Levo uma torrada à boca e desenho ao mesmo tempo. Tenho de entregar este trabalho antes que o meu professor de desenho abstracto me reprove. Odeio coisas abstractas na verdade, ou melhor gosto mais de algo concreto mas preferia não ter certas certezas.
- Estás a ficar atrasada para a escola. – Ivna diz
- Eu sei, não preciso que sejas o relógio. Eu tenho um. - Digo e levanto o meu pulso para que ela vejo o relógio que tenho à mais de dez anos e que precisa de um substituto urgentemente.
- Bom dia- O meu primo diz e ri-se ao olhar para o meu desenho – E isso é suposto ser? – Ele pergunta.
- Nada. A ideia é exactamente ser nada assim que se olha. Só algo abstracto. – Digo e ele encolhe os ombros enquanto come.
Levanto-me e subo. Pego na minha mochila e olho para a cama feita desde à dois dias. O meu telemóvel está sobre esta ainda e percebo que ainda não respondi à sua mensagem. Não tenho nenhuma intenção de responder, mas para mal de todos os meus pecados, deixei algo que necessito no chão da escola, logo terei de enfrentar Harry de novo.
Deixo uma mensagem na sua caixa de correio a dizer para se encontrar comigo no parque de estacionamento do hospital no intervalo do almoço. Penso sobre esta e percebo que irá provavelmente achar estranho a menção a hospital. Vou fazer a vontade a Ivna, a única que lhe irei fazer, pois sei que quando toca a saúde ela não desiste. Prefiro ir sozinha, no meu próprio tempo do que obrigada por ela a entrar nas urgências. Estou cansada desses momentos.Obrigada parece que não tenho controlo sobre nada e eu gosto de poder controlar o que se passa na minha vida. Principalmente a partir do momento em que aconteceu algo que passava completamente do meu controlo.
A manhã passa muito rápido, a escola está uma confusão como sempre está durante as grandes manhãs. Tomo o meu comprimido quando bebo um pouco de água no intervalo da manhã e deixo os anjos fugirem da minha mente. Não irão aparecer hoje, não os irei ver nem irei sentir que estão ali. Por vezes é melhor estar mesmo sozinha. Ser mais uma pessoa. Não os poder ver os sentir a sua presença faz-me sentir como todas as outras pessoas se sentem nos seus dias a dias. Isso ajuda a minha cabeça a manter tudo em ordem.
O parque de estacionamento está pouco cheio, eu diria até que está praticamente vazio. Vejo Harry com o meu estojo na mão. É o meu estojo de canetas. Revejo o momento em que fechei o cacifo e apercebo-me de que realmente não me lembro de o ter guardado. Percebo que estava mesmo a dizer verdade e não sei se isso me reconforta ou me faz sentir mal comigo própria por ter pensado nele como alguém que mentiria apenas para se encontrar comigo.
- Está aqui . – Diz-me e entrega-me o objecto.
- Obrigado por tirares do teu tempo. – Eu digo.
- Não fui à escola hoje, por isso até me deu jeito vir aqui. Fica mais próximo de casa. – Ele explica e tento encontrar um porquê para nem sequer o ter procurado na escola.
- Mais uma vez obrigado.
- Está tudo bem?
- Estou a ficar um pouco farta dessa pergunta. – Suspiro enquanto guardo o estojo na parte de trás da mota.
- Estamos em frente a um hospital.
- Não estou a morrer.
- O que é isto? – Ele tenta tocar na minha ferida e afasto-me.
Ele suspira enquanto eu dou passos para trás. Repetitivos que parecem reflectir-se no comportamento de Harry. Vejo a sua preocupação dissipar-se e respiro fundo quando não o vejo a investir mais na nossa conversa. Não acho que seja má pessoa mas teve uma atitude péssima e mesmo que tenha algumas boas não tenho um botão de desligar e, por isso, não consigo desligar-me daquela noite sempre que o vejo. Este ignora a sua própria pergunta e deixa-me. Vejo-o arrancar com o seu carro e sinto pequenas gotas de água sobre a minha testa. Entro nas urgências e poucos minutos depois tenho uma enfermeira a tratar do meu ferimento tardio.
- Tens de tomar esta medicação até veres esse aspecto desaparecer. Cerca de 5 dias deve ser o suficiente. – A medica diz
- Okay.
O tempo piorou substancialmente e não e parece seguro conduzir mota com esta quantidade chuva que sinto cair contra o meu casaco impermeável. Não quero ligar a Ivna, muito menos ao meu primo. Subo na mota e após andar cerca dois quilómetros paro a mota num pequeno parque junto ao rio. Sento-me sobre a rocha mais alta do pequeno monte e vejo o rio correr. Mais força menos força, uma quantidade absurda de vida que corre entre rochas pontiagudas que cobrem o seu fundo. A chuva caí sobre mim enquanto tenho o meu capucho colocado. O meu telemóvel toca mas ignoro. Se o tirar agora do bolso as probabilidades de ficar completamente encharcado são gigantes. Deixo-me ficar cerca de uma hora a sentir-me livre entre a mãe natureza.
Caminho para a mota e vejo que a chamada é da oficina onde deixei a mota de Ivna que eu estraguei naquela noite. Deixei-a lá ontem e expliquei á Ivna finalmente que tinha sido um pequeno acidente uma vez que a mota apenas tinha umas pequenas amassadelas. Dizem que está pronta e reencaminho essa informação para a minha prima. O sol espreita enquanto pequenas pingas de chuva caiem entre os galhos das árvores. A minha casa aparece pouco tempo depois e vejo que Ivna já fora buscar a mota e que provavelmente quando lhe mandei mensagem ela já a teria. Depois de um banho e de vestir uma roupa quente aconchego-me no alpendre de trás a olhar por entre árvores para o céu ainda escurecido pelo mau tempo. Puxo o estojo com as canetas e olho para o papel não sabendo o que desenhar. Tudo flui rápido, rápido demais. Existem dias em que a natureza me oferece alguma calma e, por isso, deixo-me desenhar com uma caneta verde a árvore que me observa neste alpendre
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Angels » Harry Styles
FanfictionE se os anjos fossem reais? E se os visses, se os visses sobre a forma de alguém que já partiu? E se visses os parentes de quem te rodeia, mas não conseguisses ver os teus? Melanie and Harry Depois duma série de atropelamentos que a sua vida já...