Casaco Verde

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Eu descobri que meus pais tinham morrido há quase dois dias. Eles morreram em casa, inalação de gás. Eu já não morava mais com eles e tudo aconteceu durante a minha viagem conhecendo a Europa. Larguei tudo e voltei.

Mas já era tarde.

Minha mãe estava viva, mas as chances de acorda do coma eram inexistentes. Então, horas depois de dar entrada no hospital, Renne Swan, minha mãe, teve os aparelhos desligados com a minha aprovação.

Recebi a herança deles, mas tudo foi para resolver pendências do velório, contas em aberto e depois só tive que vender a casa e os carros. Era muito dinheiro, eu poderia deixar de trabalhar por um tempo se quisesse. Mas eu não queria nada daquilo. Eu tinha perdido tudo, e mesmo tendo todo aquele dinheiro, eu não tinha nada.

Deixei as joias da família num cofre e enviei a chave para o meu advogado. Escrevi uma carta para os meus amigos, deixei tudo perfeito e até organizei meu velório. Algo simples.

Peguei uma garrafa de uísque, da coleção do meu pai, vesti um lindo vestido verde azulado e andei descalça pela praia. Terminei de beber e coloquei uma carta protegida por um saco dentro da garrafa. AS COISAS QUE EU NUNCA PODEREI CUMPRIR, esse era o título da minha lista.

Entrei no mar.

Eu nunca aprendi a nadar.

A água gelada me balançava e todo o meu corpo gritava para que eu deixasse aquela ideia. Joguei a garrafa o mais longe que pude e depois continuei caminhando para o fundo.

Estava quase amanhecendo e nada poderia me parar. Ninguém estava ali. O medo tomou conta do meu corpo. O que eu estava fazendo? Olhei para trás e notei um carro estacionando. Voltei a caminhar e tropecei caindo na parte que meus pés não alcançavam mais.

Eu até tentei subir para a superfície, meu corpo e mente ainda tentando me tirar daquilo. Tudo tem um propósito, mas eu não tinha mais nenhum. Parei de tentar subir, me impedi de gritar e deixei a água me abraçar e me levar da vida.

Tudo mudou quando senti uma mão puxar meu braço. Eu já estava sufocando e aquele corpo me fez boiar novamente. Tossi quando estava respirando de novo, mas meu nariz arde, meus olhos estão pesados e sinto meu corpo dormente.

Sou puxada para a praia.

Meus pés tocam o chão de novo.

Me ajoelho e começo a cuspir toda água que engoli. Minhas mãos se enchem de areia. Seguro a minha barriga dolorida. Começo a chorar. Sou tão idiota. Nem para morrer eu consigo fazer algo preciso. Não salvei quem eu amava e não podia me juntar a eles.

Sinto um calor sobre os meus ombros. Percebo que estou tremendo agora. Meus soluços ficam mais alto e minha cabeça deita sobre uma camisa molhada quando sou abraçada por um homem. Esse que me salvou da morte.

— Tudo bem, você está a salvo. - Escuto sua voz. É macia e está arfante. Ele acaricia o meu cabelo e mantem o casaco verde sobre mim. Meu choro se intensificou. - Eu me chamo Edward e você? Está sozinha aqui a essa hora, não deve, os salva-vidas chegam em uma hora.

Me separo dele e o olho nos olhos. Verdes. Intensos. Verdes como os meus. Ele espera a minha resposta. Abaixo a cabeça e percebo que minha pulseira sumiu. A droga da minha pulseira preferida. Mais uma perda.

— Bella. Meu nome é Bella. - Aperto a sua mão.

— Prazer. O que estava fazendo aqui?

Olho para mar. Tão grandioso. Eu teria me perdido nele se Edward deixasse. Choro ao lembrar o motivo de estar ali.

— Eu queria ver o mar uma última vez. - Ele assentiu e me ajudou a levantar. Uma tontura me tomou e ele me levou para o seu carro.

— Você sabe nadar?

GreenOnde histórias criam vida. Descubra agora