Menina Depressão 2

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Mário durante a sua adolescência foi diagnosticado com Transtorno Bipolar, Transtorno de Ansiedade e também Depressão. Seus pais observaram que ele estava agindo de forma estranha, havia desânimo em suas ações, se recusava a socializar, se irritava facilmente, estava sempre cansado e sem apetite, agia com inquietação, eles então decidiram levá-lo a um psicólogo. Depois de dois meses indo diariamente ao psicólogo ele recebeu o diagnóstico.

Mesmo depois de saber que o filho tinha problemas, o pai de Mário continuava tratando ele com desdém.

 - Mário levanta dessa cama, você não pode passar o dia inteiro aí! - seu pai gritou - A partir de amanhã eu não quero ver você nessa cama, vai lavar roupa, arrumar a casa, mas eu não quero te ver aí! Tá me ouvindo Mário?!
- Tô pai! - Mário respondeu irritado.
- Deixa o garoto, não vê que hoje ele passou o dia todo no Colégio? - sua mãe retrucou.
- Eu sei, mas amanhã você manda esse garoto fazer alguma coisa, ficar deitado não vai ajudar em nada. E também não deixa ele assistir mais essa novelas, são demoníacas. - seu pai advertiu sua mãe.
- Mas ele quase não assiste! - seus pais discutiam no outro quarto.

Mário já estava cansado de viver assim, ele era sempre incompreendido fosse por quem fosse, nem mesmo o psicólogo conseguia entendé-lo. Os seus sentimentos iam muito além do que os que a depressão causava.

Durante um tempo Mário se tornou muito sentimental e sempre que precisava conversar ou até mesmo desabafar ele procurava Damian, o seu melhor amigo. Os dois conversavam sobre todo tipo de assunto. Em uma tarde de Segunda-Feira o pai de Mário leu uma conversa que ele teve com Damian:
"Sinto falta do teu carinho, dos seus conselhos e das vezes em que jogávamos juntos..." E pensou que o filho era gay.

- Mário eu já te disse para parar de falar com esse garoto, você faz isso só para me provocar não é mesmo?! Seu desgraçado safado! - ele puxou os cabelos de Mário e o agrediu.

Doía saber que se Mário fosse gay, como o pai pensava, ele seria tratado assim, com tanta indiferença e desdém.
Algum tempo depois de Mário fingir estar tudo bem, aconteceu outra briga:

- Essa noite vamos à Igreja. - seu pai comentou.
- Eu não quero ir. - Mário o contrariou.
- Mas vai assim mesmo! Sou seu pai e você tem que me obedecer! - seu pai gritou.
- Você não pode fazer isso! Olha para mim, olha meus pulsos, vê essas marcas? É culpa de vocês, é culpa sua pai. Nunca tentaram saber o que se passa comigo, só sabem gritar e me julgar. Noites em que chorei calado porque senti falta do amor de vocês. Vezes em que me senti sozinho mesmo estando com gente ao meu redor. Me chamam de louco, dizem que isso é demônio no corpo isso machuca sabia?! Dói na alma saber que só porque o seu pai acha que você é gay ele te agride e te xinga. Eu nunca fiz questão de estar aqui, então porque continuar a existir?! - Mário desabafou a dor, abriu a porta de casa e saiu correndo.
- Viu Adriano o que você fez com ele?! Para de ser egoísta e tenta pelo menos uma vez na vida compreendê-lo. Você chega do trabalho estressado e desconta tudo no garoto. Ele não tem culpa de ter depressão. - ela saiu a procura do filho.

Mário corria apressado sem se importar com as buzinas e também com os gritos dizendo para que ele saísse do meio da rua. Ele chegou então em uma praça escura onde sentou-se em um banco velho. O garoto chorava muito.

- Tá... tudo bem? - uma moça de olhos e cabelos negros perguntou.
- Tá sim. Tá tudo bem sim. - ele enxugou as lágrimas.
- Eu sei que não está tudo bem, mas se não quiser me contar não precisa. - ela sentou-se ao lado dele.
- Talvez você não entenda, mas... eu me sinto muito sozinho, até gosto dessa sensação, mas meu pai insiste em dizer que esse gosto pela solidão é demônio no corpo. Ele grita comigo porque quer que eu vá à Igreja, acha que sou gay e por isso quer que eu seja evangélico. Tenho depressão, sou bipolar e só o que consigo fazer é pensar no passado.
- Talvez eu não te  compreenda, mas também tenho depressão, já me acostumei com ela, porém vez outra tenho recaídas. - ela o acariciou - À propósito, eu me chamo Agnes.
- Sou Mário. - apertaram as mãos.

Eles conversaram bastante, até ela dizer que usava a automutilação como forma de aliviar a sua dor emocional. Além de terem gostos comuns, como música sad, os dois também tinham depressão e também se automutilavam.
Já se passava da meia-noite quando Mário voltou para casa. Sua mãe parecia bem preocupada, já seu pai, disse apenas que ele era um inconsequente  irresponsável.
Mário não conseguia tirar aquela garota da cabeça, para ele ela era tão... linda e especial.
Na manhã seguinte Mário foi para a escola. O seu dia correu normalmente, todos perguntaram como ele estava apenas por curiosidade, porém quando ele saiu da escola teve uma surpresa:

- Oi! - era ela.
- Oi, mas o que você faz aqui? - ele parecia surpreso.
- Hoje pela manhã eu vi você vindo para essa escola, então deduzi que estudasse aqui. Vim ver você.

Daquele dia em diante aquela amizade só cresceu, à vista de Mário Agnes era uma boa amiga e fazia bem para ele, mas para sua mãe, aquela garota estava o matando aos poucos.

- Não quero mais você andando com aquela garota. - eles estavam jantando.
- Como assim? - Mário estranhou a reação de sua mãe.
- Ela não me parece uma boa pessoa. É estranha, só usa preto e tem um ar meio sombrio, não gosto dela. - seu pai apenas assistia aquele iniciar de briga.
- Quer dizer que só porque ela parece "estranha" e gosta de usar preto não é boa influência para mim? - Mário ironizou o seu tom de voz.
- Filho eu só quero o seu bem... - ela foi interrompida.
- Onde estava esse querer quando a senhora me espancou porque eu te contrariei e te disse "NÃO"? - ele alterou o seu tom de voz.
- Você me respondeu! - ela gritou.
- E você educa seu filho espancando ele?! - Mário deixou uma lágrima cair.
- Não é essa a questão! - ela bateu na mesa.
- Quer saber, fodam- se! - ele correu até seu quarto.
- Mário volta aqui! Mário! - ela gritou, mas foi em vão.

Ele chorava de tristeza porque a cada dia que se passava via a sua estrutura familiar desmoronar, e isso o destruía.

Dois meses se passaram e sua amizade com Agnes continuava forte. Mário descobriu que o seu avô havia falecido de câncer e seus pais se preparavam para ir a seu enterro.

- Mário estamos indo, tem certeza de que não quer ir com a gente? - sua mãe colocava o véu.
- Tenho sim. - sua visão continuava fixa na TV.
- Às vezes te acho insensível. - seus pais logo saíram.

Mário foi até o seu quarto para chorar. Ele sempre sorria e fingia estar bem, mas quando ficava sozinho desabava em lágrimas, ele já não suportava a dor que todas aquelas lembranças ruins causava, elas o assombrava. Saber que todas aquelas cenas e momentos bonitos idealizadas por ele nunca existiu e nunca iriam existir, o matava a cada dia, uma dor que só crescia.
De repente a campainha toca.

- Mãe deve ter esquecido as chaves. - foi tirado de seus pensamentos pelo som da companhia.
- Oi. - era ela. A presença daquela garota trazia conforto a Mário. Ele a abraçou bem forte.
- Eu já não aguento mais, a cada dia que passa essa dor no peito aumenta, eu me sinto um fracassado, minha cabeça pesa, eu estou cansado de imaginar cenas boas sabendo que elas nunca vão existir! - ele chorava - Eu quero morrer, mas eu tenho medo de que possa doer.
- Como assim? - ela lhe perguntou.
- Tentei cortar várias vezes a veia, mas não foi fundo suficiente, tomei muitos remédios, mas não surtiram efeito. - ele soluçava.
- Você já tentou usar uma arma? - a frieza com que aquelas palavras foram ditas o assombraram.
- Co... como assim? - ele afastou-se dela.
- Apenas um tiro na cabeça e você morre. - outra vez uma frieza assombrosa.
- E se doer? - sua voz saiu trêmula.
- Em 3 segundos você morre. - ele fitou uma rosa que estava sobre a mesinha de centro enquanto pensava na possibilidade disso acontecer.

Depois de devanear, ele voltou seus olhos para a garota, mas ela já não estava mais lá.
Os seus pais passariam a noite na casa de sua tia, então ele ficaria sozinho em casa.
"E se for verdade? E se a arma for a minha única saída? Não dá mais para sofrer assim, hoje nesse meu sofrimento eu vou pôr um fim." - Mário pensou.

Mário foi até o quarto de seus pais pegou uma arma e um pincel que estava na última gaveta do criado-mudo. O seu pai já foi policial um dia. Então ele escreveu na parede:
"A depressão passou aqui."

Ele posicionou a arma sobre a cabeça e...

- Adeus - atirou.

Do lado de fora Agnes ouviu o tiro, sorriu satisfeita e se perdeu na escuridão daquela noite. Mais uma vítima da depressão.

Contos SuicidasOnde histórias criam vida. Descubra agora