Big Fun

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"Drink, smoke, it's all cool

Let's get naked in my pool!

Punch the wall and start a fight!

Ain't nobody home tonight!"

Heathers


Se você nunca chorou dentro de um táxi e de um metrô, você não mora em São Paulo. Isso é algo que eu gostaria profundamente que tivessem me avisado. Em Atibaia – de onde sou – não me lembro de nada disso acontecer.

Choro, abraçada à Anna, enquanto sinto Raquel lentamente remover o telefone celular de minhas mãos e o colocar em sua bolsa. Boa escolha. Não sei se é a melhor das ideias me deixar com o telefone em meu estado atual.

Sinto as lágrimas arrastarem a maquiagem por meu rosto, mas não me importo muito. Murmuro algo como "eu quero voltar para casa" por entre minha respiração completamente bagunçada, mas a mulher que dirige o carro não o faz. Será que me ouve?

Tudo estava dando tão certo... Como permiti que as coisas descarrilassem desta maneira?

Lembro-me de pouca coisa, como se não fosse eu vivendo aquilo. Sinto-me como se em uma experiência extracorpórea, como se minha alma assistisse a um filme sobre o ocorrido e depois tivesse de descrever para meu cérebro seu conteúdo.

"Como você consegue ser burra dessa maneira?" sinto como se a voz de Alex cortasse milimetricamente por meu encéfalo. Devo ter feito algo horrível para que ele gritasse comigo dessa maneira.

"Você não pode controlar toda a minha vida!" desta vez, é minha própria voz que aparece em minha cabeça. Algo me volta à memória. Alexandre queria que eu trocasse de roupas. Ele queria que eu me distanciasse de Anna e Raquel. Ele queria que eu lhe entregasse meu celular para que ele lesse minhas conversas.

Tudo isso parece ter ocorrido há tanto tempo. Não me lembro de quando minhas mensagens de texto entraram na discussão, ou minhas amigas. Mas me lembro de seu dedo indicador apontado para minha cara quando me viu de shorts. Lembro-me desse dedo, longo e fino, fincado em meu peito, e o local onde ele estava parece doer quando me recordo de tal ação. Acusatório.

O que será que fiz para deixá-lo tão irritado?

Abraço-me pelo que parecem horas, e me forço a parar de chorar. A única coisa que não consigo fazer ir embora de minha mente são suas últimas palavras antes de deixar o alojamento e bater a porta em minha cara.

"Já que eu sou essa coisa repugnante e asquerosa para você, que tal darmos um tempo? E então, Mel? Será que sobrevive mais de dois dias sem mim, sua doente?"

Tudo em mim dói. Vê-lo voltar para Campinas dói. Saber o quanto ele pensa que o odeio dói. Saber que ele está certo e que não sobreviverei dois dias sem ele dói.

Tudo dói.

"Será que ele pode me perdoar?" pergunto, pela primeira vez permitindo que algo entendível deixe minha boca. Estou sentada no meio do banco traseiro, entre minhas amigas, e ambas me olham com incredulidade.

"O que, em nome da deusa, você acabou de dizer?" pergunta-me Raquel. Seu sotaque fica mais forte quando ela fica brava, e, agora, parece que ela nunca deixou o Nordeste.

"Melzinha, meu amor... apenas... não" diz Anna, segurando minhas mãos frias com as suas, que estão quentes.

"Minha flor de lis, o único errado aqui é ele. Você por algum acaso ouviu as coisas horrendas das quais ele te chamou?" a ruiva continua, colocando sua mão pequenina com suas unhas multicoloridas em meu joelho, que eu bato no chão do carro com força e com ritmo marcado que dita a ansiedade que me invade. Faço um esforço para parar.

Honey [hiato]Onde histórias criam vida. Descubra agora