Já era noite outra vez quando eu acordei, jogando o corpo para fora da placa de madeira para vomitar qualquer coisa que estivesse em meu organismo. Fui atingida por dor e tontura, antes de duas mãos me segurarem, e a voz da mulher que estava cuidando de mim falou coisas que eu não entendia em um tom reprovador.
Percebi, naquele rápido movimento, que a placa não estava em contado direito com o chão. Havia um suporte de madeira suportando uma superfície acolchoada onde a placa havia sido colocada sobre. Parecia mais confortável que aquela placa dura, pensei, quando a mulher negra me colocava deitada de novo.
Eu sentia vontade de brigar comigo mesma. Eu deveria agradecer por estar viva, ao invés de pensar em qualquer conforto. Do que adiantaria, quando eu mal sabia o que aquelas pessoas que diziam ter me salvado fariam comigo.
Alguém seria capaz de ser tão cruel, a ponto de tirar alguém da morte e cuidar de sua saúde antes de fazer algo pior? Eu queria dizer a mim mesma que não, mas eu não era tola – o mundo tinha milhares de anos de história para provar que sim, pessoas eram capazes disso e de coisas piores.
-Bruxa maldita – grunhiu a mulher, enquanto limpava minha boca e me entregava um pote com água – Enxague a boca.
A água estava fria, mas não foi à temperatura que deixou a sensação gelada na minha boca. Havia outras coisas ali, talvez menta ou hortelã. O cheiro era de limão, e tinha algo adocicado no fundo. Cuspi de volta do mesmo pote. Ela tirou das minhas mãos, pegando um balde e limpando o chão.
-Mesmo quando crianças, ela sempre gostou de coisas que pudessem machucar os outros – a mulher grunhiu, parecia estar falando sozinha e não comigo, então apenas segui deitada, ignorando o cheiro do meu próprio vomito. Fechei os olhos, me concentrado apenas em não vomitar outra vez. Eu duvidava que meu corpo tivesse qualquer coisa para vomitar – As cinzas de minha avó devem até hoje se arrepender de ter ensinado qualquer coisa aquela...
-Está tudo bem aqui? – uma segunda voz de mulher perguntou. Abri os olhos, olhando para a entrada da cabana.
Ela era a mulher mais alta que eu já vira, talvez a pessoa mais alta que eu já vira. E tão fina, ombros e quadris estreitos, braços e pernas longos, e um rosto quase pontudo, com um nariz igualmente pequeno. O pescoço parecia fino demais para suportar o peso dos cabelos longos e encaracolados, que batiam nos joelhos dela.
A pele dela era quente, não cinzenta como da mulher que me cuidava ou azulada como a de Kambami. Era mais como a de Nisha, chocolate derretido, como se tivesse absorvido um pouco de fogo dentro de si e ele a iluminasse de dentro para fora em nuances avermelhadas.
-Olá, Senhorita – ela sorriu para mim, quando viu que eu a encarava.
-O... – tentei responder, mas minha garganta me traiu. Como eu podia ter gritado tanto, ao ponto de deixa-la naquele estado, e não lembrar?
-Não fale, deve estar melhor em um ou dois dias e então poderemos conversar – ela ergueu uma mão, olhando para a mulher cinzenta – Cléo?
-É o mesmo veneno de sempre – a mulher, Cléo, respondeu – Roxanna não tem com quem aprender nada novo, isso eu posso garantir. Não é o Dragão que vai conseguir livros como estes para ela.
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O Que o Espelho Diz - A Rainha da Beleza Livro II [NÃO REVISADO]
RomanceCapa Atual: Foto de Alice Alinari, instagram: alice_alinari A Rainha da Beleza: O que o Espelho Diz. Bethany nunca quis ir para Paris. Mesmo em seus sonhos mais altos. Ela nunca quis conhecer o palácio, o príncipe e muito diferente das garotas da ci...