7. The apology

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São duas da tarde de sábado. A minha tia aparece e faz o almoço com Ivna. Arrumam a casa enquanto eu me deixo encostar sobre a cadeira no alpendre, novamente.

Ouço-as falar sobre mim. Não as julgo, esqueço-me de que estão ali e continuo a desenhar tal como fiz ontem. O almoço é servido pouco tempo depois de traçar as linhas finais da minha pequena arte. Encosto o desenho na cadeira de balaço onde tenho as minhas cores e sinto uma vontade avassaladora de chorar quando vejo uma foto de os meus pais no mesmo instante em que a minha tia abre a sua carteira para entregar algo a Ivna.

Seguro as lágrimas, mas escondo-me no meu quarto. Voltei a esquecer-me da medicação. Estava tão conectada no meu desenho que me esqueci de quem eu ainda era. Uma miúda que não pode viver sem aquela medicação. É como se em vez de ar eu precisasse de uma combinação de drogas para viver em paz. Uma obsessão necessária para obter o nível de vida suportável.

As lágrimas caem enquanto tomo a medicação na cozinha. Ivna percebe o que se passa mas não diz uma palavra devido à presença da minha tia. Ela tende a ser bastante mais intrusiva do que deveria. Ignora as minhas acções e continua a pôr a mesa no cómodo seguinte. Subo até à casa de banho e olho-me ao espelho. Não quero ver-me. Na verdade quero limpar as lágrimas e esquecer que disto se trata a minha vida.

Desço para almoçar. Desculpo o meu aspecto quando a minha tia pergunta. Digo-lhe que tenho umas alergias fortes e que ainda por cima apanhei uma terrível gripe ontem. Não é verdade, mas parece credível o suficiente para que se esqueça da minha presença e continue a sua conversa com os restantes.

O meu computador dá um sinal no alpendre e acho estranho. Só o uso para trabalhos escolares ou para procurar por algumas inspirações para certos trabalhos. Existe uma noticia nova no jornal da escola provavelmente, algo estúpido sobre feiras de bolachas e angariações.

Depois de almoçar revejo a página da Internet onde o jornal está disposto. Existe uma noticia em grande na capa e diz última hora. Leio as primeiras linhas, reconheço dois nomes, um rapaz e uma rapariga ambos num carro estiveram num acidente ontem por estas horas. O seu nome aparece e tento ignorar a sensação de pânico que se instala na minha garganta. Estava tudo bem quando me entregou o estojo, não me pareceu alterado. Bem, tirando a parte em que se apercebeu que eu tenho um certo receio quanto à sua pessoa. Não me pareceu estar com uma rapariga, talvez se tivesse encontrado com ela depois. Dizem que ambos estão bem mas que deverão apenas voltar ás aulas nas próximos duas semanas. Ferimentos ligeiros é o conjunto de palavras que me assegura que tudo ficará bem e passo a ignorar o jornal novamente.

Fecho o computador. Empurro-o para longe. Não existem novas chamadas no meu telemóvel. Não existe nada para fazer hoje. Volto ao meu caderno cheio de páginas de desenho limpas. Começo um novo desenho. Não sei de onde surge mas surge. Assim, desfaço a minha imaginação quando repenso e tento desenhar a mesma coisa três vezes. À quarta consigo, à quarta finalmente chego lá.

A minha prima entra no alpendre passadas algumas horas. Sorri-me, olha-me e deixo que o faça. Quando desvio o meu olhar do desenho para ela o seu sorriso foi-se e uma certa confusão estampa-se na sua face.

- O teu desenho...

Viro a minha face e vejo o que desenhei. Um rapaz com uma certa cara de desilusão está a andar para trás enquanto uma rapariga, da qual não desenhei uma grande parte está a sua frente.

- Não é nada. - Fecho o caderno.

- Parece-me um rapaz. – Ela tenta pegar no meu caderno mas não o permito

- Eu disse que não era nada. Não é nada. – Digo mais firme e ela afirma com a sua cabeça, largando o caderno nas minhas mãos. Ela entra em casa e não diz mais do que um hum antes de desaparecer entre a cozinha e a sala.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2019 ⏰

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