Capítulo 20

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   Gwendolyn estava em seus aposentos no castelo, olhando pela janela e
observando Thor voar montado em Mycoples. As grandes asas do dragão batiam pelos céus, sua silhueta contrastava com a enorme bola do sol da manhã. As lágrimas escorriam pelo rosto de Gwen enquanto ela tentava respirar de novo e superar um milhão de emoções conflitantes. Ela sentiu-se traída por Thor; por sua revelação; traída ao saber que ele era o filho de Andronicus, a pessoa que ela mais odiava no mundo. Ela se sentiu traída porque ele tinha escondido esse
segredo dela. Ela, mais uma vez, sentia-se traída pelo mundo.

   Por que o destino tinha de ser tão cruel? Por que o pai de Thor, em todo o universo, não poderia ser outro alguém? Por que ele tinha de ser a única pessoa que enchia a mente de Gwendolyn de ódio e desejos de vingança?

   Mas ao mesmo tempo, ela sabia que não era correto ficar chateada com
Thor. Thor não poderia ser culpado por sua linhagem. Thor tinha sido mais do que gentil, amável e atencioso com Gwen e ela estava culpando-o por sua
ascendência. E, claro, Thor tinha uma mãe também, sua linhagem não provinha unicamente de Andronicus.

   Gwen sentia-se envergonhada por ter reagido da forma como ela fez. Ela se
sentia devastada pela culpa e por um sentimento de perda, já que era provável que ela, mesmo que involuntariamente, tivesse contribuído para enviar Thor para longe; para a própria batalha que ela tanto queria impedi-lo de ir.

   Gwen observava enquanto Thor desaparecia no horizonte e sabia que ele seguia seu caminho para enfrentar o pai. Gwen sabia que se Andronicus não se rendesse, Thor o mataria se fosse necessário. Ela sabia que Thor sentia o mesmo ódio que ela sentia por Andronicus. Ela sabia que era contra a lógica ficar chateada com Thor. Pelo contrário, ela deveria ter sido compassiva com ele e mostrar-lhe empatia, afinal, ela tinha certeza de que o próprio Thor estava sofrendo com aquela notícia.

   Ainda assim, o impacto profundo da revelação repercutia dentro dela e não
havia nada que ela pudesse fazer a respeito de sua reação instintiva e de seus sentimentos remanescentes. Gwen estendeu a mão e sentiu seu ventre, a
revelação a atingia a um nível ainda mais profundo: afinal de contas, ela
significava que Gwen estava carregando o neto de Andronicus dentro dela.

   Isso a fez querer chorar e gritar contra o mundo. Aquela criança em seu ventre, a qual ela já amava mais do que podia dizer. Será que ela estava trazendo um monstro ao mundo?

   Não, Thor não era um monstro. Mas Andronicus certamente era e ela sabia
que, às vezes, as características saltavam uma geração.

   Gwendolyn ficou ali, observando um céu vazio. Thor tinha desaparecido da
vista e enquanto ela permanecia ali, sentia uma sensação premente de preocupação com o bem-estar dele, a qual substituía todas as suas outras
emoções. Afinal, Thor estava voando diretamente ao encontro do homem mais perigoso do mundo, aquele era um encontro que ela havia encorajado
involuntariamente. E se ele nunca mais voltasse? Isso pesaria sobre ela para o
resto de seus dias. Ela já se sentia responsável.

   Ela queria inclinar-se para fora da janela e gritar para Thor, gritar para que ele voltasse. Gritar que estava arrependida. Ao mesmo tempo, ela tinha de admitir que havia também uma pequena parte dela que queria que ele voasse e nunca mais voltasse; uma parte dela queria que todos os seus problemas voassem junto com ele. Ela odiava a si mesma por pensar isso; ela não sabia o que sentir nem o que pensar.

   Ela viu uma comoção súbita do outro lado do pátio. Ela olhou para baixo e
ficou confusa com a visão: do outro lado de Silésia surgiu um exército, ele
marchava em direção ao portão Norte. Seus milhares de homens marchavam
lentamente, em perfeita formação. A princípio, Gwen não conseguia entender o que via. As insígnias do exército não eram as do Império. Na verdade, a armadura deles se assemelhava a dos exércitos MacGil. As cores, no entanto, eram bem diferentes: azul e um escarlate profundo, além disso, o estandarte que carregavam tinha o emblema de um lobo solitário.

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