Leon é um jovem de dezessete anos, como a maioria dos outros, tem alguns amigos, mora com os pais, tem um cachorro de estimação, gosta de jogar futebol, ver televisão, ouvir música, jogar videogame, ler livros, tocar sua guitarra, nada fora do comum. Na escola ele é um aluno na média, não é o gênio da sala, mas está longe de ser um dos piores,meio termo, aquele cara que senta nas mesas da frente junto a seus amigos. Ele não é muito popular,tem contato com todos na sala, aquela coisa de pedir ajuda em uma lição para uns, jogar cartas com outros, ter alguma desavença com a menina que se acha melhor que os outros, mas surpreendente. Se você não era o aluno mais querido da classe, você sabe que todos falam com você na sala de aula, mas fora dela, seja no intervalo, aula de informática, aula de educação física, cada um anda com os seus grupinhos, e Leon não é diferente. Seu grupo, além dele, também é composto por Edgar, Afonso e Fernando. Porém, você também deve conhecer aquele tipo de colega que só anda com você por falta de opção, e Leon passa por isso. Quando tem a oportunidade, Edgar anda com os valentões da escola e Afonso anda com o pessoal que joga videogame online, não que eles sejam falsos, talvez Leon que seja o culpado por não ser muito sociável e afastar as pessoas. O único amigo que sempre anda com Leon é Fernando, mas esse não leva a escola a sério e constantemente falta ou cabula às aulas, deixando o protagonista só.Fora de sua classe, Leon tem outros amigos, como Carlos e Eduardo, que moram perto de sua casa, sempre o acompanhando na ida para escola e na volta para casa.
Com as garotas Leon é um desastre, ele nunca sabe o que dizer ao certo, o que sempre cria situações embaraçosas, não existe um meio termo, as garotas sempre gostam ou odeiam ele, seja por suas constantes piadas com humor negro, seu temperamento, sua sinceridade, etc. As meninas que gostam dele sempre são suas amigas, com dezessete anos de idade, Leon nunca sequer deu um beijo na boca.
Essa descrição detalhada pode ter sido desgastante e desnecessária, mas preciso enfatizar que Leon é apenas um jovem como todos os outros. E todo jovem tem algum problema, seja escolar, familiar, de saúde, e com Leon não é diferente. Ele sofre de uma condição chamada ceratocone, uma doença que distorce a córnea, deixando ela curvada em formato de cone. Essa anomalia só atinge 2% da população, e nosso protagonista foi um dos sortudos. Essa doença pode ser adquirida através de genética ou por forçar muito a visão, aparecendo geralmente durante a adolescência, seu tratamento é feito com lentes de contato rígidas ou esclerais, posteriormente o anel de ferrara, que impede a evolução da doença, e em casos mais extremos, o transplante de córnea. Ceratocone pode cegar, e uma maneira de preveni-la é começar a usar óculos assim que a visão começar embaçar, caso contrário a doença vai evoluir.
Se Leon tivesse usado óculos na primeira vez que percebeu estar com a visão ruim, ele poderia ter impedido isso, mas teimoso como é, ele se negou a usar, e o resultado foi que a doença se agravou e agora ele tem a visão, principalmente do olho esquerdo, consideravelmente embaçada, o que lhe atrapalha muito, principalmente na escola. Leon precisa usar lentes de contato esclerais para tratar a doença e enxergar melhor, mas esse material é muito caro, então o jovem faz tratamento em um hospital oftalmológico público. Após vários exames detalhados, finalmente foi decidido a lente que Leon deve usar, sua córnea está tão distorcida que foi feita uma lente própria para seus olhos, e enfim chegou sete de maio, o dia de Leon finalmente ganhar suas lentes de contato.
Nesse dia, o jovem acordou às cinco da manhã, geralmente ele acorda às seis para ir pra escola, mas como hoje era dia de ir pro hospital, ele levantou mais cedo. Sua consulta era apenas às oito e meia, mas ele precisa pegar um ônibus e dois metrôs para chegar ao seu destino, então sempre é bom sair antes da hora para evitar imprevistos. Ele e sua mãe se arrumaram, tomaram café da manhã, e lá foram eles ao seu destino. Pegaram um ônibus vazio, a cada ponto que passava, o coletivo ia ficando mais cheio, todos os passageiros com destino à estação de metrô.
Chegaram à estação, passaram pela catraca, desceram as escadas rolantes e esperaram na plataforma. O metrô chegou, Leon e sua mãe entraram, não estava lotado, haviam dois lugares disponíveis, um longe do outro, sua mãe sentou em um e Leon foi para o outro lado do vagão e sentou no outro. Ele tirou seu celular do bolso e conectou o fone, mas antes de colocá-lo no ouvido, ele foi interrompido por uma voz suave.
- Oi. – dizia a menina que estava sentada ao seu lado.
Leon olhou pra ela, mas sua visão era tão ruim que ele não conseguiu ver bem o seu rosto, se ele forçasse a vista ele conseguiria ver, mas lembrou que Ana, sua amiga da escola, sempre diz que ele fica com cara de bravo quando faz isso, o garoto não quis parecer deselegante, portanto decidiu manter o olhar amigável, mesmo que não estivesse enxergando quase nada.
- Oi. – respondeu Leon, com um sorriso sociável em seu rosto.
- Qual seu nome? – perguntou a linda garota.
- Leon. E o seu?
- Tenta adivinhar. – respondeu com um sorriso simpático e risadinhas.
- Não faço idéia... – disse o garoto, um pouco confuso.
- Depois eu digo. - Quantos anos você tem? – perguntou.
- Dezessete.
- Eu também tenho dezessete, hihihi. E aí,tá indo pra onde?
- Pro hospital. – respondeu.
- Você tá bem? – ficou preocupada.
- Tô sim, é por causa da minha visão, não enxergo muito bem.
- Que pena... Se enxergasse bem você veria como é lindo. – disse ela, deixando o garoto envergonhado.
- Você também é linda. – respondeu, mesmo sem conseguir ver o rosto dela.
- Como você sabe se não enxerga direito? – questionou.
- Eu enxergo o suficiente para ver que você é a menina mais linda e simpática que eu já conheci.
- Nossa, assim eu me apaixono... – disse a menina, dando suspiros de felicidade pelo elogio.
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Sob Novos Olhos
RomansaLeon é um jovem que tem uma doença ocular, portanto não enxerga bem. No dia de pegar suas lentes de contato, ele conhece uma garota, mas esquece de perguntar o seu nome, e por não estar enxergando, ele não lembra do rosto dela. Agora ele tem a missã...