•|Capítulo 1|•

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Bom, morto eu não estava. Isso é um alívio.

Sentindo uma leve náusea toquei o painel reluzente, luzes artificiais pulsavam em linhas policromáticas conforme o calor irradiava do meu corpo à máquina. Peguei o tal rádio —que consistia em um controle de apenas um botão— e procurei por algum tipo de instrução nas laterais do cilindro.

Eu deveria ter perguntado como sair.

Devido a restrição imposta pelo equipamento sobre meu corpo, limitei meus movimentos forçando a visão para tentar encontrar alguma orientação específica.

No meio de minha procura, achei uma alavanca quadrangular um pouco acima de minha cabeça. Com esforço consegui alcançá-la e assim destravar as trancas, saindo do cubículo em que me encontrava.

A luz natural atingiu minha íris e a essência amadeirada úmida invadiu minhas narinas, entorpecendo meus sentidos. Os tons de verde —predominantemente musgo— ganham um brilho místico ao refletirem a luz do sol, cenário que eu jamais sonhei ver. Em dois mil e cinquenta não temos nada parecido, real. 

Uma leve brisa agitou as árvores, o farfalhar de folhas no topo de suas copas levou pequenas aves a levantarem voo exibindo suas asas e soprando seus cantos suavemente harmônicos.

Eu poderia facilmente ficar horas e horas contemplando sentado com as costas inclinadas sobre o tronco de uma árvore qualquer, porém a decisão sensata de procurar por uma civilização pareceu-me mais atrativa e convincente.

Peguei uma pequena pedra que cobria parte do gramado, usando-a para fazer pequenas marcações em árvores conforme avançava. O caminho para o norte era longo e infindo, meus pés já se encontravam feridos por causa das raízes, cascalhos e pequenas ervas daninhas quando constatei que o sol estava a se pôr.

Em busca de lenha, encontrei um córrego estreito perto de onde havia começado a construir um abrigo de madeiras tombadas, cipós e folhas para passar a noite. Algumas espécies de animais silvestres pequenas que eu não conhecia bebiam água na margem do rio enquanto eu me aproximava lentamente para fazer o mesmo.

Agachei-me a uma altura confortável e uni as mãos em concha para colher um pouco de água fresca antes de levá-la aos lábios. O líquido gelado umedeceu a garganta e trouxe uma sensação de suavidade muito bem-vinda para a ocasião.

— Acho que vou ter de procurar outro lugar para ficar! —disse baixo, exalando um suspiro preguiçoso ao levantar-me novamente.

De volta, olhei para o alojamento parcialmente construído por alguns minutos antes de desmontá-lo e carregar um dos galhos comigo como um tipo de recurso defensivo extra. Já que na maioria das situações de perigo previstas eu poderia lidar com o físico. 

Ou pelo menos pensava que pudesse.

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