5. Infected Wound

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Apresso-me pelos corredores do supermercado e vou agarrando tudo o que faz parte da lista que a minha prima me deu. Apesar das nossas divergências eu tenho um papel a cumprir em casa. Tenho cerca de meia hora para terminar estas compras e depois tenho de me dirigir à escola, para entregar um trabalho que já vai com algum atraso. Atraso esse que se deve ao facto de naquela noite eu ter demorado mais tempo fora de casa do que eu pretendia.

Existe cerca de 10 pessoas na secção dos frescos e tenho de tirar uma senha e esperar cerca de 20 minutos até chegar a minha vez. Um a senhora encosta-se num dos balcões e parece cansada. Deve ter os seus 70 anos e percebo pela sua postura que andar não é, de modo algum, uma tarefa fácil para si. Um jovem aproxima-se dela e ela agradece com a sua mão trémula. Deve ser seu neto ou bisneto, quem sabe.

A seu lado, do outro lado, mesmo a seu lado está um homem por volta dos seus 40 anos. É alto, quase tão alto como o jovem que a acompanha. Sorri para ela mas ela não o vê. Na verdade, ninguém o vê. Apenas eu. É a alma de alguém que já se foi. Alguém que já não anda nesta terra. É parecido com o jovem e preciso apenas de mais 5 minutos para juntar as peças. São pai e filho, mãe e filho. Percebo o ar de cansado que transporta consigo a pobre mulher. Marcas de uma perda que contrariara todas as ordens da vida. Arrepio-me, fecho os meus olhos e ele foi-se. Deixo de o ver, porque, desta vez, já não ali está.

Passam quatro minutos das três da tarde quando termino as compras. O céu escureceu um pouco, vai chover provavelmente.

Pego nas chaves da mota do meu pai. Cerca de uma hora depois estou na escola. Está tudo calmo. Todas as turmas não tem aulas à quarta de tarde. Encontro a sala de professores e deixo o meu trabalho sobre o local que o minha professor de desenho me indicou hoje de manhã.

Vou até ao meu cacifo. Deixei as minhas cores aqui e preciso delas não só para todos os projectos, mas também para me desprender da realidade. Abro o cacifo no corredor direito e vejo alguns jovens sentados nas escadas a ler, namorar ou simplesmente a falar. É engraçado como se ignoram mutuamente. quem lê não vê os que se encontram a beijar e os que falam não comentam o ar de concentrado com que aquela rapariga lê. Eu reparo, mas não digo nada.

Fecho o cacifo. Depois de guardar tudo na minha mala viro-me para o corredor esquerdo e vejo-o. Está sentado sobre um banco no final desse mesmo. Está a escrever algo num caderno. Pergunto-me sobre o que será. Estará ele a escrever um romance, ou simplesmente a estudar economia. Não me parece o tipo de rapaz muito empenhado na escola, mas também não me parecia o tipo de rapaz que me liga-se a meio da noite e, bem, podemos dizer que estou surpreendida. Odeio julgamentos mal feitos, mas hoje apesar de estar aparentemente bem, não quero ter de responder pessoalmente ás suas chamadas.

Um dos meus porta lápis cai ao chão quando me preparo para virar noutra direcção. O momento é breve, mas no silêncio da escola consigo pressentir os seus movimentos . Levanta-se após ter reparado na minha presença. Alteio-me naquele corredor depois de apanhar o estojo. Está parado, as suas pernas estão contra o banco onde estava anteriormente sentado. Não parece querer fazer algo. Acho que quer apenas que repare na sua presença. Quer provavelmente ver até que ponto pode ir após os acontecimentos dos dias anteriores.

Sinto-o respirar fundo e dá um passo em frente. Paro-o quando dou um para trás mesmo sem pensar muito sobre isso. Percebe os meus movimentos e viro as costas.

- Eu liguei-te. – Ele fala e paro. Respiro fundo e percebo uma certa desilusão nas suas palavras.

- Eu sei.

- Queria saber se estavas bem. – Ele diz e abano um pouco a minha cabeça. Lembrete interior de que bem não se adequa a mim já à algum tempo.

- Eu estou.

- Ouvi dizer que tiveste um acidente naquele dia.

- No dia em que tu me beijaste sem eu querer? – Digo e viro-me para ele. Está mais perto, uns cinco passos foram encurtados entre nós.

- Eu estava alterado. Assim como no outro dia. – Passa as suas mãos pelo seu cabelo

- Alterado?

- Tinha bebido. Á dois dias estava aborrecido com algo.

- Nós não nos conhecemos. Tu tentaste ajudar-me naquele dia. A nossa relação reduz-se a isso. Ligar-me não é apropriado.

- Quis saber...

-Se estava bem, já sei.

Fico parada e sinto uma dor na minha cabeça muito forte. Respiro fundo e olho em frente. Ai está ela. Uma velhinha aparece atrás do Harry e mantenho os meus olhos nela. Não consig desligar-me da forma como as suas roupas estão sujas e enlameadas. Ela sorri na sombra de Harry mas não se move durante algum tempo. Mantenho-me concentrada nela.

- O que é... ?- Ele pergunta e olha para trás. Não vê nada. Mas eu vejo.

Não respondo. Fecho os meus olhos com força e ela desaparece do meu campo de visão. Abraço os meus pertences e apresso o passo, deixando-o para trás.

A minha cabeça não para de doer. Antes de perceber o que acontecia comigo doía todos os dias. Via anjos e pessoas que se foram todos os dias, várias vezes. Mas assim que iniciei os meus medicamentos para a ansiedade e a depressão, essas pessoas foram-se também para mim.

Ás vezes esqueço-me ou não me apetece não chorar por um dia. Ás vezes quero chorar e sentir aquela tristeza profunda de novo. Parece que me quero magoar masnão é isso. Quero sentir algo e se tristeza é a única emoção que consigo sentir, aceito-a. Ás vezes quero não ter chance nenhuma de recuperar a minha felicidade, sinto-me mais digna. Mais real.

Enquanto conduzo de volta vejo mais 10 anjos. Aparecem quando paro nos semáforos e olho para alguém. Outros simplesmente estão sentados ao lado de pessoas que conduzem sozinhas nos seus carros. Mas, Ainda assim, sinto que não vejo com clareza todos eles. Tomarei a medicação hoje. 

Estaciono na frente da minha casa. O meu telemóvel volta a tocar, é uma mensagem de voz. Não me percebi da chamada a chegar provavelmente pelo barulho da mota. Antes de carregar no botão interrogo-me se será a decisão mais inteligente. Com certeza não é.

- Melanie, é o Harry, deixaste algo junto ao teu cacifo. Será que nos poderíamos encontrar para que to pudesse entregar?

Interrogo-me se não será mais um jogo para me ver e voltar a desculpar-se quanto ás suas acções. Interrogo-me variadas vezes. A mensagem termina. A minha prima está na entrada a varrer a varanda e quando me vê parece preocupada.

- Está tudo bem?

- Sim, pelo menos não estou a chorar e a berrar. – Digo ironicamente

- Para com isso Melanie. – Ela parece mais rija agora.

- Para de perguntar sempre a mesma pergunta. 

Tento entrar em casa mas Ivna agarra o meu braço antes que o faça. Não parece estar chateada pois não o faz com força. Olho-a e ela observa a minha testa. 

- Isso não está nada bem. – Ela diz ao tocar na minha ferida

- Está a curar.

- Não. Está infectado. Percebe-se pela cor. - Ela diz e tenta tocar-me. Esquivo-me a tempo.

- Deixa estar. - Digo e desapego-me do seu toque por completo, dando três passos noutra direção

- Tens de ir ao hospital ver se está tudo bem com isso, não achas?

- Se eu achasse já teria ido.

- Melanie...

- Okay, eu vou amanhã.

Esqueço os trabalhos e pouso a minha cabeça sobre os lençóis lavados da minha cama.

O meu telemóvel esta sobre o meu peito e antes que consiga pensar no que responder, sinto-me pesada e cansada. Tenho se resolver o problema da mota da Ivna e irei. Amanhã talvez. Tlavez daqui a uma semana mas irei. 

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O  que é que acham que vai acontecer com Harry e Melanie? Esperam que tenham gostado e até ao próximo capitulo.

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