Capítulo 14

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Luanda e Bronson cavalgavam lado a lado, noite adentro, galopando pelas estradas escuras que saíam de Silésia em direção ao Leste, para as Highlands. Luanda nunca pensou que ela iria encontrar-se voltando nessa direção. No dia em que ela fugiu dos McClouds, ela havia jurado nunca mais voltar, ela havia prometido a si mesma viver e morrer pelo resto de sua vida, no lado dos MacGil.

Mas as coisas tinham mudado muito além do que ela poderia ter previsto. Com seu pai morto e Gwendolyn no poder, a invasão de Andronicus tinha alterado sua vida de uma maneira que ela jamais havia esperado. Era evidente que já não havia mais lugar para ela no lado MacGil do Anel, nenhum lugar que ela pudesse governar, ela não tinha outra saída e estaria obrigada a sujeitar-se a sua irmã mais nova. Gwendolyn não tinha nascido primeiro para que Luanda se sentisse obrigada a responder a ela. Não era justo. Se o reino não fosse dado a ela, então Luanda teria de tomá-lo para si.

Luanda gritava e chutava seu cavalo e eles avançavam mais profundo pela noite, Bronson cavalgava relutantemente ao lado dela, um pouco mais atrás. Ela lembrou-se da discussão que eles tiveram antes de partir de Silésia. Bronson sempre tinha sido tão inocente, tão ingênuo e isso era irônico, levando em conta que o seu pai era um verdadeiro monstro manipulador. Luanda precisava que Bronson a acompanhasse. Então, ela inventou uma mentira e ele havia caído como um patinho. Após aquele encontro desastroso com sua mãe, Luanda havia mentido para Bronson e tinha lhe dito que a ex-rainha havia lhe pedido para intermediar uma trégua e abordar Andronicus com uma oferta de rendição. Sua mãe tinha dito que uma trégua iria poupar as vidas de milhares de homens e aceleraria a partida de Andronicus. E já que Luanda era um membro da família real e ainda não tinha qualquer cargo oficial, ela seria a pessoa ideal para fazer a oferta.

Bronson tinha olhado para ela perplexo, ele não sabia que Luanda podia ser tão altruísta. Ele tinha caído na conversa dela e concordado em acompanhá-la, pensando que seria por uma boa causa. Ele sugeriu que eles fossem acompanhados por um grupo de soldados, mas Luanda tinha se recusado e insistido em que fossem sozinhos. Ela não podia ter nenhum soldado MacGil ao seu redor para evidenciar o que estava prestes a fazer.

Eles cavalgavam em seus cavalos através da passagem estreita das montanhas, a qual levava até as Highlands, e logo subiram até o topo de uma colina, então Luanda viu ao longe, as luzes de milhares de tochas iluminando o que só poderia ser o acampamento de Andronicus. A visão a fez parar. Seu plano era desesperado, ela sabia muito bem, mas uma vez que Luanda formulava um plano, ela se mantinha firme, sem importar o que acontecesse. Ela iria encontrar Andronicus e propor um acordo: ela iria entregar Thor de bandeja e em troca, Andronicus iria fazer dela a rainha de todo o Anel. Era um ótimo trato, ela sabia que ele não recusaria.

Os olhos de Luanda brilharam quando ela chutou seu cavalo e avançou pela encosta da montanha íngreme. Ela começou a descer para o lado McCloud do Anel e dirigiu-se para o acampamento de Andronicus. Bronson ignorava totalmente o plano de Luanda, ele cavalgava ao lado dela ainda pensando que ela estava indo para mediar um acordo de paz para Gwendolyn. Bronson poderia ser muito útil, se Luanda o usasse da maneira certa. Ela sabia que quando Bronson descobrisse tudo, ele ficaria muito chateado, mas aí já seria tarde demais. Ela seria rainha e ele não teria outra escolha senão apoiá-la. No final das contas, o que importava não era como ela chegaria ao trono. Tudo o que importava era que ela se tornaria rainha.

Quando os dois entraram no acampamento do Império, a estrada se estreitou e os levou para o meio do acampamento dos soldados. O ambiente era tenso ali, havia tochas de cada lado deles, os soldados do Império olhavam fixamente para eles. Luanda podia sentir o nervosismo no ar e sabia que aquela seria a parte mais complicada. Ela tinha de convencer os soldados a levá-la até Andronicus.  Além disso, ela teria de ordená-los com toda a autoridade que pudesse expressar, do contrário ela se arriscava a ser capturada pelo inimigo.

"Eu não sei se esta é uma boa ideia." Disse Bronson ao lado dela. Ela podia ouvir o medo em sua voz enquanto ambos se metiam cada vez mais no acampamento do Império.

"Andronicus poderia nos matar, mesmo que lhe oferecêssemos uma oferta de paz. Talvez nós devêssemos regressar."

Luanda ignorou-o e cavalgou avançando ainda mais pelo acampamento abarrotado, em direção ao seu setor mais brilhante. No centro dele, se encontrava a maior tenda de todas, Luanda sabia que a tenda só poderia ser de Andronicus.

De repente, vários oficiais do Império bloquearam seu caminho, forçando seus cavalos a parar. Luanda se virou e viu que eles também estavam sendo barrados por trás.

Luanda encarou os oficiais diante dela e olhou para eles com seu olhar altivo. Afinal, ela era a filha primogênita de um rei e sabia como ostentar sua realeza.

"Levem-nos até Andronicus." Ordenou ela. "Nós trazemos uma oferta de rendição."

Luanda expressou suas palavras de uma forma deliberadamente ambígua, de modo que os soldados não soubessem quem estava fazendo a oferta — e para que Bronson tampouco soubesse.

Os oficiais do Império trocaram olhares confusos entre si e em seguida olharam para ela; Luanda podia ver pelas expressões deles que sua maneira altiva e aristocrática estava funcionando e tomando-os totalmente de surpresa.

Eles finalmente se separaram, pegaram as rédeas dos cavalos deles e os guiaram até uma enorme tenda: a tenda de Andronicus.

Os oficiais forçaram Luanda e Bronson a desmontar e então os conduziram a pé. As tochas ardiam ainda mais ali, a multidão aumentava cada vez mais e uma bandeira ondulava no ar frio da noite; ela estava estampada um enorme emblema: um leão com uma águia em sua boca. O coração de Luanda bateu acelerado quando eles se aproximaram da tenda, ela percebia que agora estava à mercê do Império. Ela rezou para seu esquema funcionasse.

Eles foram barrados a poucos metros de distância da tenda, logo depois as abas da mesma foram abertas e dela saiu a maior e mais cruel criatura sobre duas pernas que Luanda já tinha posto os olhos em cima. Ela viu as cabeças encolhidas em seu colar; viu seus chifres; viu a maneira ameaçadora como ele se erguia e soube de imediato que ele era o Grande Andronicus.

Apesar de si mesma, quando Luanda olhou para ele, ela engasgou. 

Andronicus sorriu para os dois como se eles fossem duas presas indefesas que tinham pousado em seu colo.

Luanda engoliu em seco e de repente ela se perguntou se ir até ali não teria sido uma péssima ideia.

Um Rito de EspadasOnde histórias criam vida. Descubra agora