Capítulo quinze: Até logo.

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Eu sempre odiei despedidas.

Quando eu era pequeno, evitava falar "tchau" a todos meus colegas de classe na hora da saída do colégio, evitava falar "tchau" para os meus pais quando eles iam trabalhar, e evitava falar "tchau" aos meus avós quando eles vinham me visitar em Seul. Eu sempre trocava a despedida pelo "te vejo mais tarde" ou "até mais", porque temia que se me despedisse agora, eles nunca fossem voltar para casa.

Agora crescido, desejei ter dito adeus na hora certa. Na noite em que meus pais viajaram, por um descuido, eu disse "ok, tchau", e talvez tudo isso tenha sido culpa minha por ser tão descuidado. Mas não posso evitar lembrar que eles estão em paz agora, e que eu sou apenas mais um adulto.

Ter que dizer adeus a alguém que você ama ou amou, é simplesmente horrível. Alguém que cuidou de você, que te acolheu quando você estava sozinho e desamparado, é com toda a certeza, a coisa que eu mais odeio.

Dessa vez, no cemitério, não estava chovendo, muito pelo contrário, o céu estava limpo, azul e sem qualquer vestígio de nuvens. Era agradável demais para um evento tão triste e fúnebre. Sequei as lágrimas que insistiam em cair, me lembrando de cada momento que tivemos juntos. Doía. Doía muito.

Era como perder alguém da família, e olha que eu já passei por isso antes.

Os meninos vieram para o velório, estavam todos ali, fitando o caixão fechado. E eu nem tive tempo de dizer "adeus".

— Nós sentimos muito... – Hoseok sussurrou para mim, e deu tapinhas em minhas costas.

O padre fez a oração, contando a todos como ela havia sido uma boa pessoa, como a doença tomou conta de si tão rapidamente, enquanto eu abraçava JungKook assim como ela havia feito comigo, o confortando.

— Eu também sinto.

A senhora Jeon partiu no fim do mês de agosto, quando o Alzheimer se agravou até levar à sua morte.

Quando fomos ver Yoongi, recebi uma chamada dizendo que a senhora também estava na UTI e uma enfermeira disse: "Eu sinto muito, mas talvez não passe de hoje". Eu não queria que o seu neto ouvisse aquilo, mas ele ouviu, e em um piscar de olhos as lágrimas molharam suas feições delicadas.

Durante a semana, eu observei o comportamento dele, e era como se eu estivesse tendo um dejavú, eu já havia vivido isso, e eu nunca quis que ele passasse por essa situação.

Era tão difícil vê-lo sofrendo, agarrando as fotos antigas que tinha com sua avó e se preocupando mais em chorar o dia todo do que comer ou dormir, e o que eu mais queria era poder fazer alguma coisa, mas ele não queria minha ajuda, e não era como se eu pudesse realmente o ajudar.

Então quando ele dormia, eu o abraçava, sentindo seu corpo tremer em meus braços e o acalmando por mais um pesadelo, porque era isso que estava ao meu alcance no momento.

Eu só queria que tudo isso passasse logo, embora soubesse que não iria passar de repente e a tendência era piorar.

Quando fomos esvaziar sua casa, eu também não queria que ele viesse comigo, mas ele insistiu, e eu não podia pará-lo nem se quisesse, porque eu não conseguia, sabia que era errado privá-lo de ver as coisas da sua avó, de entrar em sua casa e sentir aquele conforto novamente. Conforto esse que todos sentiam ao adentrar o lugar, ela sempre foi muito querida na vizinhança.

A casa continuava do jeito que ela havia deixado, o mesmo papel de parede florido e meio amarelado por ser antigo, os quadros pendurados, e os móveis velhos nos mesmos lugares. Coloquei as coisas na caixa com cuidado, fizemos isso o dia inteiro, e só fomos acabar na tarde do dia seguinte.

366 Dias | jikook [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora