1 - Destinos selados

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Acordo sendo chacoalhado por algo pequeno que não tem força suficiente para me levantar, então estico a mão agarrando os pequenos punhos de minha filha que solta uma gargalhada gostosa e abro meus olhos para ver seus olhos verdes e seus fios loiros que estão em desordem por acabar de acordar.

—Papai já disse para não levantar cedo, não disse? - seu olhar se entristece. Sinto um pesar por fazê-la se reprimir tanto, mas o mundo não é gentil com mulheres e principalmente com garotas humanas, loiras e de olhos verdes, e muito menos se tiverem cinco anos de idade como Charlotte.

—É que estou com fome... - fito o teto a soltando e respiro fundo, ela se deita em meu peitoral e abraça meu pescoço, elevo minhas mãos a abraçando forte, mas não para machucá-la por ser pequena. —Posso ir com você para a padaria? - novamente ela faz a pergunta que nego sem hesitar.

Fecho meus olhos com ela em meus braços e me sento a colocando em meu colo e lembro que desde que minha mulher a teve e morreu no parto, nunca a levei para fora do nosso terreno, por sorte temos um quintal com céu aberto e aquele pedacinho de azul é a única coisa que já viu em sua pequena vida de cinco anos.

O mundo hoje é hostil, e por várias vezes me lembro das aulas de história da escola onde contavam que as mulheres eram livres, perigosas, independentes e muitas delas eram chefes de empresas e mãe solteiras, o que fazia toda a minha classe ficar aterrorizada e me deixava sempre encantado como elas eram fortes e donas de si.

Entretanto, fui castigado por defender a mulher que havia assassinado seu marido pela atrocidade que fez, e fiquei em um calabouço por três dias sem comida e sem água. Depois fui levado de volta a sala e me convenceram que as mulheres eram as vilãs e as terroristas de cada evento catastrófico que existia no mundo, mesmo a história jogando na cara o contrário.

Levanto com ela abraçada em meu pescoço e caminho devagar até nosso pequeno quintal, observo se não havia drones de verificação e saio com ela sentindo o oxigênio adentrar meu pulmão.

—Será que conseguimos ver um passarinho?! - meu comentário faz seu rosto se levantar e o sol a ilumina, sua pele branca reluz e sorrio que o êxito foi alcançado para a vitamina "D" daquele dia. Seu olhar verde se eleva observando o céu e um sorriso se forma quando vemos um pequeno passarinho azul parar em nosso muro.

Ela aponta com seus dedos pequenos e sua felicidade é plena, sinto o vento que passa por nós e seus cabelos voam, me lembrando de minha outra filha mais velha, Juliet. Infelizmente tive que cortar seus fios na altura de suas orelhas, a ensinei a andar, falar e se vestir como homem para que pudesse ir a escola.

Juliet sempre foi cuidadosa e nunca deixou que descobrissem, e por alguma razão ela consegue agir de forma natural, mas houve momentos que ela se escondia em meus braços durante a noite para chorar pelas histórias que aprendia e como as mulheres foram caçadas. "Não quero morrer como elas, pai!" - aquele seu pedido ficou gravado em mim e sinto lágrimas virem com tudo toda vez que minha mente lembra a razão de eu me sacrificar ao escondê-las.

Após o nosso tempo tomando o sol da manhã, voltei para o quarto com um resmungo de Charlotte, mas não me atentei, sua segurança era mais importante. A coloquei no chão e segurei em sua mão, caminhei calmamente pelo corredor até o fim, viramos a direita e descemos a escada de madeira toda pintada de preto com estrelas de branco que foi um pedido de minha mais velha quando ela aprendeu a ler as estrelas. "Quero poder ver o céu, pai!" - concordei e a ajudei.

Fomos para a cozinha ao lado direito, logo puxei a pequena para o banco alto em tom vermelho também pintado por Juliet, mas a razão de eu ter deixado, não me recordo nesse momento. Abro a geladeira me deparando com o leite, e logo peguei a maça de cima do balção. Bati no liquidificador e coloquei em dois copos. Entreguei um para Charlotte que sorri lindamente ao apanha-lo e vira rapidamente.

A Esposa QualificadaOnde histórias criam vida. Descubra agora