Faz um tempo desde que ela partiu. Sinto tanta falta dela. Do seu sorriso doce, do seu perfume suave, de suas carícias, pena que ela não suportou a dor e então se suicidou.
Largado agora nessa poltrona velha, roupa suja, olhos inchados pelas lágrimas que derramei e esperando o veneno que ingeri fazer efeito, lembro-me de tristes momentos.FlashBack on
- Tá tudo bem com você Paula? - perguntei quando a vi deixar uma lágrima cair - Você mudou muito desde o seu último aniversário. O que está acontecendo?
- Você não entenderia. - ela respondeu triste.
- Talvez eu não entenda, mas se me contar o que está havendo, talvez eu possa te ajudar. - segurei suas mãos.
- Não você não pode me ajudar! - ela explodiu - Você não pode preencher esse vazio que sinto no peito, não pode arrancar de mim essa dor, não pode me trazer de volta a felicidade, não pode apagar o meu passado, não pode me ajudar!
- Eu... não sabia. - um choque de realidade.
- Claro que não, você não me dá a devida atenção, mas a culpa não é sua, eu é que não a mereço. - ela chorava - Por favor me deixa sozinha.
- Mas... - fui interrompido.
- Por favor Ulísses. - ela implorou.
- Tá. - dei um beijo em sua testa e saí.Saí de sua casa em choque, aquelas palavras ditas por ela ecoavam em minha cabeça dolorosamente, como flechas que te acertam o peito sem você prever.
Depois daquela noite passamos a nos ver menos, não pela minha vontade, mas porque a Paula insistia em querer ficar sozinha. Ela estava muito mudada. Já não saia mais de casa como antes, apegou-se a lugares escuros, andava sempre triste, cada vez mais eu me sentia culpado pela sua dor, fui negligente com ela, não a dei atenção.
Dois meses depois, após acontecer toda aquela revelação, chegou o seu aniversário. Ela faria 20 anos. Decidi então te fazer uma surpresa. Ao lado da minha casa havia uma confeitaria, então passei lá comprei um bolo e uns docinhos e fui para a sua casa. Como a Paula não gostava de socializar, comemoraríamos só nós dois mesmo.
Cheguei em sua casa e toquei a campainha. Toquei uma, duas, três, quatro vezes, mas ninguém atendeu. Vi que a porta estava aberta então entrei.- Paula você tá aí? - perguntei, mas não ouví resposta.
Subi então até seu quarto. Encontrei-a sobre a cama toda suja de sangue, pescoço e pulsos cortados, em sua mão uma carta:
" A depressão me engoliu, desculpa Ulísses, não consegui suportar. Te amo x__x ".
- Paula pelo amor de Deus acorda, Paula eu preciso de você, por favor não me deixa! - era tarde demais, já não havia pulsação em seu corpo.
Comuniquei seus pais sobre sua morte, mas da parte deles não houve lamentação, senão um "Sinto muito!".
Encarreguei-me de dar a ela um enterro digno, ao lado de sua avó, como ela sempre quis.
FlashBack offAgora, oito meses depois de sua morte, eu ainda me sinto culpado, agora mais, porque ela morreu.
Escrevo então essa carta na intenção de amenizar essa dor da culpa que sinto no peito, talvez seja remorso por nunca ter dito o quanto eu a amava.