ideia se ela havia notado o quão me deixava louca, mas sem sombra de dúvida me deixava, como se eu me apaixonasse por ela todos os momentos que estivesse com ela. Quando seus dedos macios tocavam meu braço para me guiar era como se a temperatura do meu corpo aumentasse tanto que me dava a sensação que quase me queimar:

— Aqui, vamos. — Ela soltou meu braço e adentrou o cinema, me levando até os cartazes. — Quer o que?

Levei meu dedo até a boca e Ariana torceu o nariz ao meu lado, ambas pensando em que assistir:

— Eu gosto de Rei Leão.

— E de Beyoncé. — Ela disse ao olhar para mim com seu sorriso delicado. — Certo então, você compra os ingressos e eu a comida.

Ela se foi antes de me dar chances para falar qualquer coisa, era agitada e elétrica as vezes, tanto que me deixava tonta vez ou outra. Sorri ao vê-la andar sem ao menos perceber minha ação, eu estava de fato, mais apaixonada por essa garota como nunca, me perdi em meus pensamentos e fantasias com Ariana enquanto seguia para a bilheteria, tentando tirar aquela pessoa de 1,60 de altura da minha cabeça, o que era quase impossível, mas por uma fração de segundos consegui.

Entramos, o filme começou, as horas ali com ela ao meu lado se passaram como 10 minutos, sua presença fazia o relógio correr como se estivesse em uma maratona, mal pude me concentrar no filme com o seu cheiro doce e familiar invadindo minhas narinas, apenas me dei conta de que já estava na hora de sair quando Ariana passou diante de mim, roçando suas pernas contra as minhas. Me levantei em seguida, indo pelo menos caminho em que ela ia, até que enfim estávamos do lado de fora:

— Ainda não mandaram nada. — Ela olhou para trás, fixando seus olhos nos meus. — A gente poderia ir tomar um sorvete e dar uma volta enquanto eles não ligam.

— Sim, sim, é claro. — Me posicionei, meio desajeitada, a fazendo sorrir.

Sua mão agarrou a minha, me levando até uma sorveteira, após termos nosso pedido trocado duas vezes conseguimos nos sentar, conversas aleatórias iam e vinham, essa era uma das qualidades que mais amava nessa mulher, fazia um assunto voar para outro sem dificuldade:

— Mas você nunca me disse nada sobre garotos. — Exclamou ela, curiosa.

— Esse é um assunto pobre para mim. — Olhei para ela, que sorria sobre minha observação. — Nunca fui tão bem em relação à garotos.

— Como assim?

— Ah... Eu não fico com muitos caras.

Ela respirou fundo e tocou minha mão com a ponta de seus dedos:

— Menos preocupação, isso é bom.

Sorri nervosa com seu toque, tentando imaginar aonde ela queria chegar, não recusei seu toque, apenas me arrepiei, como se uma onde de ar gelado e quente tivessem chegado no local ao mesmo tempo, fiquei sem palavras, observando sua mão na minha, pensando nela, de todas as formas, me senti culpada, mas não tinha culpa.
Um som então quebrou o silêncio e clima tenso que eu acabara de criar:

— Sim, certo. Já vamos.

Ariana tomou se levantou com o celular e sua guloseima na mão enquanto me olhava, ainda sentada e meio paralisada:

— Tudo bem, gatinha, não precisa falar sobre isso — Ela me deu uma piscadela e inclinou a cabeça para o vasto ambiente. — Vamos, disseram para irmos.

Me levantei um pouco sem graça, tentando disfarçar o que aquele simples toque havia feito, seus passos começaram e eu os segui, com o coração acelerado, eu queria mais daquele toque, muito mais daquele toque, mais completo e seguro, era isso o que eu queria, eu queria Ariana e era isso que eu teria, exatamente isso, isso era o que eu havia me convencido ainda com as pernas trêmulas, eu havia me convencido que teria aquela garota.