Capítulo 1

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PV. Lívia

Como me sentir parte de algo tão perfeito? É assim que vejo minha família, meus pais, meus irmãos, tios, avós e primos. Ser uma Mendes Brandão não é uma tarefa fácil, ninguém se aproxima de você por ser quem é. As meninas da minha escola, são loucas pelo meu pai, quando ele me busca na escola é um alvoroço, isso me incomoda. Detesto ser o centro das atenções, mas com a família que tenho é impossível não ser, o simples fato de respirar é suficiente para uma foto na primeira capa de alguma revista. O sinal toca e vamos para mais um intervalo, sozinha.

Saio da sala caminhando lentamente para o pátio, me sento no local mais afastado possível, fico observando as pessoas. Como pude me tornar essa pessoa? Porque me afastar de todos? Será que é normal? Sinto-me totalmente deslocada, não consigo interagir com as pessoas da minha idade. Os assuntos são banais, não quero saber qual a cor tendência para o ano que vem, muito menos sobre a semana de moda em Milão. Coloco meus fones de ouvido, procuro uma música em minha playlist.

Sou interrompida em minha tarefa por um menino que deve ter a idade dos meus irmãos, senta ao meu lado sem dizer nada. Olho interrogativo, tentando entender o que ele quer, chega o rosto próximo ao meu e me afasto, odeio muito contato. As únicas pessoas que me tocam são as da minha família.

— Posso ficar aqui? — Pergunta sussurrando, olho em volta e não tem mais ninguém além de nós, porque ele está falando tão baixo?

— Pode sim. — Ele estende a mão para mim.

— Sou o Lucas. — Aperto sua mão.

— Sou a Lívia.

— Você também os acha estranhos? — Pergunta olhando para os outros alunos que conversam normalmente entre eles, volto o meu olhar para ele e sorrio.

— Acredito que nós somos os estranhos. — Ele me analisa, coloca a mão na cabeça e quero rir da cara confusa que ele faz.

— Pode ser que você tenha razão, se analisar só nós dois estamos afastados.

— Exatamente, mas posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

— Porque estamos sussurrando? — Ele dá de ombros como se fosse normal.

— Me desculpa é o hábito, não podemos falar alto na minha casa, meu pai se irrita.

— Ah sim! Mas aqui você pode falar normal. — Ele arruma sua postura, mais uma vez estende a mão para o meu lado.

— O que você quer? — Pergunto confusa.

— Ouvir música com você, me dá um fone você fica com o outro.

— Você é sempre folgado assim? — Pergunto e vejo a boca dele se abrir e fechar algumas vezes.

— Não, eu só não tenho amigos me desculpa. — Ele diz de cabeça baixa e meu coração aperta.

— Tudo bem. — Entrego um lado do meu fone para ele. — Mas não sei se você vai gostar das mesmas músicas que eu. — Ele me olha com um lindo sorriso.

— Qualquer uma eu vou gostar, só de não estar sozinho e poder ouvir música, eu fico feliz, meu pai não me deixa ouvir músicas. — Fico olhando para esse garotinho, que deve ter no máximo onze anos, meu Deus que tipo de pai essa criança tem? O que tem demais em ouvir música?

— Então vamos ouvir música, encosto-me à parede e coloco o meu lado do fone, ele faz o mesmo que eu, abaixo um pouco o volume e dou o play. A música começa a tocar e ele chega mais perto de mim, não sinto repulsa com sua proximidade, ele se aproxima ainda mais e deita a cabeça no meu ombro, nem presto atenção na música só observo o quão carente é este menino.

A Descoberta (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora