Quando alguém te machuca,
você sente ódio e quando você machuca alguém,
você fica amargo,
mas se sente culpado também.
Conhecer a dor nos ajuda a crescer,
amadurecer e crescer significa ser capaz de pensar e tomar decisões próprias.
Eu tive minha cota de sofrimento por muito tempo. Não gosto muito de lembrar, mas as marcas em meu corpo não me deixam esquecer. Primeiro veio a separação dos meus pais quando eu tinha apenas 6 anos de idade. No ano seguinte à minha mãe se casou novamente com um homem muito mais velho que ela. No início meu padrasto era uma pessoa legal comigo. Me dava doces, presentes e me tratava muito bem, mas aos poucos seu tratamento comigo mudou muito.
Tudo era muito sutil. Primeiro ele não me deixava brincar com nenhuma outra criança ou adulto e me mantinha sempre em casa sob seus olhos. Depois, aos poucos começou a passar aquelas mãos imundas em meu corpo sem que ninguém percebesse e dizia serem brincadeiras, até o dia em que ele e minha mãe beberam demais e ele achou uma brecha para me estuprar pela primeira vez enquanto sua esposa estava dormindo de bebada. Nessa época eu já tinha 10 anos e a partir daí os maus tratos e abusos começaram a ficar piores. O estranho é que ele sempre se dizia apaixonado por mim. Sempre me fazendo várias declarações de amor enquanto eu gritava de dor e pedia para que ele parasse, mas ele não parava, até o dia que tomei coragem e o xinguei e sem pensar eu disse que preferia mil vezes ser estuprado por um grupo de velhos a ser tocado de novo por ele.
Aquele foi o fim para mim. O velhote me largou no chão do quarto com as calças nas mãos e pegou seu telefone celular. Meia hora depois eu estava amarrado sob a minha cama com 5 velhos ao meu redor e seus pintos para fora se esfregando em mim. Depois de horas de tortura eles se foram e eu não conseguia mexer nenhum músculo. Nem respirar eu conseguia. Acordei dois dias depois. Sem que minha mãe soubesse ele cuidou de mim inventando uma doença qualquer e dizendo que ela não podia nem entrar no quarto onde eu estava. Infelizmente ela caiu feito um patinho. Ele me alimentava, banhava e trocava as minhas roupas. O trauma daquele dia foi tão grande que não pude me comunicar por um mês.
No colégio eu sempre me mantinha afastado das outras crianças. Minhas notas até que não eram tão ruins. Era a única hora que eu conseguia pensar em algo diferente daquele velho. Ele estava sempre me ameaçando de formas sutis para que ninguém percebesse. Eu sempre via seguranças escondidos por todas as partes, mas ele sempre dizia que era coisa da minha cabeça.
Um dia eu saí da escola no meio da aula. Não estava me sentindo bem. Na verdade, eu estava atordoado com essa situação e apenas saí andando sem rumo pela cidade. Eu percebi que estava sendo seguido, mas isso não importava mais. Tentei me misturar entre as pessoas. Não demonstrava medo ou qualquer sentimento. Apenas continuei a andar até chegar do outro lado da cidade e de repente eu parei.
Parei de andar e respirei fundo. Já havia passado da hora de eu voltar para casa. Minha mãe devia estar preocupada. Ela era uma boa mãe, mas foi iludida pelas mentiras daquele velho tarado. Respirei fundo algumas vezes e tomei coragem para voltar pra casa, mas de repente senti uma pancada na cabeça e tudo ficou escuro.
A dor de cabeça era grande. Abri os olhos de vagar e vi muitas pessoas ao meu redor, mas uma delas me chamou a atenção. Um rapaz moreno de olhos negros como a noite me olhava preocupado e tentava manter as pessoas afastadas de mim. Eu levantei devagar, mas ele tentava me impedir.
-Não se preocupe. Eu estou bem. Tenho uma cabeça dura. _ Eu disse com um falso sorriso nos lábios.
Eu fiquei um pouco ali sentado, mas não deixei que ninguém encostasse em mim. Ainda não sei porque o segurança não veio antes para ver o que havia acontecido, mas quando eu percebi que ele estava entre a multidão me levantei e passei pelos pedestres para ir embora. O rapaz moreno até tentou me segurar, mas eu não podia ficar ali. Me afastei da multidão o mais rápido que pude até chegar a um ponto de ônibus e subi no primeiro que passou. Sentei no fundo do veículo bem longe de algumas pessoas. Voltei a respirar e sentir a dor de cabeça. Apoiei a mão na testa e a senti molhada. Quando vi minha mão estava suja com uma mistura de terra e sangue. Provavelmente um vaso de flores havia caído de um dos apartamentos daquele prédio e me atingiu em cheio. Só não sei porque ainda continuo vivo.
Naquele dia fiquei mais algum tempo no ônibus. Quando cheguei em casa minha mãe já estava dormindo. Provavelmente o velho havia inventado alguma mentira para ela ou colocado remédios em sua bebida como sempre fazia quando queria se aproveitar de mim. Caminhei até a entrada e percebi que ele foi me receber, mas antes que ele dissesse algo eu já estava no chão. Havia desmaiado. Horas de caminhada sem comer ou beber águas e a perda de sangue pela pancada haviam me deixado exausto. Só me lembro de alguns flashes daquela noite. O velho me carregando até o meu quarto. Partes de um banho e o corpo grande e enrugado sobre o meu. Quando acordei no outro dia eu nem conseguia me mover. Ele havia abusado de mim mais uma vez e aquilo me deixou exasperado.
Passei o dia maquinando o que eu poderia fazer para que aquela tortura parasse. Se eu contasse para alguém o velho poderia matar a minha mãe e até vir atrás de mim, mas eu tinha que fazer alguma coisa. Aquele sofrimento não poderia continuar.
Danzou as vezes entrava em meu quarto para ver como eu estava e eu sempre fingia estar dormindo. Ele passava a mão em meu rosto e sempre descia para meu peito. Aquela carícia já era corriqueira e eu já sabia como me controlar para não pular no pescoço dele. Eu já tentei fazer isso. Várias vezes, mas ele só aparenta ser velho. Na real, ele é muito mais forte até do que os seus seguranças. Ele só tinha segurança para intimidar os outros, mas ele nem precisava.
No final da tarde minha mãe veio me ver junto com Danzou. Ela se assustou com o meu estado e começou a brigar comigo perguntando o que eu havia inventado para estar naquela situação.
-Me desculpa mãe. _ Eu pedi. _ Eu estava passando embaixo de um prédio e um vaso de flores caiu na minha cabeça.
-Isso é verdade? Te levaram para um hospital? _ Ela estava em cima de mim para arrancar a verdade.
-Não. Eu não quis ir. Fiquei preocupado em me atrasar para o jantar. Mas eu estava tonto e me perdi. Só depois que eu entendi o que havia acontecido e que eu estava sangrando. Me lembro apenas de ter conseguido chegar em casa.
Eu ainda estava exausto e cochilei enquanto contava para a minha mãe o que havia acontecido. Eu tinha que contar a verdade para ela, mas não com ele perto. Minha mãe me cobriu e eu abri os olhos novamente pedindo para que ela dormisse comigo naquela noite. Ela aceitou de bom grado, mas seu marido não deve ter gostado nem um pouco, sem contar que aquela foi a primeira noite que dormi sem nenhuma preocupação.
Aos poucos fui me recuperando e alguns dias se passaram. O tempo frio não me agradava, mas para um rapaz de 17 anos poder dormir no tempo frio era a melhor coisa do mundo. Eu estava em meu quarto embrulhado em minhas cobertas até que o marido da minha mãe entrou no recinto.
-Parece que vai ser uma noite chuvosa meu pequeno Naru. Que tal bebermos um pouco? _ Ele me perguntou.
-Ainda não tenho idade para beber. _ Eu estava jogando enquanto o respondia.
-Você tem quase 18. Um pouco não vai fazer mal. _ Ele estava se aproximando aos poucos.
-Porque não chama a minha mãe para beber? Aposto que ela é companhia melhor do que eu. _ Me levantei rápido para ir ao banheiro antes que ele encostasse aqueles dedos nojentos em mim. _ Não estou afim.
-Um adolescente que não quer beber, mesmo com o pai deixando. Isso é novidade. _ Ele retrucou coçando a cabeça.
-Você não é o meu pai e sabe muito bem porque não quero beber. _ Respondi do banheiro.
Nesse momento uma luz havia se acendido em minha cabeça. Eu precisava de ajuda. E precisava o mais rápido possível, antes que eu enlouquecesse com as investidas daquele velho tarado. Voltei para o quarto e me escondi embaixo das cobertas reclamando de frio e dizendo que iria dormir. Danzou parecia cansado de tentar me convencer a beber com ele e se retirou. Sorte a minha que minha mãe ainda estava sóbria. Quando ouvi a porta se fechar eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para o meu pai dizendo que estava com saudades dele. Ele me respondeu em seguida dizendo que também estava e que poderíamos jantar fora.
Um sorriso dominou meus lábios e claro que eu havia aceitado. Sai do meu quarto e fui comunicar a minha mãe e meu padrasto que eu iria jantar fora, mas a notícia não foi muito bem recebida.
-É claro que você não vai. _ Danzou respondeu com os braços cruzados.
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Meu Médico
General FictionFaróis altos e buzinas circulavam pela rodovia. Uma perseguição incansável onde meu pai fugia de meu padrasto para proteger a vida de sua ex esposa e seu filho. Em um último ato de preocupação minha mãe me pediu para que eu colocasse o cinto de segu...