Capítulo 1

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Atualmente

— Que merda deu Las Vegas? — Perguntei para o capo sentado à minha frente que me olhava com alívio, parecia ter certeza que os problemas haviam sido resolvidos.

Ivo Barkov era um dos mais novos da organização, com apenas dezenove anos. Assumiu assim como eu, o lugar do seu pai que havia morrido recentemente pelas mãos da máfia japonesa, um homem extremamente competente e que causou extrema revolta de todos os membros e consequentemente, juras de vingança do filho que insistia em honrar a dignidade de seu pai.

— Nos chamam de malditos, acredita Don? — Respondeu a pergunta, fazendo outra divertidamente. Levou a boca no copo de uísque que estava sua mão e cruzou as pernas, dando um breve sorriso. — Vi um pouco da cultura deles, gostaria de ter um caderno da morte, como em um anime que não me lembro, facilitaria o trabalho. — Concluiu sem expressão nenhuma no rosto, apesar do tom de sua voz ser de humor.

— Está negando o divertimento que é seu trabalho, companheiro? — Falei em tom de voz calmo enquanto soltava a fumaça do cigarro que estava entre meus dedos.

— Jamais, Volkov. Apenas seria interessante poder matar todos os inimigos à distância, não concorda? — Disse novamente, persuadindo.

Assenti com a cabeça, concordando com a pergunta do jovem mafioso.

Todas as pessoas dentro da máfia haviam aprendido da pior forma a crescerem, serem homens fiéis e dispostos a tudo pela organização. Eu estava ciente de todo o treinamento, por experiência própria, mesmo que todos acreditassem que a cadeira onde estava sentada tinha sido dada por só fator de sangue.

— Gostei de saber que o problema foi resolvido. Principalmente, que chutou a bunda daqueles miseráveis. — Mudei de assunto e também de atenção, dirigindo os olhos para a tela do computador.

— É minha obrigação. — Respondeu seriamente e depois sorriu com a expressão usada, encarando o líquido no copo.

— Ainda bem que sabe, caso o contrário, estaria morto agora. — Falei rígida, movendo os olhos novamente para o rapaz. — Olhe para mim, sempre olhe nos olhos de seus companheiros enquanto eles falam. Você não acha que essa é a melhor forma de mostrar confiança, Ivo? Ou está com medo de encarar meus olhos? — Perguntei em tom de ameaça, colocando os cotovelos sob a mesa enquanto cruzava os dedos.

— Atena, não tente me intimidar, sou tão fiel quanto você é a nós, espero. — Avisou relaxado. — Mas realmente, tenho mais assuntos a tratar. — Colocou o copo sob a mesa e deslocou toda sua atenção a mim. — Nós conseguimos fazer negócios com os traficantes locais e empresários de vários ramos, porém, maior parte do lucro foi roubado. Nós conseguimos apenas 70% do lucro e alguns mortos.

— Merda! — Falei, erguendo-me e batendo na mesa com as mãos, com raiva do acontecido. Joguei o cigarro pela janela e andei pelo cômodo, massageando com uma das mãos as têmporas. — Como você pôde deixar aqueles merdas nos atacarem? Droga! Sabe o que está em jogo?!

— Nossa honra. — Respondeu em um tom sério, sem mover um dedo.

— Olha só... — Aproximei-me do rapaz que se levantou e apontei um dedo para seu rosto em forma de ameaça. — Resolva essa merda que você criou, nós não vamos perder para um monte de olhos puxados, você entendeu?!

O garoto suspirou e assentiu com a cabeça, concordando. Bebeu mais um copo de uísque e saiu da sala, afirmando que cuidaria de tudo e ainda mataria mais vinte cabeças para vingar o nosso nome. Voltei minha atenção para papéis e informes em cima da mesa. Quando descobri sobre a máfia, imaginei que fosse a luxuria a qual o cinema mostrava, entretanto, o trabalho excessivo me consumiu a cada dia mais. Passaram-se quatro anos desde que fiz o pacto. Como todo chefe, eu teria um konsul'tant (conselheiro) e um tipo de vitse-don (vice-chefe). Yakov Kotov se apresentou no segundo dia, mesmo após ter me acompanhado na cerimônia. Explicou-me os principais negócios da família e participou de inúmeras reuniões como subchefe, rosnando para diversos capos que tentavam passar por cima de minhas ordens. Diferente de seu irmão, o subchefe que deveria ter assumido, que informou estar ocupado resolvendo algo extremamente importante e avisou que após a conclusão da missão, voltaria para o posto.

— Atena. — Cumprimentou Yakov, após dar duas batidas na porta e entrar, como de costume. Ele era um homem alto, forte e de olhos castanhos escuros. Seu tom de cabelo era da mesma cor e era extremamente bonito. Sem qualquer rodeio, posicionou-se atrás da porta e desviou seus olhos para vista de uma bela igreja por trás da grande janela aberta antes de começar. — Eu sei que é repentino — Pausou, voltando o olhar para mim. — E não julgo qualquer questionamento sobre isso — Fez silêncio por um momento antes de voltar a falar. — Meu irmão voltou, provavelmente, irá vir ao seu encontro ainda hoje. Eu achei que devesse avisar para não ser pega de surpresa.

— Isso é sério? — Tentei confirmar, após acender e tragar o cigarro mais de uma vez.

— Não perderia meu tempo para avisar se não fosse. — Abaixou sua cabeça, sabia que a presença do irmão mudaria o rumo das coisas.

— Ótimo. — Concordei, preocupando-me em receber o homem após tanto tempo.

Mesmo sendo o principal homem de meu pai, desconfiei de suas intenções após anos separado da máfia. Yakov saiu após a concordância, dando um sorriso de canto como se desejasse "boa sorte". Desviei minha atenção novamente para os papéis e o dia se passou rapidamente, dando o lugar para noite. Antes que saísse da sala, fui interrompida pelo som de batidas na porta.

— Senhora Volkov, vitse-don deseja ser recebido. — Um soldado anunciou após bater duas vezes e abrir a porta da sala.

Depois de anos, eu iria conhecer o homem que trabalharia comigo pelo resto dos meus dias.

Depois de tantos anos de um sumiço inexplicável.

Assenti para que ele entrasse e passei a mão pelos cabelos, colocando alguns fios para trás. Abaixei a barra da saia preta e posteriormente, ajeitei-me na cadeira para receber o homem que resolveria os problemas mais internos da organização, dando-me algum tempo para dormir ou até mesmo, ler alguns livros.

Mikhail Kotov

Ao entrar na sala, vi uma jovem extremamente bonita sentada na cadeira do Don, estava de pernas cruzadas, em posição de extrema elegância e poder. Fazia muito tempo desde que parti em busca de pistas. Passei meses investigando sem que nem a própria organização soubesse, já que daria em uma guerra desnecessária a descoberta da real causa da morte do chefe e, além disso, só precisava matar um homem, uma família. Vingá-lo era o que mais queria, já que nossa relação era muito além de trabalho, era de como de pai e filho.

Ela havia se tornado uma grande mulher, sem dúvidas.

Quando, na reunião antes de ir embora, aconselhei a aceitarem no cargo, não sabia que seria uma mulher tão determinada a isso. Na verdade, arrependi-me depois por tê-la condenado aos julgamentos inúteis dos homens daquele lugar.

Prostituta ou dona de casa.

Para eles, só havia essas duas escolhas quando se referiam às mulheres. Por isso, uma discussão generalizada aconteceu na reunião antes de sua posse.

— Nunca! Kotov, nunca uma mulher irá comandar alguma coisa nessa casa! Ela pode ser o que for, filha de Volkov ou até de Deus, mas nunca irei me rebaixar para uma mulher! — Vissarion repetia junto com ofensas em outros idiomas e comentários de homens que o apoiavam.

— Você não manda em nada nessa porra! Não está satisfeito?! Pegue a porra da sua bunda e saia! Atena vai assumir como a tradição, Yakov estará ao seu lado e qualquer um que colocar mesmo que a ponta do seu nariz nisso, está morto. Nikolai morreu e ela é a única herdeira, sejam justos, porra! — Falei agressivamente, tendo meu irmão segurando meus ombros para que não fosse agredir o homem à frente.

Aproximei-me da mesa com as mãos no bolso, lembrando o caos que foi para aceitarem sua condição de herdeira da cadeira da máfia. Olhei fixamente a mulher de cabelos castanhos claros e íris azuis da cor do oceano e recordei as sensações insaciáveis que me causava, embora não lembrasse, até parar na borda e para poder fazer as apresentações necessárias.

— Mikhail Kotov, ao seu dispor.

O Perigo FascinaOnde histórias criam vida. Descubra agora